• O coração é um sacrário

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  • 09/02/2022 08:00
    Por Fernando Costa

    Ele dói e rememora as palavras do Senhor Faustino dos tempos de infância em Hermogênio Silva. É decantado na canção “Carinhoso” composto por Pixinguinha, que também assinava  Vianna Júnior e outros.  “Meu coração, não sei por que, bate feliz, quando te vê”…E não para aí. O samba anacrônico “Coração” de Noel Rosa, “Coração Materno, de Vicente Celestino, “Coração Leviano” de Paulinho da Viola, “Bate, bate, bate coração, dentro desse velho peito, interpretada pela própria autora, a  maravilhosa cantora Elba Ramalho.

    Zeus, também, na mitologia grega deu relevo ao coração abrindo o peito e, arrancando-o ofereceu ao filho Apolo como prova de seu amor… Clemente de Alexandria, já no século III mandava imprimir nas solas de suas sandálias palavras de amor e paz capazes de enternecer os corações deixando um rastro de luz onde passasse.

    Exupèry, dentre suas pérolas, desde tenra idade gravou em meu íntimo: “o essencial aos olhos é invisível, a gente só vê bem com o coração”. O fundamental é que o coração é o recôndito e morada Divina. E ele não está acessível ao olhar, no entanto, o nosso exterior manifesta o que reside em nosso coração. O semblante, os lábios e atos exprimem a alma.

    Encontramos nas Sagradas Escrituras, por exemplo, 1Sam 16,7: “O homem olha a aparência, mas Deus olha o coração.”  O coração não pode se transformar num receptáculo de rancor, maldade e desejos negativos; “a inclinação do mau coração” conforme pontifica em Jr. 7,24, Jesus nos conclama ao amor e nos diz: “Darvos-ei um coração novo, porei em vós um espírito novo, tirarei de vossa carne o coração de pedra e vos darei um coração de carne. (Ez.36,25). Os fariseus eram presos somente em formalismos, no entanto, guardavam o mal em seus corações.

    Hoje não é diferente. Precisamos nos libertar da injustiça, maus desejos e de tudo que torne a humanidade impura. O coração se confunde com a alma. Vez por outra dizemos, fulano tem uma bela alma. É o princípio da vida, ela e o corpo são dependentes, mas, harmônicos. Revela o caráter, sentimento e grandeza humana. Uma pessoa virtuosa de sentimentos traspassa o espírito. Etimologicamente se traduz pela origem de vida, do latim, anima, isto é, sopro, ar…

    A Carta aos Romanos 5,5 nos diz: “Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Em Efésios 3, 17 proclama: “Que Cristo habite vossos corações, arraigados e consolidados na caridade.” O apóstolo e evangelista Mateus 6,21 e 11,29 diz que “onde está o teu tesouro, lá também, está o teu coração.” E Jesus fala “Porque eu sou manso e humilde de coração e a chave e repouso para vossas almas.” Como vimos, o coração, não é tão somente um órgão torácico, oco e muscular, nem apenas um substantivo masculino, que funciona como motor central da criação do sangue. 

    Parafraseio Maria Helena Azevedo, irmã de Aloisio Azevedo escritores que fazem parte de meu ontem de menino através da  obra, “Por onde andou meu coração”. O meu também, teimoso que é, reluta em saltar de meu âmago e quando menos apercebo estou  subindo em árvores, colhendo os apitos dos mulungus em flor, goiabas, mangas   e descendo morro abaixo nas canoinhas que protegem os cachos de coco, nos barquinhos de jornal flutuando na correnteza das águas da chuva, brincando de pique, esconde-esconde, roda, teatrinho ou até me vejo a riscar o céu qual pássaro, anjo alado mesmo não sendo um Querubim. 

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