• O poeta Francisco Carauta de Souza

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  • 14/01/2023 08:00
    Por Afonso Vaz

    Petrópolis, terra de Pedro ll, na verdade nos legou figuras do mais alto valor literário, em campos os mais diversos, eis que foi a poesia por mim escolhida para homenagear Carauta de Souza.

    E a expressão de tais figuras foi de tal grandeza que muitos acabaram por integrar a Academia Brasileira de Poesia Casa Raul de Leoni, a Academia Petropolitana de Letras, a Academia Petropolitana de Educação, além de outras instituições congêneres. 

    Busco lembrar, assim, por intermédio dessas linhas, um nome, ímpar. Funcionário da Caixa Econômica Federal, sonetista inspirado.

    Tal personalidade foi recentemente recordada em decorrência da bem lançada série “Resgates Históricos no Centenário da APL: 1922/2022”, através do eminente acadêmico Cleber Francisco Alves – Coluna da APL.

    Permito-me, mais uma vez, recordá-lo agora sob a ótica de exímio sonetista, como também empreendedor e bravo lutador em prol da cultura em nossa terra, sob as mais diferentes matizes.

    Não seria demais assinalar que Carauta de Souza ingressou na Academia Petropolitana de Letras em 03/05/1924, ocupando a cadeira nº 8, patronímica de D. Pedro II, entidade já centenária, como de conhecimento geral.

    Muitos dados relacionados com tão expressiva figura e bem assim atividades pelo mesmo levadas a cabo, pude colhê-las perante meu pai – passado longínquo – seu amigo e confrade na APL. 

    Residia numa bela vivenda situada à Rua Monsenhor Bacelar onde recepcionava, constantemente, escritores, poetas, pianistas, trovadores, pintores, artistas, músicos em geral,  enfim, pessoas que projetaram o conceito literário/artístico de nossa terra, fazendo-a se destacar como importante centro cultural.

    Recordo-me perfeitamente da Sociedade Petropolitana de Artes e Cultura – SPAC, e bem assim da União Brasileira de Trovadores – UBT, cujos integrantes reuniam-se em sua residência, portas abertas ao saber, ao conhecimento, a fecundas amizades.

    Incentivador, por outro lado, dos Jogos Florais de Petrópolis realizados em época áurea, exatamente com o seu apoio incondicional.

    Entretanto, o objetivo destas linhas visa relembrar o exímio sonetista e por isso mesmo não poderia deixar de transcrever de sua autoria.

    “Sem fantasias

    TENHO rolado pela vida escura

    calcando espinhos, suportando dores;

    causticado de um sol de dissabores

    eu já colhi um mundo de amargura!

    MINHAS mãos sempre pródigas de flores

    Quando a tristeza d’outros me procura, 

    se algum dia estenderem-se à ternura

    não sei ao certo se terão favores!

    ENTRE o vae-vem da sorte em que se luta, 

    é bem feliz minha alma resoluta

    que não baqueia aos golpes da desgraça.

    SERENADO o vigor da tempestade, 

    Sou feliz contemplando a humanidade

    na sua marcha hipócrita e devassa.”!

    (Dezembro/1936 – Revista da APL nº 4)

    E ainda:

    Recordando D. Pedro II

    “Última oração

    “Empenumbra-se o céu da monarquia,

    cobre-se de luto a Corôa do Brasil;

    numa triste agonia,

    banido e pobre, no leito do desterro,

    morreu D. Pedro!

    Lamenta-se a partida dessa alma honesta;

    chora a Redentora

    sua saudade de filha prediléta;

    estreita o Conde’d’Eu sua aliança,

    entrelaçando, na dôr da “Casa de Bragança”

    o luto e as  lágrimas da “Casa de Orleans”.

    Em redor, os amigos do exílio, 

    aqueles que acompanharam o Imperador  

    para prestar-lhe o auxílio

    de sua companhia confidente,

    esse auxílio moral, 

    que suavisa o mal,

    como na tormenta, o clarão da esperança.

    “Requiescat in pace”.

    Descansa em paz, coroado perfil!

    E’ quando Motta Maia

    coloca-lhe o travesseiro de terra do Brasil,

    cumprindo o que D. Pedro lhe pediu

    desinteressado e exemplar:

    Um punhado de Terra-Patria

    para sua cabeça descansar!

    Descansa em paz na terra idolatrada!

    Na Pátria abençoada

    que foi a tua glória, que foi o teu tormento,

    e que ainda cantastes em versos

    cheios de apogeu,

    na dôr do exílio que te deu.

    Descansa em paz!

    Suba a teus pés minha última oração,

    meu enlevo comigo,

    meu coração de brasileiro,

    levando consigo 

    o pulsar do Brasil!

    Suba aos pés de D. Pedro esta última oração.”!

    Ainda na condição de lídimo representante da SPAC, conforme aludido anteriormente, Francisco Carauta de Souza, em 12 de março de 1965, escreveu, em Perfis Petropolitanos nº 159, o poema que se segue, ao amigo e confrade, meu pai, Osmar de Guedes Vaz.

    “Poeta e sonhador (como eu também), 

    sem ter no entanto cabeleira ao vento, 

    maneja as trovas e sonetos tem

    no estilo de apurado sentimento.

    Gosta da SPAC e sei que à SPAC vem

    dar um prazer de social momento

    quando o DER lhe permite bem

    ou não está sob a ação do esquecimento.

    Suas paródias recita com tal graça

    e os clássicos revolve na devassa

    para dar-nos um luso de tamancos.

    Tem volume de versos tão Diversos,

    E outros sonetos tem então dispersos

    nos bolsos dos seus ternos sempre brancos”.

    Carauta de Souza, exemplar figura em prol de nossa história em razão de importantes legados que nos deixou, especialmente para a Academia Petropolitana de Letras.

    Que nós petropolitanos saibamos honrar a sua memória, divulgando sua obra de valor inestimável.

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