• O problema que está na geladeira

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  • 29/12/2019 11:14

    O homem não é o único animal que guarda alimento para comer depois. Alguns cães também têm esse hábito de, após saciar a fome, enterrar as sobras do que comeu. Memorizam os lugares, mas quando esquecem, usam o faro para procurar o que enterraram. Por se tratar de um alimento perecível, como osso com carne, ficam expostos a doenças provocadas por bactérias presentes na terra que envolve o alimento. A doença mais contraída pelos cães com essa prática é o botulismo que causa paralisia muscular.

    A toxina botulínica que a provoca é a mesma usada no botox, empregado em tratamento estético.A gralha-azul também faz uso desse expediente de enterrar alimentos, após saciar a fome. É comum, na região sul do país, onde há várias araucárias, encontrar essa ave enterrando pinhão no solo para comer depois, só que esquece, voa para outros lugares. E assim, ela contribui para a disseminação do conhecido pinheirodo-paraná.Citei esses dois casos, com consequências bem diferentes, para introduzir, neste adeus ao ano velho e nas projeções do ano que se aproxima, uma reflexão sobre o que guardamos em nossas geladeiras, eletrodomésticos usados principalmente para armazenar alimentos. É válido ressaltar que refrigeradores, frízeres são simples evidências da evolução do homem na conservação de alimentos. Só que nem todos podem ter geladeira. E alguns têm, porém sem condições de abastecê-la. Para ajudar nessa reflexão, trago aqui versos de uma composição de Belchior, “Balada de Madame Frigidaire”:

    “Ando pós-modernamente apaixonado pela nova geladeira./ Primeira escrava branca que comprei veio e fez a revolução./ Esse eterno feminino do conforto industrial/ injetou-se em minha veia…/ dei bandeira!/ E ao pôr fé nessa deusa gorda tecnologia/ gelei de pura emoção.”Nessa balada, recheada de ironias, ele indaga: “Mister Andy, o papa pop,/ e outro amigo meu, xarope,/ se cansaram de dizer:/ ‘pra que Deus, Dinheiro, Sexo, Ideal, Pátria, Família, pra quem já tem Frigidaire?’” Dei essa volta para chegar aqui: – é possível pensar na fome do outro quando já temos a nossa despensa abastecida?…Seguindo essa linha de raciocínio, cito a conhecida fábula atribuída a Esopo, escritor grego que viveu antes de Cristo, recontada por Jean de La Fontaine: “A Cigarra e a Formiga”.

    Essa história já foi muito usada para justificar o comportamento de quem só trabalha para defender o seu lado, puxando a brasa sempre para a sua sardinha, ou seja, produz só para si, sem pensar no próximo. A caridade, a solidariedade sempre encontram, pela frente, a frase que já está em domínio público:

    “O Sol nasce para todos”. Contudo é preciso que se diga que nem todos têm as mesmas condições para lutar por um lugar ao Sol. Por isso, quando tenho oportunidade, pronuncio: “Senhor, dai pão a quem tem fome. E fome de justiça a quem tem pão.

    ”É preciso dar o peixe e ensinar a pescar. Posso lhe falar, com convicção, que não se obtém o êxito necessário em um processo educacional, quando os educandos estão de estômago vazio.

    A fome desestrutura qualquer cidadão. Não sou adepto das políticas assistencialistas.

    Todo homem precisa ganhar o pão com o suor do rosto para poder andar de cabeça erguida, sem depender de favores alheios. Falar de justiça social em um país, no qual, encontra-se parte da população vivendo abaixo da linha da miséria é um ato demagógico. Por isso que o meu desejo neste ano que se aproxima é que haja trabalho e salário digno para todos, para que ninguém fique dependendo de favores dos outros para ter o pão de cada dia.

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