• O Clero na Academia

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  • 02/abr 08:00
    Por Fernando Costa

    A Academia Petropolitana de Letras está a celebrar cento e um anos de ininterruptas atividades acadêmicas dignificando seu objetivo em reconhecimento aos “Titulares, pessoas que se destacarem por sua cultura e por suas atividades nas letras, nas artes ou na imprensa, residentes e domiciliados em Petrópolis”. A Igreja, por exemplo, há séculos contribui em prol das letras em especial no Brasil.

    A começar por seus Patronos, a A.P.L. entre os quarenta que a compõe, cinco são prelados: Dom Francisco do Rego Maia, Cadeira 19; Dom Azeredo Coutinho, Cadeira 26; a corte imperial do Brasil teve um memorável orador sacro, Frei Francisco de Monte Alverne, Cadeira 29, Dom Agostinho Benassy, Cadeira 30 e o Padre Benedito Moreira, Cadeira 39.

    No ano em que a tradicional arcádia completa o centésimo primeiro aniversário integra o seu quadro o Excelentíssimo e Reverendíssimo Bispo Diocesano Dom Gregório Paixão, titular da Cadeira 30, patronímica de Dom Agostinho Benassy.

    Dom Filippo Santoro, titular da Cadeira 30, patronímica de Dom Agostinho Benassi ao ser nomeado Arcebispo de Taranto, Itália foi transferido ao Quadro de Eméritos e, Dom José Fernando Veloso e Dom José Carlos de Lima Vaz, Bispos Eméritos de Petrópolis e Dom José Pereira Alves, falecidos, integraram os quadros de membros efetivos, os Monsenhores Conrado Jacarandá, Francisco Gentil Costa, Gilberto Ferreira de Souza, Paulo Elias Daher Chedier e o Padre Lúcio Gambarra representaram o clero diocesano nesse panteão e, a OFM, os Freis Antônio Moser e Alberto Beckäuser.

    Entre seus Membros Honorários estão os Freis Fernando Araújo Lima, Ivo Müller, Vitório Mazuco, Ludovico Garmus, Eloy Piva e Ronaldo Fiuza e, já falecidos o Bispo Emérito de Petrópolis, fundador do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra e o Padre José Augusto Carneiro.

    A Igreja sempre esteve presente na vida acadêmica, prelados patronos, acadêmicos imortais que alçaram voo aos páramos celestiais e o atual, membro efetivo, Dom Gregório Paixão, em plenas atividades eclesiásticas e acadêmicas.

    A Igreja atua de forma ampla e sua presença nas artes em particular, na literatura é visível e reconhecida. Ela faz uma simbiose entre o humano e o divino, a beleza e a bondade, o amor e a arte. Eles se irmanam.

    Compulsando os alfarrábios da Igreja Católica onde se descreve o Concílio Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica e o Direito Canônico, “Entre as mais nobres atividades do espírito humano contam com todo o direito as belas-artes, principalmente a arte religiosa e a sua melhor expressão, a arte sacra.” “A beleza de Deus é infinita e estão expressas de certa forma pelas mãos humanas.” Elas se destinam ao louvor e glória a Deus e, como diz o texto, sua função é a conversão dos corações humanos. Por isso, a Santa Mãe Igreja sempre foi amiga das belas-artes e de seu nobre ministério, principalmente procurando e instruindo os artistas para que os objetivos pertencentes ao culto divino fossem dignos, descentes, belos sinais e símbolos de coisas do alto. (Sacrosanctum Concilium,  n. 122).

    A Igreja cuida com esmero dos textos eucológicos, considerando que a eucologia é um neologismo proveniente de duas palavras gregas: εὐχή (euché) = oração e λόγος (logos) = ciência, palavra, discurso  ao se unirem formam a palavra eucologia, isto é, a ciência que estuda a oração.

    A Santa Mãe Igreja e suas assembleias litúrgicas são verdadeiras instituições culturais pois, em sua maioria, é composta por sacerdotes cultos e dotados de notável saber em vários matizes proporcionando o encantamento, o enriquecimento  literário, místico e social onde a exegese e a hermenêutica se fazem presente trazendo aos nossos dias os fatos do Antigo e Novo Testamento desde o Gênesis,  Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Históricos, Crônicas, Poéticos, Sapienciais, Proféticos, Evangelhos, Epístolas, Apocalipse  e etc. Os textos bíblicos, os cantos e as preleções litúrgicas contribuem ao aprimoramento da comunidade.

    Há tempos, ao ler a Carta aos Artistas, publicada em 1999, São João Paulo II, também comunicador e artista, deu ênfase à relação da Igreja com as artes. Falava-nos da “epifania da beleza”.

    Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, portanto, o artista é a imagem de Deus. Interessante é que quanto mais consciente desse dom, maior é a contemplação e a gratidão como entoasse um hino em louvor.

    Ao contemplar a Pietá, marco da produção renascentista, esculpida em mármore de Carrara, Itália, executada pelas mãos de Michelangelo ou a abóboda da capela Sistina, pelo mesmo artista, ao admirar uma escultura  de Aleijadinho sinto nessas obras o plasmar não somente de uma escultura ou pintura, mas o amor em sua plena acepção.

    “Deus vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa ou muito bela.” Sim, o bom e o belo se unem, tanto que Platão escreveu: “A força do Bem se refugiou na natureza do Belo.”

    Somos uma centelha Divina. Uns têm o dom à culinária, outros, cuidar do jardim, e assim, o poeta, pintor, escritor, músico, escultor, arquiteto, ator, atleta… Feliz daquele que coloca o seu dom em favor do próximo.

    Evidente, os trabalhadores, cientistas, professores, técnicos nas várias áreas profissionais contribuem ao engrandecimento e prestam relevantes serviços á humanidade. Seguindo este diapasão merecem lugar ao pódio os nossos pais, pois, contribuem ao crescimento e o progresso na interminável “arte de educar”.

    A sociedade civil e a Igreja têm no artista o centro de referência ao estímulo  e desafio dos cristãos a exemplo da manifestação do “Deus – Mistério” e florescer da beleza “exempli gratia” o provimento da linfa do “mistério da Encarnação – e o Verbo se fez carne”, amplo capítulo de fé e beleza.

    São Francisco de Assis exclamou diante de Deus: “Vós sois beleza!”

    Revivo as aulas de Patrística em fins dos anos 90 no Curso de Teologia, do Instituto Teológico Franciscano onde reluzem os Santos Agostinho, Ambrósio, Efrém da Síria, Hilário, Prudêncio, Paulino de Nola, Gregório de Nanzianzo. Reportemo-nos aos escritos dos Evangelistas,  em relevo o apóstolo Paulo e, também, Lucas. O Oriente e o Ocidente nos legaram célebres autores de textos litúrgicos a exemplo dos Papas  Gregório Magno, Leão Magno e Gelásio.

    Se na Idade Média os textos em latim trouxeram uma mudança, hoje  a produção teológica, a oratória e a poesia florescem com eloquência. Quantos de nós já lemos ou ouvimos falar de Dom Marcos Barbosa, Pe. Antônio Vieira, Monte Alverne, Pe. José de Anchieta, Dom Aquino Corrêa, Pe. Manuel Bernardes, dentre outros?

    Estas reflexões seriam incompletas sem a presença de Maria Santíssima, fonte de luz e suprema beleza, gerou Jesus – a Luz do Mundo.

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