• O comprador de ilusões

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  • 17/03/2017 12:00

    Entre um sobressalto e outro, o brasileiro prosseguia na sua caminhada acompanhando as oscilações da agitada vida republicana do século XX na ilusão de que o “petróleo é nosso”, como se realmente nos pertencesse.

    Da poltrona assistia-se a política do “café-com-leite”  iludindo e ditando o poder no Brasil daqueles tempos. 

    A partir de uma espécie de segundo grito do Ipiranga na década de 40, reverberou no mundo afora a voz poderosa do escritor austríaco Stefan Zweig  predizendo,  "Brasil, o país do futuro",  o que fez crer que a exaltação tenha tocado fundo a alma do brasileiro.

    “Ilusionistas”, profissionais plenamente vocacionados, resolveram entrar em cena para vender de tudo e a todos, sem acanhamento.

    E o “espírito” permaneceu e hoje se compra toda e qualquer ilusão. 

    Compra-se a formação acadêmica na ilusão de um dia portar um doutor à frente do nome sem jamais apresentar tese de doutorado e a final, infelizmente,   sequer obter ocupação no ramo profissional escolhido.

    Outros, mediante pagamento, compram a ilusão da prosperidade material aonde deveriam buscar o progresso espiritual.

    Milhares em todo o país formam longas filas nas portas das lotéricas para alimentarem a ilusão de conseguir a fortuna fácil, a independência financeira.

    Compramos a conversa fiada de um hábil vendedor de ilusões e de sua boneca de ventríloquo que ofereceram a ética e a honestidade na vida pública, e entregaram a sistematização e o recorde da corrupção e 13 milhões de desempregados.

    Compramos os mais variados medicamentos produzidos por poderosos laboratórios para alimentar a ilusão da saúde e deles somos cada vez mais dependentes.

    Pagamos a previdência com a ilusão de receber atendimento hospitalar humanamente admissível e no mais das vezes nada se recebe em contrapartida e, menos ainda, o amparo de uma aposentadoria minimamente digna para o conforto dos últimos dias.

    Para a ilusão da eterna juventude pessoas se fartam do uso de cosméticos, cremes, cirurgias plásticas, banhos de imersão das mais diversas ervas encontradas no  planeta.

    Tudo, ou quase, comprado a prazo e ao final do crédito pelo desgaste natural das coisas se impõe a renovação e repetimos tudo de novo. A prazo, e com ilusão, claro !

    Ao final, compramos muito,  mas pouco temos…!

    Hoje não nos entregam nem mesmo o  “certificado de bom comprador”, ou o “diploma de bem-comportado”! 

    O futuro chegou, a máxima de Zweig não se confirmou, e o “país do futuro” continua patinando.

    Fato mesmo, e aí nada tem de ilusão,  é o déficit de 170 bilhões e uma dívida interna de alguns trilhões a que o brasileiro, eterno iludido terá de pagar!

    marcosbaccherini@yahoo.com.br







     

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