• O Caminho da Resiliência

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  • 01/out 08:00
    Por Gil Kempers

    Melhoria da Malha de Radares no Brasil e na Emissão de Alertas

    Os radares meteorológicos têm uma função muito importante no sistema de defesa civil, especialmente no monitoramento e na emissão de alertas. Eles têm a função precípua de localizar e monitorar as precipitações, como chuva, neve e granizo, bem como os demais fenômenos atmosféricos relacionados ao tempo. É importante notar que os desastres no Brasil, que causam mortes, danos e prejuízos, estão diretamente relacionados às chuvas intensas, que provocam eventos hidrológicos e movimentos de massa. O uso da tecnologia Doppler nos radares permite medir a velocidade dos movimentos radiais dos hidrometeoros (partículas de água), o que ajuda a determinar a estrutura das tempestades e detectar correntes de vento associadas a eventos extremos. Podemos também considerar que os radares têm um papel importante na previsão de curtíssimo prazo, que chamamos de nowcasting. Essa previsão auxilia sobremaneira o monitoramento em casos de desastres socioambientais e apoia de maneira eficiente a aviação.

    Neste contexto, não é possível aferir com certeza a porcentagem exata da cobertura dos radares em todo o território brasileiro, principalmente pela divergência de fontes, mas é certo afirmar que não existe uma cobertura total do território, muito menos com redundância de tipos distintos de radares, como Banda X, S ou C. Em muitas regiões, um único radar cobre a área, e quando ele entra em manutenção ou por algum motivo está fora de uso, a região fica desprotegida de informações de natureza meteorológica, o que pode prejudicar o monitoramento e, especialmente, a emissão de alertas. A maior concentração de radares está nas regiões Sul, Sudeste, parte do Nordeste e Centro-Oeste, mas grande parte deles é voltada para a aviação e apenas apoia o monitoramento meteorológico. O CEMADEN vem se esforçando para aumentar a malha de radares, especialmente nos municípios mais vulneráveis a eventos extremos. Contudo, tendo em vista a extensão territorial do Brasil e a intensificação dos fenômenos extremos por conta das mudanças climáticas, é necessário aumentar o enfoque neste sentido, principalmente buscando melhorar a emissão de alertas para as comunidades, com maior antecedência, para aumentar o tempo de resposta da população aos desastres. Em 2020, estavam em funcionamento 27 radares no país, o que é claramente insuficiente para atender à demanda pontual do território. Desta forma, é imperioso um esforço das diversas esferas de governo para aumentar o quantitativo de radares, bem como a diversificação dos tipos de radar, a fim de atender a demandas especiais, locais e necessárias.

    Foto: Malha de radares do Brasil. Fonte: Redemet

    Outro grande desafio neste processo é a emissão de alertas. Cabe, neste momento, salientar a importância do CEMADEN Nacional, criado em 2011. Como uma das ações em resposta à tragédia da Região Serrana do Rio de Janeiro, o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais foi criado pelo Governo Federal. No entanto, essa brilhante iniciativa não foi acompanhada pelos demais governos estaduais, como ocorreu no Rio de Janeiro, que criou posteriormente o CEMADEN-RJ com foco exclusivo no estado. De maneira simples, o CEMADEN Nacional deveria, em tese, cuidar das macrorregiões, emitindo alertas para que os estados os tratassem em suas regiões, e os órgãos estaduais validassem esses alertas. Contudo, poucos estados desenvolveram essa ferramenta. Ainda nesta linha, após a validação e análise dos órgãos estaduais, os municípios deveriam validar e replicar essa informação em nível municipal. Infelizmente, porém, a grande maioria dos municípios não dispõe de equipe técnica nem quadros operacionais capazes de tratar esse dado técnico. Ainda é uma realidade que municípios tenham em suas defesas civis, por vezes, apenas um ou dois funcionários, sem treinamento, para o enfrentamento aos eventos extremos e desastres em todo o país. Foi possível verificar, em 2024, que muitos municípios no Rio Grande do Sul não tinham sequer a pasta da Defesa Civil em suas estruturas de governo local, dificultando sobremaneira os trâmites administrativos e a solicitação de recursos pós-tragédia, via Sistema Integrado de Informação de Desastres (S2ID) do governo federal.

    Assim, cabe hoje ao CEMADEN Nacional emitir alertas para todo o território nacional, o que é humanamente impossível, uma vez que são necessários recortes especiais, cuidados pontuais e uma equipe muito grande para dar conta de mais de 5 mil municípios. Esse processo precisa ser revisto, e os municípios e estados devem assumir suas responsabilidades na emissão de alertas e na antecipação dos protocolos. No entanto, isso requer uma estruturação mínima do sistema de defesa civil, em nível federal, estadual e municipal, sendo este último o elemento de referência. O fato é que, enquanto esse processo não for revisto, a população segue em risco, com alertas muitas vezes genéricos, com pouca antecedência e nenhuma predição. Especialmente diante deste cenário, é importante que este assunto tenha a relevância necessária para que os gestores públicos pensem em mitigar desastres. Um dos elementos mais importantes para isso é a emissão de alertas precoces e eficientes, capazes de permitir que a população desenvolva as ações não estruturais necessárias e de autoproteção.

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    Contato com o autor: gkempers@id.uff.br

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