O médico poeta
Como é bom, e principalmente confortante, poder ressaltar tantas virtudes, com relação a vida profissional e familiar de um cidadão, a exemplo daquele que passamos prestar a mais justa e sincera homenagem, especialmente pelo extraordinário sentimento de bondade e simplicidade que lhes ornavam o caráter, e também quando se tem a certeza dos laços de amizade que se formaram em razão da aproximação das famílias.
Na verdade, discorrer a propósito de uma figura ímpar é motivo de grande responsabilidade para aquele que se lança a tal investida; por outro lado a honra em poder fazê-lo, mesmo correndo o risco de omissões, nos causa satisfação e alegria, embora por intermédio de toscas letras.
E a pessoa a qual nos referimos é exatamente o Dr. Jorge Ferreira Machado, não nascido em nossa Petrópolis, mas que aqui deixou marcada, de forma indelével, destacada atuação em atividade do mais alto valor, a medicina, a que se dedicou com todo ardor e forças objetivando o trato da saúde daqueles que o procuravam; bondoso e competente, sempre a dar guarida através de seus profundos conhecimentos e da larga experiência conquistada, resultado da dedicação e de estudos em graus sempre elevados.
Uma trajetória dedicada a curar e salvar vidas, fossem de quem fossem.
Com o ora homenageado, infelizmente, não podemos negar, tivemos poucos contatos, a não ser através de encontros quando da participação no Movimento das Equipes de Nossa Senhora.
A destacar, como já enfatizado, a amizade que veio a se concretizar entre minha tia a profª. Elvira Barenco Alonso e a esposa do médico, em razão de aulas particulares ministradas em prol de uma das filhas do casal, fato a nós relatado por minha mãe através de conversa que mantivemos, há anos.
Por outro lado, discorrer a propósito de tão respeitada figura, faz-nos recordar, outrossim, meu pai, que nunca cansou de elogiá-lo, e também a escritora e poeta Hebe Machado Brasil, irmã do sempre lembrado médico.
E vislumbrando o passado, e não poderia deixar de assim ocorrer, torna-se imprescindível frisar a respeito de sua participação na qualidade de professor titular perante à UCP, sem falar de tantas outras valiosas atuações junto a entidades culturais na condição de escritor e poeta, integrando, outrossim, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Assim é que, valendo-nos do ilustre professor e acadêmico Paulo César dos Santos, através da obra “Poetas Petropolitanos – Uma saudade”, cabe ser ressaltado que o médico e intelectual de escol ocupou a cadeira nº 24 da Academia Petropolitana de Letras, “tendo exercido a presidência nos anos de 1972 e 1973, quando comandou as solenidades do 50º aniversário do sodalício”.
Católico fervoroso, colaborou durante anos com a Revista Ação, da Diocese de Petrópolis, como bem fez lembrar o prof. Paulo César.
O ilustre médico – Dr. Machado – como assim todos o chamavam, partiu a 6 de dezembro de 2009, deixando, sem dúvida, gravado para a eternidade o extraordinário exemplo de competente profissional e de poeta da mais fina sensibilidade, como faz explicitar em “Direito à Vida”:
Dois corações vibram por um mútuo amor, / amor verdadeiro, expressão de doação, / em que um deseja / não o sentimento egoísta do prazer, / antes a felicidade total do ser amado. / E desse amor, verdadeiro e profundo, / resulta muitas vezes um novo ser. / É uma nova vida que surge / de abençoada união dos dois corpos / que se completam. / Vida que vive desde o primeiro instante, / apenas encontrados os dois gametas / e que desabrocha, e se desenvolve, e cresce, / no íntimo organismo de uma mulher, / oficina divina, / de onde vai nascer mais alguém. / Como não amar essa nova vida? / Como não reconhecer o seu direito a vida? / Ali está mais um irmãozinho / daquela outra vida que o Espírito Santo, / por amor aos homens, gerou no organismo / de uma outra mulher, Maria, / divina oficina de onde nasceu Jesus.