• O exercício da democracia

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  • 11/12/2017 11:00

    Ouvir torna-se uma tarefa árdua para quem gosta de falar o que pensa, mas tem dificuldade de aceitar a opinião dos outros. Foi na euforia da juventude que mais aprendi a ouvir, porque sempre era cobrado, quando, movido pela rebeldia, queria expor a minha opinião a todo custo. Mesmo sendo alertado dos cuidados que deveria ter ao falar, insistia em dizer o que pensava sem ponderações. 

    Além de evitar as precipitações no calor das discussões que ocorrem quando estamos irritados, o ato de escrever ajuda a organizar o pensamento e a controlar a ansiedade, porque permite ouvir a voz da consciência. E assim, aprendemos a medir as palavras e a calar nos momentos oportunos. Por meio deste exercício, é possível manter o silêncio diante de provocações. Falar e calar nas horas certas são virtudes.

    O conceito de democracia não se restringe ao campo político, é mais amplo, está vinculado ao modo de vida. Na família, na escola, no trabalho, na comunidade, em síntese, em qualquer ambiente social, há regras de relacionamentos em que se preconizam direitos e deveres. Fatores estes imprescindíveis na conduta responsável da cidadania. 

    Todo cidadão deve ser respeitado, porque todos nós somos iguais no que rege os parâmetros da lei e dos princípios democráticos. A igualdade no que se refere a direitos e deveres consiste em um ponto de equilíbrio para manutenção do bem comum. Quando há privilégios e/ou segregações, os conflitos ocorrem mediante as injustiças que as desigualdades estabelecem. 

    Quando massacrada, nenhuma população permanece inerte, age em legítima defesa. E aqui cabe mencionar a origem da palavra democracia, que provém do grego: “demo” significa povo; kracia, governo.

    Em sentido amplo, essa palavra deveria ser empregada para designar o “governo do povo, pelo povo e para o povo”. Quando isso não ocorre na organização política de um país, não é certo chamá-lo de democrático. Como também não se deve chamar de democrata quem prega com palavras a igualdade de direitos, mas age de forma contrária, tendo uma conduta ditatorial e discriminadora.

    Outro equívoco consiste em limitar a democracia ao processo eleitoral, em que o povo escolhe os representantes do poder. Se estes, depois de eleitos, agirem em função de interesses próprios, estarão negando a essência dos princípios democráticos. É triste ver o voto sendo comercializado, tratado como objeto de leilão: “vai para quem der mais”. Isso está ocorrendo no Brasil. A situação tornou-se tão crítica que virou caso de polícia. Há vários políticos presos por crimes que lesaram a Pátria. 

    As “tenebrosas transações” colocaram o país em uma séria crise econômica, que tem raízes profundas na falta de ética, marcada pela endêmica corrupção. Basta olhar o Estado do Rio de Janeiro para ver um exemplo da nociva política corroída por atos ilícitos. Não há o compromisso com o atendimento das necessidades do povo. Fato este visível nas filas dos hospitais, na educação, nas condições das estradas, na insegurança, no abandono dos aposentados… 

     Diante dessa realidade, é fácil constatar que sem a justiça social, o conceito de democracia fica comprometido, não há como existir sem a obediência aos princípios éticos, sem o respeito ao próximo, sem as ações sociais em função do bem comum. O estado de direito não se mantém mergulhado na corrupção. Qualquer reforma política será inócua se não houver uma mudança na conduta ética de quem se propõe a ser representante do povo.

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