O idoso no nosso contexto social
Uma das mudanças sociais mais evidentes é a questão do aumento da expectativa de vida do ser humano. Fenômeno mundial, devido aos avanços da medicina, aqui também vivenciamos essa nova realidade. É muito comum encontrarmos nos dias de hoje, idosos com 70 anos ou mais, cheios de atividades, algumas até profissionais, com disposição e energia que parecem definir um novo padrão de comportamento. De fato, podemos falar em mudança de comportamento sem a menor sombra de dúvida. Há décadas atrás, uma pessoa lá pelos seus 60 anos, era tida como alguém que já viveu a vida, devendo em casa, ver o tempo passar rememorando lembranças. Felizmente, esse e outros conceitos mudaram.
A sociedade contemporânea caminha no sentido de “esticar” tanto quanto possível, as possibilidades e as habilidades para a vida, seja em qual idade for. Tendo a medicina moderna como aliada, a superação de problemas de saúde, antes obstáculos para um cotidiano producente, vem se firmando e nos permitindo envelhecer com mais autonomia. Dessa forma, os idosos conseguem ter mais qualidade de vida, contando com um ingrediente próprio: a sabedoria que a experiência dos anos acumula. Mas se por um lado temos que os avanços da medicina ensejam uma mudança de paradigmas relacionados a terceira idade, não podemos deixar de perceber que tais mudanças não devem ser consideradas como um fator isolado.
A família contemporânea também vem sendo reconstituída, resultado de uma série de mudanças de comportamento, que passam inclusive pelo idoso e pelo papel que o mesmo desempenha em seu contexto familiar. Em seu espaço de convívio, o idoso é muitas vezes provedor do lar contribuindo de maneira determinante nas despesas domésticas, além de assumir a criação ou educação de netos. Em um país onde faltam creches públicas para que as crianças permaneçam enquanto pais trabalham, avós e avôs são investidos nesse papel.
Mas essa realidade não é a única que nos faz refletir sobre as questões da terceira idade. A falta de políticas públicas que realmente funcionem e amparem idosos, é com certeza o maior dos problemas, haja vista que não somos mais considerados um país jovem, e temos nossa população idosa aumentando exponencialmente. O Brasil tem hoje 26 milhões de pessoas acima dos 60 anos, e esse número não para de crescer. Em 2007 eles eram 17 milhões e em 2027 essa parcela da população dobrará, chegando aos 37 milhões, de acordo com projeções do IBGE.
Portanto, já passou da hora da efetivação dos direitos e garantias para que , diante dessa nova realidade, sejam conferidos dignidade e respeito aos nossos idosos. A Constituição Federal assim preconiza: Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. Contudo vemos que os mecanismos sociais para atingirmos esse mandamento constitucional ainda estão longe de gerar efeitos. Necessidades básicas como medicação gratuita, atendimento médico prioritário (de verdade!), centros de convivências (ou centros dia) para a realização de atividades estimuladoras, físicas e de contato social, além de casas de acolhimento para idosos carentes são o mínimo necessário para conferir-lhes dignidade.
O Brasil está se tornando um país cada vez mais prateado, antes mesmo de se tornar socialmente equilibrado. Esse é um desafio que precisa ser encarado!