• Obra de Carolina Maria de Jesus será editada e publicada

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  • 31/08/2020 12:00

    Sessenta anos depois da publicação original de Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960, pela Francisco Alves), a obra de Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é, enfim, contemplada por uma grande editora brasileira (a Companhia das Letras), cujo projeto – finalmente – prevê o trabalho, até então inédito no mercado editorial, de mergulhar nos textos da escritora e publicar sua obra completa.

    Tratada por uma parte considerável dos pares escritores, pela cobertura midiática e pelos leitores como uma autora exótica, cuja contribuição se resumia à condição de favelada, Carolina deixou em manuscritos centenas de textos, que constroem um conjunto singular de poemas, contos, romances, peças de teatro, letras de músicas, provérbios e entradas de diários, antecipando em décadas o surgimento de vozes literárias diversas e de diferentes origens do tecido social brasileiro.

    O trabalho será coordenado por um conselho editorial, liderado por Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina. “O melhor da Carolina vai aparecer agora”, garante Vera, por telefone, entusiasmada com o trabalho que vem pela frente. “Eu a tenho como minha mãe; mas, como escritora, me pergunto: quem foi essa mulher? Ela teve um ano e meio de estudo, nunca mais entrou numa escola. Mas falava e até brigava com os filhos em versos. Eu andava muito com minha mãe pela cidade e, muitas vezes, ela pegava um papel qualquer, tirava um lápis do bolso e escrevia um poema.”

    O livro Quarto de Despejo tal como existe (publicado há décadas pela editora Ática) não faz parte do projeto por decisão de Vera A edição clássica, feita pelo jornalista Audálio Dantas, por quem Carolina nutriu sentimentos contraditórios de gratidão e angústia durante toda a vida, cortou partes do texto original que o conselho editorial quer revelar agora ao público. É o mesmo caso de Casa de Alvenaria (o primeiro a ser publicado, ainda sem data definida) e de Diário de Bitita, lançado na França em 1977 e depois retraduzido para o português – o original desse livro hoje pertence ao Instituto Moreira Salles, parceiro no projeto de divulgação da obra de Carolina. Outros dois diários também serão publicados, um de viagens e outro “do sítio”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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