• O mundo religioso: as origens do domingo cristão

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  • 23/12/2019 11:32

    Olhando o significado da palavra domingo num dicionário bastante popular, encontramos a seguinte definição: “O primeiro dia da semana, destinado ao descanso e à oração”. Não há como não reconhecer nesta definição uma influência da tradição cristã: a expressão “primeiro dia da semana” remete ao texto bíblico, onde se afirma que Jesus teria ressuscitado depois do sábado (que era o último dia da semana).

    E, no senso comum, o domingo é uma espécie de substituição do sábado judaico, mudança está feita por conta da ressurreição, mas conservando claramente elementos da tradição judaica, como a celebração da ceia (eucaristia, oração) e o dia de descanso (no sétimo dia, depois de ter criado tudo, Deus repousou). A fixação, entretanto do domingo como um dia de descanso em que se rememora a ressurreição de Jesus com uma celebração da ceia, tem uma longa história, bastante complexa e não tão clara. Um dos elementos aqui envolvidos é o surgimento do costume de ter um dia fixo por parte dos cristãos para se reunirem na fração do pão (ceia celebrativa do ressuscitado).

    Há indícios históricos de que este costume aparece já na comunidade cristã primitiva. Dois textos bíblicos são apontados nesta linha. Em Atos dos Apóstolos se pode ler: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para partir o pão” (20,7); e na Primeira Carta aos Coríntios: “No primeiro dia da semana, ponha cada um de parte em sua casa o que bem lhe parecer, de modo que não se façam as coletas depois de eu chegar” (16,2). Embora estes textos não sejam tão claros de que se trate de um dia fixo, textos do início do 2º século cristão são bem mais precisos. Assim, Plínio, o Jovem (+ ca. 114), em carta Imperador Trajano, relata que os cristãos do Ponto e da Bitínia tinham o costume “de reunir-se em um dia fixo antes do amanhecer e de dirigir uma prece a Cristo como Deus” e Inácio de Antioquia (+ ca. 107) relata que localmente esta dia era conhecido como “dia do Senhor”. Escreve ele: “Os que viviam segundo a antiga ordem, viram a nova esperança e já não observam o sábado, mas sim o dia do Senhor, dia em que nossa vida foi enaltecida por Cristo e por sua morte”.

    A expressão grega Kiriake Hemera (dia do Senhor) será depois traduzida para o latim dies Dominicus (ou Dominica die, no latim vulgar), de onde se origina então o nome Domingo para este dia da semana (na língua portuguesa). Se os textos da Carta aos Coríntios e dos Atos dos Apóstolos, escritos algumas décadas após a morte de Jesus, não dão tanta segurança sobre a fixação deste dia, nos testemunhos de Plínio e Inácio de Antioquia, escritos 60 a 70 anos depois da crucificação de Jesus, já aparece com bastante clareza a fixação de um dia do Senhor, mesmo que se saiba se isto era costume para todos os cristãos. 

    Comentários e sugestões: jr.volney@gmail.com

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