• O Caminho da Resiliência

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  • 09/out 08:00
    Por Gil Kempers

    As mudanças climáticas e a crise no sistema de saúde

    Considerada uma das maiores ameaças do século XXI, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas podem representar a morte de mais de 5 milhões de pessoas, cerca de 250 mil por ano, proveniente de doenças respiratórias, transmissão de doenças como dengue e malária, bem como o agravamento de doenças crônicas. Além disso, os prejuízos de danos chegam a casa de US$ 4 bilhões por ano até 2030.

    Para frear esse impactos, são necessárias medidas emergenciais tais como planos de contingências específicos para desastres, incluindo ações de saúde como eventos extremos e surtos de doenças sensíveis ao clima. A falta de ações preventivas por parte dos governos é um ponto bem sensível para essa pauta.

    Para melhor tratar do assunto, conversamos com dois especialistas no assunto, Cel BM Miura, Superintende de Saúde da Secretaria de Defesa Civil (SEDEC) e Cel BM Casemiro, Presidente do Colégio Brasileiro de Medicina de Desastre e Catástrofe (CBMDC).

    No Brasil, especificamente, as ameaças oriundas das chuvas intensas provocam centenas de mortos e feridos, por intermédio dos movimentos de massa e dos eventos hidrológico, tendo ainda como consequência, a proliferação de doenças infectocontagiosas, tais como doenças de veiculação hídrica (ex.: leptospirose).

    Nesta linha, os incêndios florestais também trazem um considerável impacto sobre o sistema de saúde, por conta das doenças respiratórias, dermatológicas, dentre outras, bem como o agravamento dos quadros crônicos. Assim, os sistemas de saúde deveriam ter um preparo específico para atender essa demanda, bem como um plano de contingência para absorver esse impacto, evitando filas e a dificuldade de atendimento para as demandas extraordinárias, gerada pelas mudanças climáticas.

    É importante ainda olhar para os hospitais com uma visão resiliente, como uma instituição de saúde preparada para absorver os impactos das mudanças climáticas, seja por eventos de inundações, deslizamentos, ondas de calor, sem comprometer sua capacidade de prestar um serviço de qualidade e essenciais para a população. Assim, é possível projetar hospitais com equipe treinada com capacidade de se inserir neste cenário. Além dos recursos humanos, o apoio logístico e equipamentos são fundamentais diante dessa realidade, incluindo equipamentos para situações críticas, materiais resistentes e um sistema de energia independente e com redundância, garantindo o funcionamento do hospital em situações de contingência.

    É importante também a utilização de uma gestão sustentável dos recursos, como o uso eficiente de água e energia, bem como uma eficaz gestão dos resíduos. É possível adotar uma série de avanços tecnológicos, tais como reutilização de água, captação de água pluvial, uso de fontes alternativas de energia, dentre outras soluções baseadas na natureza.

    Nesta esteira, garantir uma redundância dos sistemas críticos de um hospital, tais como eletricidade, refrigeração, comunicação e mobilidade e acesso ao hospital são imperiosos para que se mantenha o hospital sem a interrupção de seus serviços durante a crise, funcionando de maneira autônoma.

    Ainda na linha de se ter hospitais resilientes, são necessários planos de contingência e protocolos de emergência, testados e revisados periodicamente com todos que tripulam o hospital, para resguardar suas vidas e garantir, da melhor forma possível, a continuidade do cuidado ao paciente. A manutenção do equipamento de saúde no cenário de catástrofe, se inicia com a alta gestão elegendo e apoiando o time de elaboração dos protocolos, cujo objetivo é envolver todo “staff” nos processos de resposta a serem discutidos, desenvolvidos, implementados e testados.

    O desenvolvimento de parcerias com uma rede colaborativa, como apoios governamentais, com ONGs e outras instituições que possam colaborar com a coordenação de respostas rápidas e eficientes devem ser estabelecidas antes dos desastres, de forma a facilitar a atuação em uma situação crítica e tal contexto esta no rol de plano de auxílio mútuo.

    O monitoramento dos riscos e a atualização periódica dos planos é também uma prerrogativa dos hospitais, de forma a se manterem sempre prontos para atuar em calamidades, adquirindo assim a resiliência necessária para atuar, aproveitando as recentes mudanças climáticas, para cada vez mais estar em condições de atuar em situações mais extremas.

    Assim, as práticas de inclusão de uma visão de gestão de risco e gerenciamento de desastres em uma visão acoplada ao sistema de saúde, garante a manutenção de um dos serviços mais essenciais durante os desastres, e a experiência de ter vivido muitos dos grandes desastres no país recentemente, tais como o Desastre de 2022 em Petrópolis, o desastre de São Sebastião em SP em 2023 e o Desastre do Rio Grande do Sul em 2023, onde a condição dos hospitais foi um dos gargalos existentes, necessitando de uma grande mobilização de recursos na resposta aos desastres, indicam a necessidade de uma melhor preparação neste campo, em todas as esferas de governo. Não é mais aceitável passar por situações críticas sem nenhum planejamento prévio.

    É importante usar o tempo de não desastre, para a preparação para esse enfrentamento, uma vez que diante do cenário das mudanças climáticas, indicam um agravamento do quadro, seja pela redução do tempo de recorrência entre os eventos extremos ou pela intensificação dos fenômenos, mas é certo que novos eventos extremos, afetarão nosso país, e a preparação para esses eventos, deveria ser uma prioridade, para todos os governos.

    Forte abraço e fica meu agradecimento aos Cel BM Miura e Cel BM Casemiro, pelo papo e enriquecimento no diálogo sobre esse assunto tão importante!

    Seguimos firmes!

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