O empoderamento feminino lá em casa
É incrível como a minha família tem uma nítida predominância feminina, fato aparentemente inexplicável à luz da ciência. O meu irmão mais velho (Sylvio) teve duas meninas (Eliane e Sheila). O outro irmão, Odilon, ao qual muito devo em termos de minha educação, teve três meninas (Paloma, a famosa atriz Clarice e Joice). O Júlio teve gêmeas (Tânia e Márcia) e entrei nesse processo com um filho (Celso, reitor da Unicarioca) e duas meninas (Andréia, psicóloga, que trabalha comigo) e Sandra (psicanalista e excelente conferencista).
Se vocês pensam que o nosso empoderamento feminino ficou só nisso estão redondamente enganados. Depois veio a sucessão de seis netas, todas mulheres: Giovanna, já casada; Dora, que trabalha na Globo (cinema); Gabriela, também da Globo (redatora do Casseta & Planeta); Fernanda (terceiro ano de Medicina); Bruna, engenheiranda, bailarina e coreógrafa; e Paula, que está concluindo o ensino médio, para depois estudar Direito, segundo sua própria vontade.
Vocês hão de perguntar como são as nossas relações e eu lhes respondo que são as mais amistosas possíveis. As duas últimas netas viajaram com os pais e, via internet, como convêm a essa geração online, mandaram uma mensagem pra mim, dizendo que estavam com saudades e que eu era, para elas, “o avô mais fofo do mundo”. Querem coisa mais bonita?
Converso sempre com a minha mulher Ruth (casamento de mais de 50 anos e amplamente feliz) sobre o que o destino nos reservou, em matéria de herança familiar. Seria injusto de nossa parte se reclamássemos a falta de algum neto, numa atitude que seria logo interpretada como de natureza machista. Estamos contentes, sem contar que, ao entrar na sublime condição de bisavô, é bem possível que se quebre essa hegemonia feminina, embora não haja torcida nesse sentido. Lembro uma frase muito comum entre os cronistas esportivos, que se pode aqui recordar: em time que está ganhando não se deve promover grandes modificações. O que vier está bom e será recebido com o carinho de sempre. Afinal, um avô “fofo” não pode pensar de oura forma, vocês não acham?
Nessa época de empoderamento feminino e sabendo-se que o Brasil tem uma população majoritária de mulheres (53%), o que acontece na nossa família é bem característico e deve ser apreciado como fenômeno natural.