Passagem cara, ônibus superlotados e veículos sucateados: continua o descaso no transporte público
Os flagrantes diários de desrespeito das empresas de ônibus com as pessoas que necessitam do transporte público já foram denunciados aos órgãos públicos e são alvo de ações na justiça. Porém, o sofrimento de quem depende dos ônibus parece nunca ter um fim. Passagem cara, coletivos superlotados em plena pandemia da covid-19, veículos sucateados, linhas que desapareceram e horários que não existem mais são alguns dos problemas enfrentados pelos usuários.
A equipe da Tribuna flagrou no início da noite de quarta-feira (9), um ônibus da linha Elisa Mussel, no Caxambu, da empresa Cidade Real, circulando acima da lotação permitida. O coletivo saiu do ponto na Praça do Skate, no Centro da Cidade, por volta das 18h com passageiros na porta.
Na semana passada, a situação já tinha sido denunciada pelos moradores da região. Desde fevereiro a localidade vem sendo atendida por um micro-ônibus depois de um deslizamento de pedras interditar parte da via. Os moradores questionam a troca do modelo do coletivo na região, uma vez que caminhões circulam normalmente. Além disso, houve supressão de alguns horários, o que reflete na superlotação dos veículos.
Os flagrantes de desrespeito não acontecem apenas no Caxambu. Desde o início da pandemia, a Tribuna recebe quase que diariamente, denúncias de ônibus com lotação acima da permitida, horários que não são cumpridos e linhas que foram retiradas. As denúncias são de diversos bairros da cidade e atingem todas as empresas de ônibus.
Problemas de segurança envolvendo os veículos também são denunciados pelos usuários. Na semana passada um coletivo da Petro Ita, que faz a linha Sargento Boening, colidiu com um muro após perder o freio. Na mesma semana, no Quarteirão Brasileiro, um ônibus da Viação Cascatinha quebrou na Rua Professor Stroler, deixando a região sem transporte.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, as empresas de ônibus retiraram boa parte dos coletivos de circulação alegando baixa demanda. Uma ação na justiça proposta pelo Ministério Público (MP) pede que 100% da frota volte a circular na cidade, mas até o momento, não há uma definição sobre o assunto. Estima-se que 70% dos ônibus estão operando no transporte público do município.
Em nota, a Prefeitura informou que as fiscalizações têm sido realizadas diariamente pelas equipes da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes – CPTrans. Já em relação à operação com 100% da frota, lembrou que o município está cobrando este retorno na justiça. Sobre a obra na Rua Bartolomeu Sodré, informou ter previsão de 20 a 30 dias para conclusão, e que o trecho que sofre a intervenção foi interditado pela Defesa Civil para o tráfego de ônibus convencionais. Para manter o atendimento às pessoas que dependem do transporte público na região, temporariamente, foi colocado um microônibus. A Prefeitura destacou, também, que a CPTrans vai intensificar a fiscalização da operação na região.
O Setranspetro informou que, por determinação da Defesa Civil e da CPTrans, está proibida a circulação de qualquer veículo grande e pesado na Rua Bartolomeu Sodré, no Caxambu, desde o dia 20 de fevereiro deste ano, quando houve a queda de uma barreira na região, deixando a localidade em meia pista até hoje.
Para não deixar de atender os passageiros, as empresas de ônibus Cidade Real e Petro Ita tiveram que substituir o ônibus convencional pelo micro-ônibus, sem qualquer prejuízo aos clientes. As operadoras seguem pedindo a manutenção da via atingida no Caxambu, por meio de ofícios, para que seja possível a retomada normal da operação com ônibus convencional.
Temporariamente, a Cidade Real colocou dois micro-ônibus para atender a linha 135 – Caxambu Luzitano (Via Eliza Mussel), com frequência a cada 30 minutos. A Petro Ita deslocou um ônibus do tipo micrão para a linha 470 – Santa Isabel, com reforço de um segundo veículo nos horários de pico.
O Setranspetro também esclarece que, para preservar os empregos dos colaboradores, as empresas adotaram a Medida Provisória 1.045/2021 que permite a redução de carga horária proporcional ao salário, suspensão temporária de contratos e estabilidade trabalhista por período igual ao praticado nos acordos de redução e suspensão.
A operação do sistema está acontecendo, em média, com 75% da frota de maneira fixa, e conta com reforços em horários de pico. Inclusive, há meses, diversas linhas de ônibus operam com 80% a 100% da frota, mesmo com a demanda de passageiros que usam o transporte em torno de 60%, se comparado ao que era transportado antes da pandemia.
O Setranspetro informa que os pareceres da CPTrans e do próprio Ministério Público reconhecem o prejuízo do Sistema de Transporte e a necessidade de reequilíbrio. Já existe, inclusive, decisão liminar que também define aporte financeiro para retorno de 80% da frota. As ações movidas pelas empresas de ônibus e pelo MP tratam deste assunto e o Setranspetro segue confiante no diálogo com o poder público municipal.