• O Grilo Falante

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  • 22/10/2016 12:00

    O “Grilo Falante” é um personagem imaginado por Walt Disney em 1940, no desenho animado de “Pinóquio”, numa adaptação da figura criada pelo italiano Carlo Collodi, em 1883. O “Grilo” é o companheiro sábio e bem-humorado com a função de ser um tipo de consciência de Pinóquio para bem aconselhá-lo.

    Assim pensando, não sei se serei um “Grilo”, mas sei que incomodo muito e até que posso sê-lo. Que eu seja “Falante”, lá isto sei que sou, pois reconheço minhas falhas (não as qualidades), o que  é sabido e todos comentam. Mas só não sei é se serei “sábio” como o personagem, nem a “consciência” de cada um para dar bons conselhos – só sei que sou muito intransigente com as falhas humanas, como as premeditadas, as disfarçadas, as bajuladoras, as faltas de postura, coragem, de fazer o que deve ser feito – tudo isto escondido nas máscaras e fantasias da vida.

    Por tudo isso, transportei para um soneto (sempre o soneto, este estilo maravilhoso que tudo diz em poucas palavras) –“IMPASSE” :

    “Somos seres incógnitos sem rosto, / que ocupam sem noção, qualquer espaço, / andando num eterno descompasso / em estrada de chão, no rumo oposto.

    Somos seres incógnitos sem posto, / que procuram na vida o melhor traço, / sem importarem com cada estilhaço / que deixa o machucado todo exposto.

    Somos seres incógnitos sem rastos, / sem pegadas, sem cor, sem desenlace, / perdidos, caminhando em campos vastos.

    Somos seres incógnitos no impasse, / por sempre se sentirem todos castos, / só esquecendo a máscara na face”.

    Por outro lado, alguém disse para um amigo, que eu só sei falar de poesia – isto seria pecaminoso ou imoral? Claro que não! Será talvez, o assunto mais sublime, mais elevado, num país que não se habituou a apreciar o belo nas palavras, tal como nos tempos de antanho quando tantas preciosidades foram escritas e hoje repousam, abandonadas, na arca do esquecimento, desprezadas propositalmente. Talvez, até por não terem mais imaginação de criar versos tão profundos e sensíveis, como quando Goulart de Andrade (1881-1936) disse em seu poema “Sonata ao luar”: “Lembrar é viver! É pisar no veludo/ das suaves emoções! É fazer-nos crianças / e brincar outra vez com sonhos e esperanças”. 

    Mas para muitos sapientes atuais que se dizem entendidos em poesia, são versos com montagens irreais e fantasiosas, como classificou Luis Costa Lima fazendo eco a Otto Maria Carpeaux quando disse – “Quem ainda considera a poesia como enfeite decorativo não pode compreender o poeta cuja matéria é a vida presente. Quem aprecia nos versos a harmonia artificial dos ritmos e das rimas, não admitirá que na vida a dissonância é a regra e  que o poeta pode ter todos os privilégios menos o de mentir". Cruzes!

    Gostaria que tais intelectuais apontassem se os versos acima, do soneto “Impasse”, seriam fantasiosos, irreais ou mentirosos, já que espelham o comportamento real e atual do ser humano. Talvez, pela visão destas figuras é que a poesia esteja morrendo na boca dos intelectuais e se recolhendo a um círculo fechado, ininteligível às pessoas comuns, esquecendo-se de que poesia existe em oposição à prosa e que esta não pode ter o enlevo da primeira. Já nosso patrono, Salomão Jorge, arrematava que “poesia é feita para o povo – de maneira simples que possa ser entendida, não para intelectual, já que estes não compram livros, simplesmente ganham”.

     jrobertogullino@gmail.com

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