• O melhor colírio é o céu

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  • 03/07/2017 14:05

    Meu mestre de Tai Chi Chuan, Chen Pai Soo, que atualmente mora em Xangai, na China, fez 109 anos neste mês de junho, dando aula e em plena lucidez. Recebi e aproveitei toda sua experiência quando fui seu aluno, costume comum no oriente, mas pouco utilizado no ocidente. Durante o nosso convívio, ele me transmitiu numerosas práticas ligadas ao cotidiano, que procuro utilizar sempre que é necessário ou mesmo rotineiramente. Mantemos contatos periódicos quando procuro atualizar seus ensinamentos. 

    Quando me falava sobre a vida, ele a definia como uma teia tecida por todos nós entre dois mundos a Terra e o Céu. Deles poderíamos captar as energias telúrica e cósmica, utilizando-as para manter a nossa saúde. Quando dava aula de Chi Kung, mostrava a importância de respirarmos de uma forma adequada e voltados para a origem do sopro vital: o norte. Durante toda sua vida acumulou e vem acumulando experiências suas, de antepassados e práticas que comprovaram a eficácia destes procedimentos. Sempre afirma: “ Olhe para o céu, a energia cósmica penetrará por eles”. O tema da teia da vida, também é estudado por Fritjof Capra, em seu livro do mesmo nome, que nos proporciona uma deambulação pelos caminhos do saber científico, social e cultural, abstraído pela cognição humana ao longo da história. Sutilmente demonstra, com argumentação clara e precisa, que é possível perceber, olhar, sentir e fazer o mundo de um jeito novo, sob um novo paradigma, que no livro começa a ser tecido a partir da dedicatória: "À memória de minha mãe …", e da epígrafe inicial: "Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família …". Assim, a teia começa a se esboçar num pensamento que dialoga, religando e reconectando outros pensamentos, num eu/nós que transcende as fronteiras disciplinares para ir a vários campos de conhecimento, unificando-os. 

    Do sistêmico ao complexo, do holístico ao ecológico, vai auto-organizando-se num processo argumentativo de construção sócio-histórica, para propor uma nova visão de mundo, não mais em perspectiva, como o fez em "O Tao da Física", em "O Ponto de Mutação" e em "Sabedoria Incomum", mas configurando um novo jeito de pensar o mundo e compreendê-lo de forma global, contextual, sistêmica e integrativa, refletindo sobre a ciência e suas novas descobertas e saberes sobre e para a vida, em todas as suas manifestações. A nova visão do mundo, postulada por Capra, rompe com a forma de pensar cujo teor é a fragmentação da natureza, do homem, da sociedade, da cultura e da própria ciência e defende uma consciência nova que busque a plenitude humana pautada nos princípios ecológicos de interdependência, reciclagem, parceria e flexibilidade que poderão se manifestar através da ética, da educação e da política, formando uma teia de vida, um jeito de viver e de fazer que respeite a complexidade dos sistemas vivos em sua diversidade, para que haja sustentabilidade.

     A Teia da Vida é um desafio que em sua tessitura promove perplexidade, indignação, rupturas e mudanças, nos convidando à jornada de um novo processo de desenvolvimento mental. Vale o desafio da leitura pela continuidade da "teia da vida" de ensinantes e aprendentes, num eterno processo de co-responsabilidade sobre os outros, sobre nós mesmos, sobre o mundo, a natureza e o universo. Seja sob o enfoque de Chen ou sob o de Capra, o certo é que cada vez mais nos parece, por tudo que está acontecendo, que nos aproximamos de uma mudança radical de valores. Estamos chegando a uma encruzilhada. Cabe a cada um escolher o seu caminho. 

    achugueney@gmail.com


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