O vil metal
A vileza é uma face degradante do ser humano, principalmente quando bem alimentada pela corrosão do vil metal. “O dinheiro faz homens ricos, o conhecimento faz homens sábios e a humildade faz grandes homens”, já afirmara Gandhi. Quando vi as fotos do dinheiro que foi encontrado pela Polícia Federal em um apartamento na Bahia, perguntei-me: – quantos empregos poderiam ser criados com esse dinheiro?
Foram apreendidos R$ 42.643.500,00 e US$ 2.688.000,00 (R$ 8.387.366,40 – na cotação de 1 dólar igual a 3,1203). Somando os dólares com os reais, deu mais de cinquenta e um milhões. A polícia PF levou 14 horas para contar esse dinheiro, usando 7 máquinas. Fatos como esse desmoralizam a classe política.
Lendo as notícias sobre esse episódio, lembrei-me do período de estudante em que discutia a questão da mais valia. O acúmulo de capital parado favorece a proliferação da miséria, porque não cria emprego. A desqualificação da mão de obra se reflete na má remuneração do trabalhador. A ganância do lucro sempre estabelece o seguinte raciocínio: “pagar menos para lucrar mais”. Por isso há a expropriação do valor do trabalho.
A ideia de produzir mais em menos tempo para atender ao consumo leva ao aprimoramento dos meios de produção; exigindo, com isso, uma constante mudança no modo de produzir. E, para não ficar fora do mercado de trabalho, o profissional precisa qualificar-se. Esse investimento nem sempre é possível fazer, quando o que se ganha mal dá para sobreviver: – Louva-se o patrão que investe na qualificação dos seus empregados sem exploração!
Na semana passada, a Receita Federal anunciou o fechamento de um shopping na capital paulista por causa de venda de produtos falsificados. Essa é outra falácia do sistema capitalista: o culto à etiqueta dos produtos de consumo.
Foram apreendidas aproximadamente 800 toneladas de mercadorias irregulares. Calcula-se que o valor da apreensão fique em torno de R$ 300 milhões. Como exibir uma etiqueta famosa original custa caro, os aficionados apelam para as falsificações. Esse comércio paralelo encontra vários consumidores. Os produtos mais “pirateados” são cds, dvds, calçados, bolsas, relógios, cigarros, perfumes, óculos, roupas, artigos esportivos, eletrônicos, brinquedos, até remédios são falsificados. Muitos acham que, para ganhar dinheiro, não há limites éticos nem morais, vendem até a alma em suaves prestações ou parcelada no cartão sem juros.
Gosto do poema “Eu, etiqueta” de Carlos Drummond de Andrade, no qual ele diz ironicamente: “fazem de mim homem-anúncio itinerante, / escravo da matéria anunciada. / Estou, estou na moda. / É duro andar na moda, ainda que a moda/ seja negar minha identidade, / trocá-la por mil, açambarcando/ todas as marcas registradas, /todos os logotipos do mercado.” Ele termina o referido poema com os seguintes versos: “Por me ostentar assim, tão orgulhoso/ de ser não eu, mas artigo industrial,/ peço que meu nome retifiquem./ Já não me convém o título de homem./ Meu nome novo é Coisa./ Eu sou a Coisa, coisamente.”
Nas referidas discussões no período de estudante, quando podia, citava os Atos dos Apóstolos: “E todos que tinham fé viviam unidos, tendo todos os bens em comum. Vendiam as propriedades e os bens e dividiam o dinheiro com todos, segundo a necessidade de cada um. Todos os dias se reuniam, unânimes, no Templo. Partiam o pão nas casas e comiam com alegria e simplicidade de coração. ” (At 2, 44-46).
– A ganância do consumo das “marcas” dificulta a partilha do pão.