• O Pan, a Olimpíada e a mídia

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  • 27/08/2016 11:35

    Eu me lembro bem dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Se você, caro leitor, abrisse um jornal, desse uma olhada nas TVs e ouvisse as rádios, havia certo consenso na mídia de que o desastre estava se aproximando a passos largos. Marinheiro de primeira viagem, fiquei apreensivo. Terminados os Jogos, a mídia foi só elogios: a má estrela (significado de desastre em grego) virou um sol fulgurante. Nas Olimpíadas, quando a imprensa começou a prever que a má estrela iria brilhar de novo, fiquei com o pé atrás. Disse para minha mulher que aquilo estava com cara do que havia acontecido nos Jogos Pan-Americanos. Não deu outra: foi um sucesso retumbante. Mas, desta vez, houve circunstâncias agravantes, envolvendo a mídia do Patropi e a internacional.

    Iniciemos com a matéria publicada no The New York Times, famoso jornal americano. (O mesmo que engoliu o sapo de que Dilma estava sendo vítima de um golpe quando, na verdade, foi ela quem deu um golpe no País. Sem dúvida, hora de reavaliar a qualidade de seu correspondente no Brasil…) Pois bem, o jornal usou exatamente a palavra desastre para qualificar o que seria a Olimpíada no Brasil. Foi além: uma espécie de dilúvio bíblico estaria a caminho, como diria Nélson Rodrigues em suas tiradas fenomenais. Terminado o evento, que concentrou as atenções de mais de três bilhões de pessoas, o mesmíssimo New York Times nos informa que foi um sucesso estrondoso.

    Mas – sejamos justos – não foi o único jornal de renome internacional obrigado a engolir as próprias palavras. Vários jornais europeus tocaram o terror, acompanhando a banda fúnebre do jornal nova-iorquino. Logo após o término, a TV Globo se deu ao trabalho de registrar as avaliações da mídia internacional antes e depois das Olimpíadas. No mínimo, seria motivo de constrangimento mudar assim da água para o vinho em poucos dias. No passado, sempre que algum feito extraordinário brasileiro dava mídia, vinha o refrão de que a Europa se curvara diante do Brasil. Desta vez, entretanto, temos razões para estufar o peito. Não só a Europa como os EUA também. 

    Dito desse modo, pode parecer aquele ufanismo ingênuo que, de tempos em tempos, toma conta do País. Cabe, então, perguntar se os fundamentos da proeza são sólidos. A primeira coisa que impressionou o mundo foi a singeleza da abertura do evento. Sem gastos milionários, demos uma demonstração de bom gosto e criatividade extraordinários. A cidade do Rio de Janeiro se transformou, tendo realizado obras há muito necessárias para melhorar significativamente a mobilidade urbana. A Barra passou a ter metrô, facilitando a vida de quem trabalha no centro da cidade. E não foi só ela. 

    Houve, ainda, benefícios colaterais. Quem se desloca entre Petrópolis e Rio, por exemplo, constata que o trajeto voltou a ser feito num período de tempo decente. A (discutível) decretação de feriados durante o evento parece que colocou nossa imaginação para funcionar. Na Av. Brasil, caminhões só  tiveram a permissão de trafegar das 10 às 17 horas, e das 21 às 6 horas da manhã. Essa simples medida desobstruiu a Rio-Petrópolis, evitando o congestionamento enervante na altura do jornal O Globo. Que essa medida iluminada seja mantida em respeito ao velho ditado “tempo é dinheiro”!

    Mas, como sempre, a melhor avaliação é a dos clientes. Pesquisados, 90% dos turistas afirmaram que voltarão ao Rio em outra oportunidade; 83% se encantaram com a torcida brasileira; 78% qualificaram a hospitalidade dos cariocas como ótima ou boa. Melhor ainda: seis em cada dez turistas avaliaram as Olimpíadas no Rio como igual ou melhor do que as similares realizadas em outros países. Nada mal para dar um pé no traseiro do complexo de vira-lata.  Cabe a nós, agora, manter o Espírito Olímpico em forma, aprovando o ajuste das contas públicas e a reforma política para valer para pôr a casa em ordem.

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