O Encontro do Pai e do Filho!
No Evangelho (Lc 15, 1-32), Jesus narra as três “parábolas da misericórdia”. Quando Ele fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida, da mulher que procura a moeda, do pai que sai ao encontro do filho pródigo e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir (Enc. Deus Caritas est, 12). Com efeito, o pastor que encontra a ovelha perdida é o próprio Senhor que assume em si mesmo, através da Cruz, a humanidade pecadora para redimir. Depois, o filho pródigo, na terceira parábola, é um jovem que, tendo obtido a herança do pai, “partiu para um lugar distante e ali esbanjou numa vida desenfreada tudo o que possía” (Lc 15, 13). Reduzido à miséria, foi obrigado a trabalhar como um escravo, aceitando até saciar-se com a comida destinada aos animais. Então – diz o Evangelho – “caiu em si” (Lc 15, 17). “As palavras que ele prepara para o regresso permitem-nos conhecer o alcance da peregrinação interior que agora realiza… regressa ‘à casa’, a si mesmo e ao pai” (Bento XVl, Jesus de Nazaré). “Vou partir e voltar para meu pai, dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15, 18-19). Santo Agostinho escreve: “É o próprio Verbo que te grita para voltar; o lugar da calma imperturbável é onde o amor não conhece abandono” (Confissões, lV, 11). “Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou” (Lc 15, 20) e, cheio de alegria, mandou preparar uma festa. Nas três parábolas se dá uma importância muito particular à ALEGRIA daquele que encontra o que tinha perdido. O pastor, depois de encontrar a ovelha, “coloca-a nos ombros com alegria”, regressa à casa e convoca os amigos e vizinhos para que se alegrem com ele. A mulher, depois de ter procurado por todos os recantos da casa, ao encontrar a moeda perdida, faz a mesma coisa: “alegrai-vos comigo, porque achei a moeda perdida!” Muito mais faz o pai ao ver ao longe o filho que volta e que há tanto tempo tinha abandonado a casa paterna; não pensa em recriminá-lo, mas em fazer uma festa!
O personagem central destas parábolas é o próprio Deus (que é PAI), que lança mão de todos os meios para recuperar os seus filhos feridos pelo pecado. “No seu grande amor pela humanidade, Deus vai atrás do homem, escreve Clemente de Alexandria, como a mãe voa sobre o passarinho quando este cai do ninho; e se a serpente começa a devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (Dt 32, 11). Assim Deus busca paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho.”
“Assim haverá alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento” (Lc 15, 7). Isto não quer dizer que o Senhor não estime a perseverança dos justos, mas aqui se põe em realce o gozo de Deus e dos bem-aventurados diante do pecador que se converte. É um claro chamamento ao arrependimento e a não duvidar nunca do perdão de Deus.
O pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu amor, no desejo tolo de viver fora do amparo de Deus, de emigrar para uma terra distante, longe da casa paterna. Como se passa mal quando se está longe de Deus! O pecado é sempre uma mentira que se oferece como felicidade. Pecar é renunciar à luz grande da fé para ir atrás de pequenas luzes que iluminam por breves instantes, e depois tudo se torna confuso.
Pergunta Santo Agostinho: “Onde se passará bem sem Cristo, ou quando se poderá passar mal com Ele?”
“Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou” (Lc 15, 20). Acolhe-o como filho imediatamente! Estas são as palavras da Bíblia: cobriu-o de beijos, comia-o a beijos. Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos calar, e temos que dizer-Lhe, como São Paulo: “Abbá, Pai” (Rm 8,15). Quer que Lhe chamemos de Pai, que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de alegria.
“Deus espera-nos, como o pai da parábola, estendendo para nós os braços, embora não o mereçamos. Não importa o que lhe devemos. Como no caso do filho pródigo, o que é preciso é que lhe abramos o coração, que tenhamos saudades do lar paterno, que nos maravilhemos e nos alegremos perante o dom que Deus nos fez de nos podermos chamar e sermos realmente, apesar de tanta falta de correspondência da nossa parte, seus filhos” (São Josemaria Escrivá; Cristo que passa, nº.64).
Essa parábola (Lc 15) deve nos despertar para a beleza do Sacramento da Reconciliação (Confissão). Na Confissão, através do sacerdote, o Senhor devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente. O arrependimento é a medida da fé e graças a ele voltamos à verdade.
O pecado existe e todo o pecado é uma ofensa a Deus, porém a misericórdia de Deus é maior do que todos os nossos pecados. Contudo supõe uma atitude de retorno: CONVERSÃO. Peçamos a Deus a graça da conversão e de amarmos muito o Sacramento da Confissão, onde Ele nos espera, mais real que na parábola, espera para perdoar e para dar vida nova, espera sem trégua o filho desencaminhado. Deus sempre está nos buscando! Não para castigar ou condenar, mas para salvar e fazer feliz.
O Pai é Deus, que tem sempre as mãos abertas, cheias de misericórdia. Em vez de repreender o filho que voltou, como teria direito de fazer, manifesta somente ternura e afeto. Até mesmo faz o contrário do que o filho esperava. Não somente oferece o perdão, o honra e organiza uma festa. As vestes, o anel, a festa, são símbolos da vida nova daquele que se converte, que volta a Deus. O filho mais novo pensa: Eu posso me fazer feliz, preciso apenas de liberdade e dinheiro. Busca apenas o próprio interesse. E o filho mais velho? É um homem trabalhador, que sempre serviu…; mas sem alegria. Serviu porque não tinha outra solução, e, com o tempo, o seu coração tornou-se pequeno. Foi perdendo o sentido da caridade enquanto servia. O seu irmão é já, para ele, “esse teu filho”. É orgulhoso, satisfeito consigo mesmo e convencido de sua honestidade. Crê-se em um pedestal de onde pode se orgulhar e julgar. Até se sente ofendido pelos gestos do Pai, a misericórdia o irrita, porque o egoísmo faz ser ciumento, endurece o coração, cega e fecha aos outros e a Deus. Representa aquele que é fiel em várias coisas, e, por isso, julga que Deus tem dívida para com ele, mas não compreende a misericórdia com relação aos pecadores, parece-lhe injusta. É a figura de todo aquele que esquece que estar com Deus, nas coisas grandes e nas coisas pequenas, é uma honra imerecida.
Deus espera de nós uma entrega alegre, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama aquele que dá com alegria (2 Cor 9, 7). “É uma doce alegria pensar que o Senhor é justo, que conhece perfeitamente a fragilidade da nossa natureza! Por que então temer? Ele que se dignou perdoar, com tanta misericórdia, as culpas do filho pródigo, não será também justo
comigo, que estou sempre junto dEle?” (Santa Teresinha do Menino Jesus). Com alegria sirvamos ao Senhor nas coisas mais pequenas!
Irmãos! Como não abrir o nosso coração para a certeza de que, mesmo sendo pecadores, somos amados por Deus? Ele nunca se cansa de vir ao nosso encontro, percorre sempre em primeiro lugar a estrada que nos separa d’Ele.