O populismo de Lula e PT em marcha forçada
O populismo, a velha doença da esquerda latino-americana, continua vivo e atuante. O teatro de operações agora é na terra brasilis. Infelizmente. As dúvidas começaram aflorar até nos bastiões de defesa do governo Lula. Foi dando as caras aos poucos. Teve início com a tentativa de forçar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a baixar a taxa de juros na marreta. Felizmente, o fato de o BC brasileiro ser independente, com o presidente e diretores tendo mandatos, impediu a explosão precoce do populismo inflacionário, ao estilo Dilma, de vir com força.
Ainda me recordo bem das críticas do saudoso Mario Henrique Simonsen ao combate dado à inflação com planos mirabolantes que levavam a novas frustações. Foram aqueles 30 anos de decepções em cascata até surgir o Plano Real. É a velha síndrome do Patropi de levar três décadas para definir alguma política econômica sensata. Inflação, reforma trabalhista, reforma tributária, todas seguiram o calvário dos 30 anos até tomarem corpo. Mesmo assim, por vezes, não atende aos devidos requisitos, como vem ocorrendo com a reforma tributária, que anuncia o IVA – Imposto do Valor Adicionado com o maior percentual do planeta. Não será surpresa se encostar nos 30%.
Desde que tomou posse, Lula parece ter acreditado na narrativa do PT de que o impeachment de Dilma foi um golpe. Portanto, a companheira estava certa, e a impediram de ir adiante. Dito isto, ele almejou fazer loucura semelhante à de Dilma. Baixar a taxa de juros sem uma política fiscal séria de corte de gastos no setor público. Era o caminho certo para dar com os burros n’água. As críticas reiteradas ao atual presidente do BC demonstravam a convicção dele em fazer besteira. Era o único no batalhão a marchar no passo certo. Ou melhor, tinha companhias: Gleisi Hoffmann e a patota desvairada do PT. Foram impedidos até certo ponto.
Mas nem por isso a obra tresloucada da Dilma foi completamente neutralizada. Lula chegou pedindo licença para gastar a rodo. E conseguiu carta branca para um déficit peso pesado nos primeiros dias de governo. Um congresso de perfil gastador adorou dar uma mãozinha, inclusive fazendo uso do indecente do orçamento secreto. A conta é mandada para o contribuinte brasileiro sem que ele saiba em quê a verba vai ser gasta. Até o Flávio Dino, agora ministro do STF, achou que era desrespeitar a constituição além da conta, e pôs um paradeiro no trem da alegria dos irritados deputados.
A gastança começou a dar seus frutos podres. O mais evidente foi o avanço da inflação neste segundo ano de governo (ou desgoverno?) Lula. A população nas idas ao supermercado começou a se deparar com preços cada vez mais elevados. O salário não chegava ao fim do mês. É cada vez mais evidente o peso e o tamanho reduzidos dos produtos. O popular pacote de cream cracker já perdeu quase um terço de seu comprimento original. E aí começou a ficar constrangedor reduzi-lo ainda mais. A saída, nos últimos meses, foi então aumentar o preço.
Cabe registrar que quando um produto perde peso ou tamanho, mesmo mantendo o preço original, na verdade, o consumidor está pagando mais. Uma redução de 10% no peso equivale a 10% de aumento de preço, que não é capitado pelos levantamentos de preço do IBGE. Mas a população sente no bolso essa inflação invisível que se transmite via redução de tamanho ou peso. Ou seja, o consumidor está sujeito a dois tipos de inflação: aquela medida pelo IBGE e a outra que os índices não revelam, mas pesa no bolso.
Mas a incompetência e o populismo de Lula não param por aqui. O último episódio de sua política econômica foi uma proposta de corte de gastos obtida a fórceps pelo ministro Haddad. Vinha junto um presente de grego de isentar quem ganha até 5 mil reais mensais do imposto de renda em 2025. Foi uma combinação explosiva percebida pelo mercado que se recusou engolir o sapo. E reagiu prevendo mais inflação no futuro. O resultado foi a explosão do dólar que superou a marca dos 6 reais. O próprio Banco Central lançou mão de suas reservas para evitar que o dólar atingisse patamares mais elevados ainda.
Até mesmo a boa vontade dos analistas da Globo News com o governo Lula começou a dar sinais de insatisfação. Gerson Camarotti já vem, faz algum tempo, criticando duramente as traquinagens de Lula. Foi muito duro em suas últimas falas acusando Lula de populismo descarado, manifesto na promessa de isentar do imposto de renda de quem ganha até 5 mil reais mensais. Até a Eliane Catanhede acusou Lula de sede de poder a ponto de se recusar a passar o poder ao vice em suas visitas recorrentes aos CTIs dos hospitais paulistas.
As últimas pesquisas contratadas pela TV Globo a institutos de pesquisas revelam que as expectativas positivas em relação ao governo Lula vêm se deteriorando. Indicam tendência de piora em relação ao ano anterior. O indicador mais evidente é a subida da inflação sentida pela população. A gastança e a corrupção estão cada vez mais evidentes. Estatais que passaram a dar lucro no governo anterior já estão no vermelho. Os “administradores” do PT, que as receberam com recursos em caixa, lucrativas, foram com sede ao pote gastando além da conta a ponto de torná-las deficitárias.
A denúncia do ex-ministro Marco Aurélio Mello de que o STF ressuscitou Lula politicamente aponta para o fato de que ele não poderia, a rigor, ter sido candidato na última eleição presidencial. Daí sua ilegitimidade intrínseca. A despeito de o STF, já desmoralizado junto à opinião pública, querer nos fazer crer que está tudo bem, a verdade é que Lula foge das ruas ao passo que o presidente anterior é recebido com festa.
Mais uma vez, estamos constatando os efeitos maléficos do populismo. Quando consegue enganar a curto e médio prazos, não repete a proeza a longo prazo. A população, percebe, cada vez mais, que foi enganada. E está revelando sua rejeição a Lula e a seu governo. Nos dois anos que lhe restam, vai ser muito difícil mudar o rumo equivocado trilhado desde o início do governo. Quem viver verá.
A seguir, vídeo meu, “Corrupção: Já foi muito diferente”, gravado em 2018, mas que continua atual:
**Sobre o autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira é empresário e economista.