• ‘O Rei Leão’: tempo não foi cruel e musical de 25 anos continua inovador; leia crítica

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 20/07/2023 10:53
    Por Ubiratan Brasil / Estadão

    O tempo não foi cruel com O Rei Leão – em cartaz na Broadway desde sua estreia, há 25 anos, o musical mantém intacta a fórmula que ainda garante sua permanência: a originalidade da concepção. Ao contrário de outros espetáculos que perderam o frescor com o avanço da tecnologia, a montagem que ganha nova versão nacional no Teatro Renault resiste há décadas pela aposta de sua criadora, Julie Taymor, em uma encenação artesanal. Veja aqui o serviço completo e dicas para esticar o passeio.

    Assim, máscaras transformam os atores em leões e outros animais são manipulados como marionetes, por meio de figurinos e até mesmo pelo tradicional teatro de sombras. E, em todos os momentos, o mecanismo é visível pela plateia, que identifica os artistas trabalhando, o que pode parecer algo ousado em uma produção da Disney, que sempre preservou a construção da fantasia – mas o desafio imposto por Julie era o de, a partir de um filme de animação muito popular, manter sua essência e transformá-lo em uma montagem teatral.

    O público não demora para descobrir a proposta cênica da diretora, pois, logo na cena de abertura, acompanha o desfile de todos os animais (engenhosamente manipulados pelos atores) que começa nos corredores do teatro e termina no palco, culminando com a apresentação do pequeno Simba aos súditos.

    O pequeno leãozinho é filho de Mufasa, que governa a floresta. O nascimento do jovem desperta a ira de Scar, irmão do rei, pois diminuem suas chances de assumir a coroa. Assim, bem ao estilo Hamlet, Scar mata Mufasa e acusa Simba de permitir a morte do pai. O rapaz é obrigado a fugir do reino e amadurece a distância, até chegar o momento de voltar e retomar o poder.

    O enredo também é notado a partir dos interesses ideográficos de Julie, que ajudam a descobrir a essência do personagem com o predomínio do círculo no musical: desde o enorme sol que invade o palco na primeira cena até a canção principal, Círculo da Vida, passando pelo contorno das máscaras dos personagens. Ainda continua sendo uma excelente representação de como funcionam as gerações, desde o nascimento de novos membros até a morte dos mais velhos que, por sua vez, são novamente substituídos.

    Sem estereótipos e com força das atuações

    Assim como a montagem que ocupou o mesmo teatro Renault em 2013, a atual não é marcada por estereótipos, pois negaria toda sua essência, e, se a força feminina era inovadora nos anos 1990, agora se torna algo natural e necessário. E ganha força com as atuações de Zama Magudulela como Rafiki, a anciã que anuncia a chegada dos herdeiros, e de Nokwanda Khuzwayo na pele de Nala, a jovem leoa que não se submete ao poder destrutivo de Scar, o rei usurpador. Aqui, Marcelo Octavio tem a chance de exibir seu talento na perfeita composição da vilania.

    Toda a imponência de Mufasa ganha contornos na voz poderosa de Drayson Menezzes, enquanto Thales Cesar, como Simba, demonstra como o vigor físico pode também transmitir fragilidade. Por fim, o núcleo cômico, que encanta principalmente as crianças, é muito bem defendido por Rafael Canedo como a ave conselheira Zazu; Lucas Cândido e sua impagável atuação como Timão; e Diego Luri perfeito como o gigante Pumba e seu coração de ouro.

    A adesão só é completa com a música, que possibilita o surgimento de um momento quase ecumênico entre a plateia e a história de O Rei Leão – as letras criada por Tim Rice, veterano compositor e autor de clássicos como Jesus Cristo Superstar e Aladdin, são surpreendentemente espirituais, o que é reforçado pelo constante uso do som africano no musical. E, no Brasil, um ganho extra com as versões criadas por Gilberto Gil, responsável por garantir um multiculturalismo original ao espetáculo.

    Últimas