O que se sabe sobre queda de teto da ‘igreja de ouro’ em Salvador que matou turista de SP
O desabamento do forro de uma das mais importantes construções do barroco brasileiro – em Salvador, provocou a morte de uma jovem e deixou outras cinco pessoas feridas nesta quarta-feira, 5. A Igreja de São Francisco é tombada e parte do conjunto de construções históricas da capital da Bahia reconhecido como patrimônio mundial (“da humanidade”) há 40 anos.
Segundo a Defesa Civil de Salvador, o espaço central da igreja cedeu durante momento em que o templo estava aberto e recebia fiéis. Os feridos foram socorridos e encaminhados para um hospital local. Eles sofreram apenas ferimentos leves. Veja abaixo o que se sabe sobre a tragédia:
Onde e como ocorreu o desabamento?
O acidente ocorreu na tarde de quarta, 5, na Igreja de São Francisco de Assis, localizada no Pelourinho, região do Centro Histórico da capital baiana. Segundo a Defesa Civil de Salvador, o espaço central da igreja cedeu durante um momento em que o templo estava aberto e recebia turistas e fiéis. Três viaturas do Corpo de Bombeiros foram ao local do acidente para prestar atendimento às vítimas e realizar buscas na área, que ficou tomada pelos escombros. Equipes do Serviço e Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foram deslocadas para o local e o Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado.
Quem era a jovem que morreu?
O acidente provocou a morte de Giulia Panchoni Righetto, 26 anos, paulista de Ribeirão Preto. Ela tinha viajado a Salvador como turista e estava visitando a igreja no momento em que o teto colapsou. A Polícia Civil, por meio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, investiga o caso.
Qual o estado de saúde dos feridos?
De acordo com a Polícia Civil, os cinco feridos foram socorridos e encaminhados para um hospital local. A identidade deles não foi informada, apenas que sofreram ferimentos leves.
Qual a importância da igreja?
A Igreja de São Francisco é tombada e integra o perímetro do centro histórico de Salvador considerado como patrimônio mundial (popularmente chamado de “patrimônio da humanidade”) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Datada do período entre os séculos 17 e 18, a igreja é considerada “uma das mais singulares e ricas expressões do barroco brasileiro”, segundo descrição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Também tem elementos rococó e neoclássicos.
A construção é recoberta externamente de esculturas e relevos, com folhagens e frutos de “talha dourada”, isto é, madeira recoberta de uma fina película feita à base de ouro. A ornamentação levou décadas para ser completa. Há, também, revestimentos com azulejo. Além da importância histórica e religiosa, o local é um dos principais pontos turísticos de Salvador.
Que problemas já existiam no local?
Construída a partir de 1708 e concluída mais de 40 anos depois, a Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, está em mau estado de conservação há décadas. As obras de restauração, além de raras, às vezes são mal feitas: numa delas, por exemplo, o empreiteiro responsável contratou moradores do bairro como pedreiros e usou cimento impermeável para assentar azulejos – eles absorveram a umidade e estouraram.
Declarada em 2009 uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja vive estado de penúria. Em junho de 2023, um dos pátios da igreja foi parcialmente fechado após se constatar risco de desabamento do pináculo (cúpula de ferro que fica no topo da igreja e pesa uma tonelada e meia) direito da torre da igreja. Até uma rua no entorno da igreja teve que ser interditada. Na época, a obra de restauração do pináculo estava apenas em fase de licitação.
À TV Globo, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, informou que o frei responsável pela igreja protocolou na segunda-feira, às 15h48, um documento relatando “dilatação no forro”. Como não se falou em urgência, uma vistoria foi marcada para esta quinta-feira, 3.
Há mais de dez anos, historiadores e defensores do patrimônio denunciavam as más condições estruturais do templo, erguido em 1708. Um restauro na estrutura até chegou a ser anunciado em 2024.
Quem é responsável pela igreja?
A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que desde o ano passado previa reformar o templo. Uma ordem de serviço para contratar serviços de restauração da igreja e do convento anexo foi assinada em 1 de outubro de 2024. A previsão era investir R$ 1,2 milhão nas obras.
Em entrevista à CNN, o superintendente do Iphan na Bahia, Hermano Fabrício, afirmou que essa obra não havia começado. Segundo ele, a última reforma realizada no imóvel pela instituição foi o reassentamento de azulejos no claustro, pátio interno onde os religiosos realizam atividades de contemplação, estudo ou trabalho. Ele afirmou ainda que não tinha ocorrido vistoria recente no imóvel, até porque a manutenção dele cabe ao proprietário e não à instituição.
Tragédia reflete a espiral de um problema maior
Para o arquiteto e urbanista Nivaldo Andrade, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante do conselho consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o desabamento é uma das tragédias mais graves que já aconteceram no centro histórico de Salvador e reflete a espiral da falta de preservação do patrimônio histórico no País. “Tem diversas igrejas tombadas no centro histórico com problema, algumas melhores e outras piores que essa”, completa.
O balanço da Defesa Civil de Salvador mais recente aponta, por exemplo, ao menos 2,7 mil casarões e outras construções históricas do centro e entorno em risco. O Iphan também chegou a reconhecer problemas em imóveis na capital da Bahia recentemente, que estaria com a preservação “comprometida”. Andrade destaca, contudo, que a situação se repete nas demais cidades históricas brasileiras.