• O que significa o Natal hoje, em tempos tão perturbadores?

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  • Por Leonardo Boff

    Vivemos inegavelmente tempos perturbadores, num mundo em guerra, no qual crianças, como no tempo de Herodes, são assassinadas aos milhares. Como não nos enchermo-nos de horror, de indignação e de tristeza que nos levam às lágrimas? E no nosso país vicejam tanta violência e ondas de ódio.

    No entanto, ousamos repetir o que o Papa Leão Magno, no século IV, no dia do nascimento de Jesus pregou: “Não pode haver tristeza quando nasce a vida”. Apesar das sombras, queremos, por um momento, nos deixar iluminar pela luz da estrela de Belém, e viver a alegria dos pastores porque “nasceu para nós, aquele que é alegria para todo o povo”.

    O Natal nos diz: Deus se fez criança. Que felicidade sabermos que não seremos julgados por um juiz severo, mas por uma criança. Do presépio nos vem uma voz suave que nos fala: “Oh criatura humana, por que tens medo de Deus? Uma criança não ameaça ninguém. Ela não condena ninguém. Quer apenas brincar conosco. Não vês que sua mãe enfaixou seus bracinhos frágeis? Não escutas seu chorinho doce? Mais que nos ajudar, ela precisa ser ajudada e carregada no colo”.

    Não deixemos que seja verdade aquilo de São João em seu evangelho, que tristemente nos diz: “Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam”. Nós queremos recebê-lo e abraçá-lo, porque é um irmãozinho nosso que mora entre nós e para sempre.

    Uma primeira mensagem do Natal é esta: Grande coisa devemos ser nós, seres humanos, para Deus querer ser um de nós. Ele nos diz: “Eu te amo, irmãozinho meu e irmãzinha minha, com amor infinito e ilimitada ternura. Conheço o barro de onde fostes tirados. Mesmo assim me apaixonei por cada um de vós e quero fazer minha a vossa humanidade”.

    Lembremos o grande poeta Fernando Pessoa: “Ele é a eterna criança, o Deus que faltava. Ele é o divino que sorri e brinca. É a criança que é tão humana que é divina”.
    O presépio com o menino Jesus tiritando de frio nos traz a lição que quase sempre esquecemos: Ele veio do mundo dos pobres, de gente do povo como José e Maria. E são tantos em nosso país que têm um Natal triste, sem presentes e até sem comida. Não nos esqueçamos deles. Lembremos a frase tão decisiva: “O que fizerdes ou deixastes de fazer a esses meus irmãozinhos e irmãzinhas menores: famintos, sedentos, maltrapilhos e até nus, foi a mim que o fizestes ou deixastes de fazer”. Façamos alguma coisa para eles.

    Finalmente, a verdade mais profunda que o Natal nos quer transmitir para todos, crianças e adultos é esta: Se Jesus é o Deus que se fez humano, isto significa: há uma porção divina dentro de nosso humano.

    Jesus é de fato nosso irmão. Como irmãos, somos também, filhos e filhas de Deus à semelhança de Jesus. Há maior dignidade do que ser realmente, sem metáfora, filhos e filhas de Deus e de pertencer à família divina?

    Quando partirmos para o grande encontro, Deus vem resgatar o que é seu e nos leva para a sua Casa. Como disse o poeta Fernando Pessoa:

    “Pega-me tu no colo
    E leva-me para dentro de tua Casa”.


    Radioso Natal para todos e para todas, especialmente para as crianças, as amadas do menino Jesus!

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