• O poder nos novos tempos

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  • 18/06/2016 12:00

    Os tempos mudaram. E em profundidade. Um simples passeio pelo histórico do poder nos permite entender o que ocorreu. Inicialmente, é bom ter em mente que líder é quem tem seguidores. A pergunta natural é: de onde vem o poder? Na época das cavernas, o macho mais forte dava as cartas. Era o reino do manda quem pode e obedece quem tem juízo no seu sentido mais cru. O líder que se impõe pela força bruta. Literalmente, pelo porrete. 

    Passados alguns milênios, o reino do apenas um começou a fazer água. O crescimento dos grupos humanos levou a mudanças qualitativas. Não bastava ser o macho dominante mais forte. Ele tinha que se unir a outros homens fortes para formar exércitos tanto para defender seu espaço geográfico quanto para conquistar novos. Ainda é, no entanto, o reino do poder que vem da força. Impérios se constituíram desse modo, como o assírio, famoso pela extrema crueldade. Sua vida curta se explica em boa parte pelo uso abusivo da força.

    E aí surge uma novidade na história da humanidade: a visão e a prática gregas do exercício do poder. Não mais a simples força bruta, mas a conquista, em praça pública, de mentes e corações. Não importa que, em Atenas, fossem apenas assembleias de homens livres (2/3 da população eram de escravos). Os avanços sociais não nascem prontos e acabados. Podem levar séculos para se consolidarem. E até precisar da força militar para se manterem. Os 300 de Esparta, no desfiladeiro das Termópilas, foram um marco heroico na defesa da democracia contra a tirania. Quando os mensageiros de Xerxes disseram a Leônidas que as flechas persas seriam tantas que cobririam a luz do sol, ele respondeu, bem ao estilo espartano: “Melhor, combateremos à sombra!”

    O Império Romano merece uma explicação para entendermos por que durou um milênio. Durante seus primeiros 500 anos, Roma foi uma república comandada por dois cônsules submetidos ao poder do senado. Como um deles tinha poder de veto sobre as decisões do outro, tinham que atuar de comum acordo em mandatos que duravam um ano apenas. Ao preservarem os pilares da cultura grega, a ponto de professores gregos educarem os filhos das famílias importantes de Roma, os ecos da praça grega ainda se faziam ouvir. O SPQR (Senatus populusque romanus), o Senado e o Povo Romano, não era então apenas um slogan. Nos 500 anos seguintes, quando os imperadores romanos viraram deuses, a coisa mudou. De toda forma, a Pax Romana explica, em boa medida, a duração milenar de Roma, que entendeu os limites da força bruta. 

    Qual foi, então, o salto qualitativo dado nos tempos interessantes em que vivemos permeados pela comunicação instantânea via internet? Cada vez mais, o poder passa a ser ancorado no convencimento de uma parte grande da sociedade para que possa ser exercido. Até muito recentemente, via TVs e rádios, a sociedade simplesmente recebia as informações de modo unidirecio-nal. Éramos frutos do que ouvíamos e pensávamos com nossos botões. Na verdade, estávamos limitados pelo acesso restrito à informação. Ela vinha filtrada pelos meios de comunicação até nossos ouvidos e corações. Éramos, basicamente, receptores de informação, que podia ser deformada ou falsa.

    As redes sociais quebraram essa regra: elas permitiram às pessoas a serem não apenas meros receptores, mas também emissores de conteúdo. Os estados totalitários, por exemplo, como a ex-URSS e a própria China sucumbiram diante desse poder da comunicação em mão dupla em tempo real. O voto de desconfiança ao governicho Dilma foi dado, por exemplo, diretamente pela população nas ruas, passando por cima de nossos “representantes” na Câmara e no Senado. E esse processo tem força suficiente para levar de roldão os caciques da velha política. Quem se formou na velha escola corre o sério risco de ir para o museu da política à revelia do povo. Que assim seja!

    gastaoreis@smart30.com.br / gastaoreis2@gmail.com


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