O comprador de ilusões
Entre um sobressalto e outro, o brasileiro prosseguia na sua caminhada acompanhando as oscilações da agitada vida republicana do século XX na ilusão de que o “petróleo é nosso”, como se realmente nos pertencesse.
Da poltrona assistia-se a política do “café-com-leite” iludindo e ditando o poder no Brasil daqueles tempos.
A partir de uma espécie de segundo grito do Ipiranga na década de 40, reverberou no mundo afora a voz poderosa do escritor austríaco Stefan Zweig predizendo, "Brasil, o país do futuro", o que fez crer que a exaltação tenha tocado fundo a alma do brasileiro.
“Ilusionistas”, profissionais plenamente vocacionados, resolveram entrar em cena para vender de tudo e a todos, sem acanhamento.
E o “espírito” permaneceu e hoje se compra toda e qualquer ilusão.
Compra-se a formação acadêmica na ilusão de um dia portar um doutor à frente do nome sem jamais apresentar tese de doutorado e a final, infelizmente, sequer obter ocupação no ramo profissional escolhido.
Outros, mediante pagamento, compram a ilusão da prosperidade material aonde deveriam buscar o progresso espiritual.
Milhares em todo o país formam longas filas nas portas das lotéricas para alimentarem a ilusão de conseguir a fortuna fácil, a independência financeira.
Compramos a conversa fiada de um hábil vendedor de ilusões e de sua boneca de ventríloquo que ofereceram a ética e a honestidade na vida pública, e entregaram a sistematização e o recorde da corrupção e 13 milhões de desempregados.
Compramos os mais variados medicamentos produzidos por poderosos laboratórios para alimentar a ilusão da saúde e deles somos cada vez mais dependentes.
Pagamos a previdência com a ilusão de receber atendimento hospitalar humanamente admissível e no mais das vezes nada se recebe em contrapartida e, menos ainda, o amparo de uma aposentadoria minimamente digna para o conforto dos últimos dias.
Para a ilusão da eterna juventude pessoas se fartam do uso de cosméticos, cremes, cirurgias plásticas, banhos de imersão das mais diversas ervas encontradas no planeta.
Tudo, ou quase, comprado a prazo e ao final do crédito pelo desgaste natural das coisas se impõe a renovação e repetimos tudo de novo. A prazo, e com ilusão, claro !
Ao final, compramos muito, mas pouco temos…!
Hoje não nos entregam nem mesmo o “certificado de bom comprador”, ou o “diploma de bem-comportado”!
O futuro chegou, a máxima de Zweig não se confirmou, e o “país do futuro” continua patinando.
Fato mesmo, e aí nada tem de ilusão, é o déficit de 170 bilhões e uma dívida interna de alguns trilhões a que o brasileiro, eterno iludido terá de pagar!
marcosbaccherini@yahoo.com.br