O fogo, a água e os terremotos
O sentimento de impotência diante de uma tragédia é atenuado quando se consegue salvar a própria vida. A perda de bens materiais, mesmo em se tratando de uma conquista pelo esforço de anos de trabalho, não dói tanto quando se consegue salvar a própria vida. A vida é o bem maior. Contudo há uma dor profunda quando se vê o fruto do trabalho de toda uma vida mergulhado em lamas ou transformado em cinzas.
Temos testemunhado, com mais frequência, catástrofes provocadas por fenômenos naturais que revelam as negligências humanas. Apesar de tantos debates sobre a importância de uma consciência preservacionista em relação ao ecossistema, ainda sofremos com as consequências de ações que contribuem para o aquecimento global.
Segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), agência europeia do clima, o ano de 2024 ultrapassou a marca de 1,5°C de aumento na temperatura média da Terra em relação aos níveis pré-industriais, ou seja, tornou-se o ano mais quente da nossa história. E as consequências desse aquecimento são visíveis nas tragédias que envolvem fenômenos naturais.
Os incêndios florestais iniciados na terça-feira passada (07/01), que devastaram a Califórnia nos Estados Unidos, já são considerados como os piores que atingiram aquela região, algo nunca visto antes. A área afetada passa de 11 mil hectares, o equivalente a 15 mil campos de futebol. Mais de 180 mil pessoas foram orientadas para que deixassem as suas residências em busca de um lugar mais seguro para fugir das chamas que se espalham transformando, em cinzas, casas e vegetações. Dez óbitos já foram constatados. Veículos foram abandonados pelas estradas. Bairros inteiros foram destruídos pelo fogo. E como se trata de uma área urbana, com mansões luxuosas, estima-se que as seguradoras terão um prejuízo bilionário, calcula-se que as perdas sejam, aproximadamente, em torno de US$ 57 bilhões.
Na manhã da citada terça-feira, em outro continente, outra catástrofe ocorreu: um terremoto de magnitude 6,8, segundo o Centro de Redes de Terremotos da China, atingiu o Tibete. O Serviço Geológico dos Estados Unidos afirmou que tal terremoto chegou à magnitude de 7,1. Foram registradas 126 mortes. E 188 pessoas ficaram feridas. As dificuldades para socorrer a população atingida não se limitaram ao isolamento das regiões, mas também pela baixa temperatura que ficou na média de –15ºC.
E aqui, no nosso País, neste período em que as chuvas são mais intensas, temos a insatisfação de ver a história se repetir: ruas alagadas, quedas de barreiras, pessoas e veículos carregados pelas águas das chuvas. Quem mora em Petrópolis sabe o quanto esse cenário é traumatizante. O Rio Grande do Sul ainda carrega as marcas das perdas provocadas pelas chuvas que caíram no primeiro semestre de 2024.
Não tenho estudo suficiente para tecer comentários sobre as questões meteorológicas. Mas diante do que se constata sobre o aquecimento global, é possível deduzir que uma das alternativas para evitar o aumento da temperatura neste planeta consiste em diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Na minha modesta visão, a Terra poderia não sofrer o que está sofrendo. A humanidade poderia estar em estágio mais evoluído no que se refere ao respeito mútuo. As ações humanas predatórias estão colocando em risco a vida no planeta. Tanto a fauna quanto a flora sofrem com a nocividade do homem. As alterações climáticas prenunciam os desastres provocados pelos fenômenos da natureza.
Do que se respira, do que se bebe, do que se come, a natureza participa. Preservá-la é um gesto de gratidão. Mas é preciso dizer que ela fala por si. O desmatamento, a poluição, as produções de gases tóxicos têm reflexos imediatos sobre os habitantes deste planeta.
A cada ano que passa, os desastres são maiores. Não podemos ficar de braços cruzados. O mundo vive em estado de alerta. É preciso que se diga que a vida é prioritária. Todos nós somos responsáveis por isso. Temos as nossas parcelas de culpa. O vazamento de uma torneira, o banho prolongado, o papel de bala no chão, a gordura jogada no ralo da pia, a ponta de cigarro acesa na lixeira, o cano de descarga do carro, da moto poluindo o ar, a fumaça tóxica das fábricas, ou seja, desde as ações mais simples no ambiente doméstico a incêndios florestais criminosos contribuem para o estado crítico em que vivemos. Precisamos também mudar os nossos hábitos.