• O (velho) drama de Bolsonaro e o nosso

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  • 25/05/2019 12:00

    O título pode parecer estranho aplicado a um presidente com tão poucos meses de governo. Eu me explico. Quando percorremos a história do Brasil no período pós-1985, em que os militares se recolheram aos quarteis, observamos uma constante perversa que foi-se agravando ao longo do tempo. Após Sarney e Collor, veio FHC que conseguiu montar sua base parlamentar com cerca de quatro partidos; Lula precisou de praticamente o dobro; e Dilma ficou mal parada na casa de uma dezena. A constante é o desalinhamento partidário cada vez maior.

    Depois de Temer, foi eleito Bolsonaro que se depara com um Congresso Nacional em que existem 28 partidos com representantes. As cinco maiores legendas (PMDB/MDB, PSDB, PT, PFL/DEM e PPR/PPB/PP) foram perdendo espaço paulatinamente desde 1994/1998, na faixa de 70 a 78% das cadeiras para os atuais, e minguados, 41%. Os partidos não conseguem sequer serem fiéis a suas siglas cujas iniciais mudam ao sabor das traquinagens político-partidárias. O fenômeno reflete a falta de firmeza nos princípios e doutrinas que deveriam  nortear o posicionamento político de cada partido. 

    Bolsonaro está revivendo a triste situação que ocorreu com diversos ex-presidentes. O candidato vence a eleição com uma plataforma política para vê-la desfigurada em seguida porque o seu partido não tem maioria no Congresso. FHC ainda se beneficiou de um período em que uma coligação de poucos partidos permitiu levar adiante o Plano Real, mas não outras medidas igualmente importantes. Lula foi eleito pelo PT e outros partidos de esquerda. Acabou enredado no mensalão para “dialogar” com o congresso y otras cositas más, que liquidaram sua imagem pública, exceto para a turma do “Me engana que eu gosto”. A Dilma quase dispensa comentários. Teve que lidar com uma dezena de partidos para compor sua complicada (PT no meio!) base parlamentar. E acabou dando em impeachment. Temer, embora tenha desenvolvido, de fato, esforços e ações para colocar o País nos eixos, se perdeu no subsolo do Jaburu.

    Então chega a vez de Bolsonaro com uma plataforma que engloba um projeto liberal na economia, conservador nos costumes, e um compromisso de combater sem tréguas a corrupção. Sua seriedade de propósitos se tornou cristalina quando nomeou Paulo Guedes para a Economia e Sergio Moro para a Justiça. Fundamental registrar que essa foi a vontade expressa do povo brasileiro nas eleições de 2018. Fica assim evidente que o sucesso de seu governo depende da manutenção destes dois ministros em seus cargos até o final de seu mandato.

    Mas o clima que se vem formando tem o sabor amargo de desidratar aos poucos a vontade popular no congresso. Em boa medida, pela falta da base parlamentar. Esta sempre habituada ao toma-lá-dá-cá. Não se trata de intransigência de Bolsonaro. A inabilidade do presidente e filhos por vezes atrapalha, mas ele não está equivocado no essencial, que traduz a vontade popular.

    Imagine, caro leitor, por um minuto, que tivéssemos o voto distrital puro, que obriga o parlamentar a consultar seu distrito eleitoral mensalmente. E que ele dissesse no seu distrito eleitoral que estava propondo retirar o COAF do Moro (Justiça) para passar para o Guedes (Economia). Seria comido vivo, não é mesmo?

    Infelizmente nosso sistema eleitoral proporcional é o pior que existe, segundo os cientistas políticos, pois permite ao parlamentar se distanciar de seus eleitores. Prefere vê-los a cada quatro anos para nova enganação. E é assim que acaba por consultar, primeiro que tudo, o próprio umbigo, vale dizer, seu interesse pessoal em se blindar. Isso sem mencionar a capacidade de o STF e tribunais estaduais deixarem corruptos públicos e notórios à solta, como foi o caso de José Dirceu por um longo período. 

    O suprassumo do cinismo foi a rearticulação do Centrão de que participam os seguintes partidos: DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade. Todos como uma ficha policial de dar inveja a José Dirceu. O PP conseguiu a proeza de ter mais deputados implicados no mensalão do que o PT. O Solidariedade é presidido pelo Paulinho da Força, aquele que quer votar contra a Reforma da Previdência porque levaria à reeleição de Bolsonaro. Trata-se de um grupo de partidos nada confiável, com rala capacidade de refletir os reais interesses da população. Esta quer ver o País se desenvolver o quanto antes e corruptos na cadeia. Vamos lá!

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