O erro na diplomacia do clima
O Assessor Especial para o Clima do governo dos Estados Unidos, ex-senador e ex-secretário de Estado, John Kerry, encerrou sua visita ao Brasil depois de uma reunião com o presidente Lula; com o vice-presidente, Geraldo Alckmin; com a ministra das Populações Indígenas, Sônia Guajajara, e de duas reuniões com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
É de se notar que o presidente Lula já havia encontrado John Kerry na Conferência do Egito, em dezembro de 2022, e que a já então indicada ministra Marina Silva manteve com Kerry dois encontros na mesma ocasião, no Balneário de Sharm el-Sheikh, durante a Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Outro detalhe importante da visita é que ela ocorreu 15 dias após a presença do presidente Lula nos Estados Unidos para um encontro com o presidente Joe Biden, indicação segura da estreita colaboração do Brasil com a agenda norte-americana para os temas do meio ambiente, aquecimento global, neutralização dos gases de efeito estufa e transição energética.
Ao encerrar a visita, o representante especial do clima do governo dos Estados Unidos não anunciou a esperada contribuição para o Fundo Amazônia, mas deixou no ar declaração ambígua a propósito da soberania do Brasil sobre a Amazônia a partir da ideia de que essa parte do território brasileiro é muito importante para o mundo. Seria o caso de informar ao representante do império que o Vale do Silício na Califórnia, as tecnologias lá desenvolvidas e as empresas gigantes lá estabelecidas também são importantes para o mundo, embora os Estados Unidos não ofereçam nenhuma indicação de que estejam dispostos a discutir o papel e o destino do Vale do Silício com o restante da humanidade.
Ao celebrar uma aliança unilateral com os Estados Unidos em matéria de interesse multilateral, como é o caso da agenda do clima, o Brasil comete o erro de renunciar à sua tradição de diplomacia de mediação de conflitos para escolher um lado da mesa de negociações, com as graves consequências decorrentes dessa opção.
Ao adotar a aliança preferencial com os Estados Unidos, o Brasil desconhece a contribuição do embaixador Araújo Castro, ex-chanceler do governo João Goulart e chefe da delegação do Brasil na primeira Conferência do Clima em Estocolmo, em 1972. Araújo Castro, na época, denunciou a tentativa dos países ricos de usar a questão do meio ambiente para a tentativa do que ele denominou de congelamento do poder mundial, que consistia na divisão dos países em dois grandes grupos, um consumidor de recursos naturais e matérias-primas e o outro, fornecedor desses mesmos recursos.
O Brasil deve oferecer sua inestimável contribuição ao debate mundial sobre o meio ambiente e à redução da emissão dos gases de efeito estufa, mas deve também assegurar o direito dos brasileiros ao desenvolvimento pleno e à elevação do padrão de vida material e espiritual, com responsabilidade ambiental e social.