• O governo Temer

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  • 21/05/2016 08:00

    Antes na catedral, e sábado passado, na Igreja Luterana, tive a oportunidade de ouvir embevecido um concerto de órgão. Nas duas ocasiões, o público presente foi brindado com um telão que nos permitia ver não só as mãos ágeis do organista percorrendo dois teclados, mas também os passos de ballet de seus pés sobre a pedaleira. Esta última é um teclado tocado com os pés, coisa que, sem o telão, o público nem se daria conta da proeza do concer-tista ao coordenar mãos e pés para dar conta do recado. Naquele momento, me veio à mente, que se tratava de uma bela metáfora para definir o governo Temer. Caberia também a imagem popular do malabarista que nos surge diante do sinal fechado mantendo no ar um número crescente de bolas sem deixar nenhuma delas cair. Examinemos o fio condutor de Temer. 

    Antes de mais nada, bom relembrar que ele é uma pessoa educada, capaz de bater lé com cré, evidente em sua primeira fala à Nação. Coisa muito diferente do nem lé, nem cré de Dilma (vade retro!) quando vinha a público. Claro que houve idas e vindas como na questão da redução do número de ministérios, que acabou sendo reduzido para 23, número próximo do americano. Permanece também em aberto a questão de ministros investigados na operação Lava Jato. E outras como não ter mulheres nem negros no ministério. Ou ainda número excessivo de políticos em cargos de ministro. Estaria Temer cometendo erros fatais em suas primeiras inciativas? Creio que não. Vejamos.

    Indo por partes. Ter ministros investigados é diferente de terem sido condenados pela Justiça. Temer deve ter ponderado cuidadosamente tais nomes, apostando em suas competências e dando-lhes o benefício da dúvida face aos eventuais arranhões de credibilidade do novo governo. Um exemplo é o caso do Romero Jucá. A ausência de mulheres e negros não me parece tão importante do ponto de vista simbólico como creem Merval Pereira e Míriam Leitão. Ou será que já esquecemos o forte componente de miscigenação que marca a sociedade brasileira. Certamente, existe boa dose de sangue negro no ministério. (Obama, por exemplo, afirma que não é nem branco nem preto, mas mulato. Mãe branca e pai negro.) Temer tem-se preocupado em colocar mulheres como vice-ministras, que no Brasil designamos por seretário(a) geral de ministério. É notório o poder efetivo exercido por quem ocupa tais cargos.

    Os analistas da cena política parecem estar se esquecendo da famosa regrinha 80/20. Nas empresas, é sabido que, em média, 80% do valor das vendas se concentram em 20% dos clientes. Este é um princípio bastante geral, que se aplica também na formação de ministérios. Ou seja, Temer colocou aquela meia dúzia de ministros determinantes do sucesso de seu governo em mãos competentes e experientes.  Dois bons exemplos são Henrique Meirelles na Fazenda e José Serra no ministério das relações exteriores, que vai cuidar também do comércio exterior.

    A crítica relativa ao excesso de políticos nos demais ministérios revela o lado raposa, no bom sentido, de Temer. Ele não cometeu o mesmo erro crasso de Dilma de confrontar o congresso com a arrogância e a incompetência que lhe eram, e são, típicas. Ele gosta de política e de políticos. Em sua posse, ele fez questão de estender a mão às lideranças políticas que lá estavam. Atitude que Dilma jamais tomou, aguardando que viessem para o beija-mão. Temer sabe que precisa dispor de base sólida no congresso para tomar as duras medidas necessárias para pôr a casa em ordem. Como nos relembrou o ministro Meirelles em sua primeira entrevista: não basta preservar o direito à aposentadoria, mas também a certeza de que o aposentado vai recebê-la no futuro. 

    Podemos afirmar que vai dar certo? Só o futuro dirá. A grande diferença é que o País está agora nas mãos de um profissional competente, e não mais de uma amadora levada ao forno pelo chef trapalhão do PT.

    gastaoreis@smart30.com.br // www.smart30.com.br

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