• O meu Leblon

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  • 29/12/2015 08:00

    PauloFigueiredo

    Advogadoe jornalista



    Adegradação urbana no Brasil é geral. Na civilização doautomóvel, o trânsito nas grandes metrópoles tornou-se um inferno.Não há mais tempo bom, o rush é permanente. Tenho descido a Serrade Petrópolis, com frequência, a caminho do meu Leblon e dos meusmelhores dias. Encontro o bairro sujo e atravancado pelas obras dometrô. A madrugada é tomada pela mendicância e por meninos de rua,vítimas da miséria nacional.

    OLeblon é um bairro pequeno e sempre foi habitado por uma tribo muitobem identificada. Ao longo de anos partilhei de suas esquinas,livrarias, teatros e bares, todos memoráveis. Fui um dos fundadorese primeiro advogado de sua associação de moradores, a Ama-Leblon.

    Guardocomigo histórias inesquecíveis dos pianos e das noites do bairro.Um lugar mágico. Os bares e restaurantes foram sendo sepultados pelotempo. Hoje, poucos resistem. Um dos sintomas dolorosos doenvelhecimento, para os amantes da mesa, do copo e do bar, além daredução irreversível dos níveis de absorção etílica, étstmunhar o desaparecimento progressivo do palco de tantosencontros, em volta do papo talentoso e descontraído.

    NoRio de Janeiro, do Centro à Zona Sul, fico tstmunhando a falta, ainexistência. São tantos os vazios que doem na alma. Não vejo maiso Pardelas, na México com a Santa Luzia, e o Gouveia há anos deixoude ecoar o saxofone de Pixinguinha. Ainda temos o Villarino,Calógeras com a Presidente Wilson, mas nele não encontramos mais amesa de Vinicius de Morais. Perdemos no Bar Monteiro, o melhorsanduíche de pernil do hemisfério. No Juca’s Bar, do HotelAmbassador, de propriedade da família de Márcio Moreira Alves, oMarcito, fazíamos o ‘happy hour’ diário. Foi o meu ponto,durante anos. Tinha-se no local, conforto único, a grande novidadedo telefone sem fio que chegava até nossas mesas. Jamaisimaginávamos a comodidade do celular, que não nos deixa mais um sósegundo.

    NaLapa restaram apenas o Bar Brasil, o melhor ‘schnitt’ do país, eo Nova Capela, com seu filé à francesa inigualável. Mas há agoraum sem-número de casas noturnas, com shows para todos os gostos,principalmente de música popular brasileira, com apresentação deintérpretes novos. Não deixo nunca de dar uma esticadinha na minhaLapa, reencontro com meus tempos de estudante.

    EmCopacabana e Ipanema foram tantos que a relação tomaria a páginainteira, mas não posso deixar de citar o Allis, o Michel, o Bistrô,o Bar Anglais, o Zeppelin, o Castelinho, o Veloso e o Jangadeiros. Eo botequim do Osmar, sede da famosa Turma da Miguel Lemos, que reuniaRonaldo Xavier da Silveira, Sandro Moreira, João Saldanha, Macaé,Mário Lago e outros.

    NoLeblon não temos mais o Real Astória, o Baco, o Luna, o Bozó, oFinal do Leblon, o Antonio’s, o Manolo’s e o Le Coin. Mais grave,perdemos o piano do Severino e o violão do Luiz Reis. O nossoCabeleira foi o autor de ‘Nossos Momentos’ e da ‘Canção daManhã Feliz’, em conjunto com Haroldo Barbosa.

    Éassim mesmo, paciência. Outras referências urbanas vão surgindo ecom elas a relação com o presente, enquanto o passado desmancha-seno ar, restringindo-se a uma foto na parede, no álbum ou nalembrança de quem ocupou com emoção aqueles espaços.

    paulofigueiredo@uol.com.br



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