• O Primeiro Batalhão de Caçadores na Guerra de Suez

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  • 17/02/2020 15:25

    No ano de 1956, morando neste prédio, fiz uma das maiores idiotices da minha vida. Vou contar. Estava eu e um enorme grupo de jovens locais, nascidos no ano de 1937, servindo ao exército, como era exigência naquela época. Em nossa cidade não havia CPOR, de onde nós poderíamos sair como Oficiais da Reserva do Exército Brasileiro. 

    Assim sendo, tínhamos que servir pelo prazo aproximado de um ano, como soldados rasos, chegando à cabos ou até em alguns poucos casos como terceiros sargentos, naquele fabuloso quartel serrano, fundado em 1929, hoje identificado nacionalmente como Batalhão Dom Pedro II. Nós ficávamos formados diariamente, no pátio interno, antes de nos apresentarmos para as nossas funções, como companhias de serviços, de petrechos pesados ou de infantaria.

    Ouvíamos as mensagens oficiais vindas por alto-falantes do comando-geral e terminávamos aquela solenidade matinal cantando o Hino Nacional. Mas eis que numa bela manhã de primavera ensolarada, estávamos formados como de costume, quando de repente o nosso comandante, o Coronel Manoel Mendes Pereira, apareceu na entrada principal da praça interna do quartel, acompanhado de um general e iniciaram uma caminhada passando toda a tropa em revista. 

    Eles paravam diante de cada uma das quatro companhias e o general tirava o seu bastão debaixo do braço e apontava para cada soldado que ele escolhia, fazendo com que ele saísse do seu grupo e formasse um novo pelotão em separado. Como eu era cabo da Segunda Companhia, com um metro e noventa de altura, estava sempre formado na primeira fila e à direita do meu grupo. Como outros tantos, fui apontado pelo seu bastão e retirado de forma. 

    Assim que estávamos todos selecionados e formando um novo pelotão, eles subiram para a varanda do segundo andar e comunicaram à todos nós que aquele novo pelotão havia sido escolhido pelo comando do exército para fazer parte de um batalhão especial para servir num conflito bélico que estava acontecendo no Canal de Suez. A chamada Guerra do Sinai, foi uma crise política que teve início no ano de 1956, quando Israel obteve o apoio da França e do Reino Unido, que usavam o Canal de Suez, para ter acesso ao comércio oriental. 

    Como eu era particularmente amigo de um grande grupo de outros soldados, todos colegas de colégio e também sócios do Petrô, fui procurado por alguns deles para ceder o meu lugar naquela missão, já que outros soldados curtiam a ideia de participarem do conflito. Eles me disseram que conseguiram fazer com que eu estivesse ausente do quartel, tirando serviço interno na residência do Ministro da Guerra, no dia em que o general voltaria para oficializar sua escolhas. Em função disto, eu não fui para Suez. 

    Mas o pior de tudo só veio um ano depois, na volta dos meus parceiros convocados. Eles me contaram que foi o melhor passeio que eles fizeram em todas as suas vidas. Com boas hospedagens, nenhuma batalha, nenhum tiro, duas boas viagens de navio e em suas bagagens, uma tonelada de tapetes persas. Com isto, eu fui o grande derrotado naquele conflito superagradável. Meu Deus, se arrependimento matasse. 

     

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