• O valor da vida

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  • 22/01/2017 09:00

    A cada dia que passa, mais me certifico que a vida está sendo banalizada. O respeito pelo outro está se deteriorando.  Houve um tempo em que mesmo aqueles que optavam pelo lado errado da vida tinham um código de ética, não usavam da covardia para liderar. Ostentavam uma áurea de Robin Hood: davam botijão de gás para uma moradora, pagavam um remédio para outra, separavam briga de marido e mulher, distribuía doces no dia de Cosme e Damião para as crianças, mantinham uma certa harmonia na comunidade. Quando a polícia prendia ou matava o chefe, havia uma comoção geral, as senhoras, como viúvas, choravam. 

    Em 1969, Jorge Ben Jor gravou “Charles Anjo 45”, que narra epicamente a trajetória de um líder influente de uma comunidade. Eis um trecho da letra:

    “Charles, Anjo 45/ Protetor dos fracos/ E dos oprimidos/ Robin Hood dos morros/ Rei da malandragem/ Um homem de verdade/ Com muita coragem/ Só porque um dia/ Charles marcou bobeira/ Foi sem querer tirar férias/ Numa colônia penal…/ Então os malandros otários/ Deitaram na sopa/ E uma tremenda bagunça/ o nosso morro virou/ Pois o morro que era do céu/ Sem o nosso Charles/ Um inferno virou…”

    Na época, havia uma irreverência em torno do termo “marginal”.  O artista plástico Hélio Oiticica, autor da expressão “seja herói, seja marginal”, colocou-a ao lado da foto do corpo de Manoel Moreira, conhecido como Cara de Cavalo, assassinado pela polícia.

    A citada frase gerou polêmica, foi vista como apologia ao crime. Nesse período, surgiu outra, como uma resposta ao que se propagava: “bandido bom é bandido morto”. Com esse pensamento, não há hipótese de ressocialização…

     Robin Hood era um fora da lei. Mas diante das contradições do reino em que vivia, passou a receber o apoio das comunidades oprimidas, porque atuava a favor delas. No cinema, é visível a conduta do público torcendo para que ele seja bem-sucedido em suas aventuras.

    Hoje vivemos um terror. A população do Rio Grande do Norte está em pânico. Além das rebeliões nos presídios, estão queimando ônibus, criando um clima de insegurança. Os vandalismos, os arrastões, além de criarem esse clima de terror, tiram o foco de problemas graves de interesse da população. A falta de uma política educacional eficiente expôs esta grave consequência: a superlotação dos presídios. 

    Antes de Cristo, Pitágoras já dissera: “eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”. Essa verdade é cristalina, não há dúvida. Já está comprovado que o maior combate à criminalidade vem por meio de um processo educacional eficiente e contínuo, no qual os valores morais, éticos e o respeito ao semelhante sejam critérios indispensáveis.

    “Quem abre uma escola fecha uma prisão”. Essa afirmativa de Victor Hugo está nas entrelinhas do que dissera Darcy Ribeiro, em 1982, quando defendia a escola em tempo integral: “se os governadores não construírem escolas, em vinte anos, faltará dinheiro para construir presídio”. 

    É válido ressaltar que educação não consiste somente na construção de prédios. Basta dizer que muitos, com diplomas universitários, contribuíram para o caos em que está o país, com flagrantes corrupções. A família e a sociedade também educam. Por isso todos nós temos uma parcela de culpa. Uns mais; outros menos: desde o simples usuário de droga que alimenta o tráfico, passando pelas omissões do sistema carcerário, à burocracia da justiça.

    – Nos presídios, nunca se matou tanto, em tão pouco tempo e de forma tão brutal. E triste é saber que não há solução para esse problema a curto prazo. Paz!

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