• O Sertão de Rosas

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  • 29/01/2018 10:45

    Como pode produzir rosas um sertão de clima árido, onde a seca desenha rachaduras na terra batida fazendo lembrar o casco de uma imensa tartaruga? Mas eu me refiro a Guimarães Rosa, grande mestre e um dos maiores escritores da língua portuguesa. “Grande Sertão Veredas foi, talvez, sua obra maior, a mais conhecida certamente. Pois bem, pretendo lançar por esses dias “O Mar do Sertão”, meu nono romance. Um crítico de plantão, ao ler os originais, comentou que meu novo livro lembra, em face do tema, “O grande sertão veredas”. Como eu ainda não li o famoso romance de Guimarães Rosa, o que poderia ser uma crítica de plágio, tornou-se pra mim um grande elogio. 

    Nasci no Rio de Janeiro, mas não sou o que se costuma denominar de “um carioca da gema”. Meu pai era sergipano e minha mãe pernambucana. Portanto, meus pés estão no Rio, mas minhas raízes estão no nordeste. Viajei muito por aquelas bandas. Conheci um pouco da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Em algumas oportunidades viajei no meu carro, para melhor conhecer os caminhos. Por três vezes parei em Milagres, na Bahia, para abastecer e pude constatar que aquele pequeno, creio eu, município se ainda existe é por puro milagre. O nome está bem condizente. Ao parar no posto para abastecer, meu carro foi cercado por dezena de crianças que denotavam fome e pobreza. Pediam dinheiro. Minha mulher chegou a me sugerir que juntássemos moedas em uma sacola, para que numa próxima parada por lá, pudéssemos distribuir os níqueis com a criançada. Não combateríamos a pobreza, porém, não deixaria de ser um pequeno paliativo. 

    Nas viagens que fiz pelo nordeste pude constatar que existem duas Bahias: a Bahia física, a que está no mapa, e a Bahia de Jorge Amado, curiosa, romântica, provocante, acolhedora e apaixonante. Diz a lenda que o baiano é um povo preguiçoso, tanto é que Chico Anysio, nosso genial e saudoso humorista dizia que a Bahia é o único estado de nossa federação, onde a semana costuma ter oito dias: Domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e amanhã. Sim, porque se você pedir algo para que o baiano faça, ele costuma responder: deixe comigo, esse menino que amanhã eu faço. E esse amanhã não está inserido no calendário. É pura ficção. 

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