• O melífluo

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  • 24/10/2017 08:20

    Nunca a república viu se assentar no trono democrático um melífluo, até o empiema da Dilma e a ascenção do Michel.

    E, ai está, em sua colmeia, o abelhudo melífluo, melífico, mélico, melífero, besuntando tudo de colento mel, escorrendo pelas beiradas das favas. E com favas contadas porque ninguém consegue meter a mão no abelheiro sem levar ferroadas em todos orifícios, sejam elas doloridas ou doces, dependendo da cera que produzem nos plenários dos grandes caixotes.

    O melífluo, de corpinho franzino mas com ferrões aguçados, como as abelhas, possui diversos dons que o diferenciam do restante dos mortais insetos e, um deles, a capacidade de apresentar-se como isento de tudo em meio à borrasca que agita a abelheira toda que esvoaça pela gigantesca colmeia chamada brasília.

    Uma outra característica do melífluo é a agilidade das mãos em coreografias que estão criando inveja nos mais renomados maestros do mundo e, até nos bonequeiros que manipulam merionetes e fantoches, ou atingindo os mágicos e prestigitadores que usam mãos e olhares para confundirem as platéias na obtenção dos efeitos residuais de seus truques e artimanhas.

    E nem se pode comentar, por tão sutil, cada entrada do melífluo nas áreas de blas-blas-blas que, amiude e diariamente, convoca para falar sobre nadas e coisas nenhumas. Tal como fazia a sua parceira em circunstâncias idênticas.

    O importante de tudo, na fluidez quase etérea do personagem, é a distribuição de potinhos de mel e própolis aos zangões que alimentam seu trono e o suportam, tal como as abelhas operárias que trabalham para o sustento da figurinha encasquetada no centro da produção melosa. Isto porque o doce mel serve para dourar os confeitos que cada sequaz alimenta em suas colmeias comunitárias, produtoras de votos que garantem o zumbir de todos em torno das flores da qual extraem a polinização mantenedora das mordomias, empregos e carreirismos políticos dos zangões e zangadas.

    Quem há de mexer com tão tênue e frágil criatura que levita pelos orirficios da colmeia como se a floresta toda não estivesse pegando fogo? Ninguém de quantos poderes beneficiados com o descomprometimento geral, porque cada qual quer mais e mais mel para argamassar os palácios de tanta doçura mélica, cada vez mais povoados de beneficiários das benesses, algumas tão escancaradas que até incomodam abelhas do bem, mas tudo acaba zunindo no fog da poluição ambiental e moral que vai tomando conta de tudo.

    E será que, passado o cataclismo, uma flor brotará no meio das cinzas e destroços, coloridinha, vermelhinha?

    Acreditam muitos que ao descer a poeira da nefanda situação destruidora, de repente, sai de um cubículo, um melífluo falando com as mãos, pegando um jatinho e se mandando para onde o canguru, para sobreviver, faz lotação em sua bolsa marsupial, e os ursos pandas, porque em extinção, vivem no luxo das doações das ongs defensoras dos direitos dos animais.

    E assim, vamos todos nós arrepiando todos os cabelos do corpo cada vez que se reunem as colmeias poderosas que julgam, legislam e executam… Executam? Sim, as abelhas operárias que acreditaram ou não naquele operário conhecido internacionalmente como “nine fingers”.

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