O que esperar da nova rodada de pesquisas da disputa pela Prefeitura de SP; Veja as datas
A menos de 50 dias das eleições municipais de 2024, candidatos à Prefeitura de São Paulo já estão nas ruas e participam de debates em busca do voto do eleitor da capital paulista. Os resultados dos primeiros movimentos dos postulantes ao cargo de prefeito na corrida eleitoral serão medidos por institutos de pesquisa, que já estão em campo, e divulgados nesta semana.
Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que a nova rodada de levantamentos mostrará se as estratégias dos candidatos já provocaram efeitos nas intenções de voto e poderá motivar mudanças de rota nas campanhas.
As próximas pesquisas sobre a disputa eleitoral em São Paulo estão previstas para serem divulgadas entre quarta-feira, 21, e sábado, 24, conforme o registro dos institutos na Justiça Eleitoral.
Os últimos levantamentos, divulgados no início do mês, mostraram uma disputa acirrada entre atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Com dois dígitos, Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB) surgem como nomes que podem embaralhar a disputa. Correndo por fora, estão Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), que utilizaram os primeiros debates como estratégia para atingir uma maior relevância perante o eleitorado.
Além de inaugurar os levantamentos publicados no período oficial de campanha, que começou no último dia 16, as pesquisas desta semana vão ser as primeiras divulgadas desde a realização dos três primeiros encontros entre os candidatos. O debate inicial foi organizado pela Band, no dia 9 de agosto. O segundo foi promovido pelo Estadão, em parceria com o portal Terra e a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) no dia 14 de agosto. O mais recente ocorreu nesta segunda-feira, 19, realizado pela revista Veja.
O doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Thiago Valenciano diz que as novas pesquisas devem revelar se a estratégia do candidato Pablo Marçal, de tumultuar os debates e atacar os concorrentes, trará resultados para o crescimento dele na preferência do eleitorado. “Marçal trouxe para a política sua persona de internet. Resta saber se o efeito que ele trouxe no começo vai se sustentar”, afirmou.
Valenciano também observa que os levantamentos desta semana vão ser apresentados em um momento ainda de definição do cenário eleitoral em São Paulo. Para ele, as pesquisas vão atestar se Tabata Amaral está conseguindo conquistar simpatizantes de Boulos. Ao mesmo tempo, devem apontar se Marçal consegue atrair o eleitorado bolsonarista cobiçado por Ricardo Nunes.
“O cenário de São Paulo está com percentuais muito próximos. Tabata e Marçal continuam pegando uma parcela interessante do eleitorado. Parece que são todos contra Nunes, mas para a Tabata é interessante entrar no espaço do Boulos. Para Marçal, o foco é arrancar o Nunes para fora. Pode ter surpresa no fim”, avaliou o cientista político.
De acordo com Murilo Medeiros, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), as pesquisas devem apontar ainda se o desempenho do candidato do PRTB impactou as intenções de voto de Datena, que teve uma performance tímida nos debates que participou. Em caso positivo, o especialista afirma que tanto o tucano quanto o atual prefeito terão que criar novas estratégias para frear o crescimento do ex-coach.
“Marçal tem potencial de embaralhar a campanha eleitoral em São Paulo. É um outsider que personifica o antissistema e fomenta a espetacularização da política. Até agora, é a grande novidade na eleição. Enquanto Boulos está emparedado pelo antipetismo, a ascensão de Marçal poderia desidratar a candidatura de Datena. Especialmente no campo bolsonarista, ele se torna um elemento de pressão sobre Ricardo Nunes”, explicou.
O cientista político acredita que Nunes e Boulos não devem ter grandes mudanças nos porcentuais de intenção de voto e destaca que os dois podem crescer após o início do horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, no próximo dia 30. “Só devemos visualizar modificações significativas nas intenções de voto deles após o início da propaganda de rádio e televisão”, afirmou.
Para Medeiro, também é importante verificar se Tabata, que adotou uma postura mais propositiva nos debates, conseguirá captar votos de Boulos e do eleitorado mais escolarizado. Sobre Marina Helena, analisa que os levantamentos devem mostrar se ela, mesmo pouco conhecida do pública e filiado a um partido pequeno, consegue captar uma parcela do eleitorado liberal.
O que as últimas indicaram sobre o cenário eleitoral em São Paulo?
A última pesquisa Datafolha foi divulgado no dia 8 de agosto e apresentou um cenário de empate técnico entre Nunes e Boulos, com 23% e 22% das intenções de voto, respectivamente. O levantamento também mostrou uma disputa acirrada pela terceira colocação, com Marçal e Datena empatados com 14%. Tabata Amaral registrou 7% na sondagem.
No levantamento mais recente da Paraná Pesquisas, divulgado também no dia 8, Nunes apareceu com 25,1% das intenções de voto, enquanto Boulos, 23,2%. Datena teve 15,9%, seguido por Marçal (12,5%), Tabata (5,5%) e Marina Helena (3,5%).
No mesmo dia em que foram divulgados as pesquisas Datafolha e Paraná, a AtlasIntel mostrou um cenário diferente das demais. Com 33% das intenções de voto, Boulos apareceu com uma larga vantagem em relação a Nunes, com 25%. Marçal e Tabata tiveram 11%, enquanto Datena, 9%.
Como foram os três debates entre os candidatos?
Os três debates foram pouco propositivos e o destaque ficou por conta de trocas de farpas e acusações entre os candidatos. No primeiro encontro, Nunes foi o principal alvo dos adversários, enquanto Marçal assumiu o papel de “franco-atirador”, disparando críticas e até palavrões contra o prefeito paulistano, Boulos e Datena.
O segundo confronto, organizado pelo Estadão, foi marcado por uma tentativa de Tabata e Nunes de manterem uma postura propositiva. Marçal repetiu o objetivo de viralizar com brigas e teatralidade, provocando reação de Boulos. Datena teve um desempenho apagado, e Marina Helena tentou se apresentar como a única candidata de direita da disputa.
Com apenas Tabata, Marina Helena e Marçal, o debate da Veja teve críticas incisivas aos candidatos ausentes. No encontro, propostas concretas para a cidade ficaram em segundo plano. Marçal se recusou a responder a perguntas que lhe foram direcionadas pelas candidatas.
O cientista político do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e sócio da Tendências Consultoria Rafael Cortez explica que os encontros entre os candidatos não influenciam apenas no momento em que são veiculados pelas empresas de comunicação.
Segundo o especialista, os cortes em vídeo a partir dos debates e distribuídos via redes sociais podem repercutir durante toda a campanha, influenciando as pesquisas de intenção de voto e o resultado nas urnas. “O debate produz material que, posteriormente, vai ser circulado nas redes sociais. Pode ser a performance do candidato, alguma gafe que eventualmente ele fale ou algum trecho que seja destacado”, afirmou.