
O Caminho da Resiliência
O terremoto no Afeganistão: a realidade social como desafio em um desastre
Infelizmente, não é novidade sermos surpreendidos com notícias de uma área afetada por um terremoto, que, por sua vez, pode desencadear um tsunami. Desta vez, o Afeganistão foi diretamente afetado por um terremoto de magnitude 6.0 na Escala Richter, que vai até 9.0.
Até a elaboração deste texto, já foram registrados 1.000 mortos e mais de 3.000 feridos. É possível considerar que a elevada quantidade de vítimas, mesmo com o pouco tempo de ocorrência, tem uma estreita relação com as condições estruturais das edificações e com a situação socioeconômica da região. Podemos afirmar que o alto número de vítimas está diretamente ligado à elevada vulnerabilidade local, já que o país não está preparado para enfrentar desastres dessa natureza.
Nesse sentido, é importante entender que os desastres relacionados a terremotos estão cada vez mais conectados com a estrutura das cidades, as intervenções estruturais, a preparação comunitária e o planejamento urbano. As cidades precisam desenvolver suas estruturas para resistir a eventos como terremotos e tsunamis, e a engenharia tem um papel fundamental na redução de riscos e na mitigação dos impactos dos desastres.
Um dos exemplos que melhor comprovam essa relação foi o acompanhamento do terremoto no Haiti em 2010 em comparação com o do Japão em 2011. A condição socioeconômica dos países é um fator extremamente relevante para atenuar os efeitos de um desastre. A preparação das edificações, com o uso de tecnologia, é um elemento de grande importância. No entanto, não são apenas as intervenções estruturais que salvam vidas. As intervenções não estruturais também são relevantes, como a capacitação comunitária e a compreensão do que fazer em uma situação extrema.
Nos países onde a cultura de resiliência é bem desenvolvida, como no Japão, a
tendência é que haja uma menor quantidade de vítimas, danos e prejuízos. Já nos países onde essa cultura de prevenção não é bem desenvolvida, os eventos extremos tendem a causar um impacto muito acentuado na população. O caso do Haiti em 2010 é um bom exemplo desse cenário desafiador, onde a resposta a um desastre é agravada pela fragilidade econômica e política.
No caso do Afeganistão, em agosto de 2021, os EUA retiraram suas tropas, entregando o controle do país ao Talibã, que estabeleceu o “Emirado Islâmico do Afeganistão” e busca implementar estritamente as leis islâmicas. O resultado disso foi a perda de muitos direitos, especialmente para as mulheres.
Hoje, a comunidade internacional não reconhece o governo do Talibã, o que agrava a
crise humanitária em um desastre como o terremoto em andamento. Nesses casos, a ajuda internacional é extremamente relevante para o atendimento à população impactada.
Todo esse contexto internacional e a geopolítica da região acabam interferindo nas ações de resposta ao terremoto, afetando diretamente a população que já sofre com o desastre. Esses elementos, que normalmente deveriam integrar os esforços para melhorar o atendimento, neste caso, interferem negativamente no processo, dificultando e atrasando as ações emergenciais.
É certo que eventos como este, e outros referentes a movimentos de massa, continuarão a ocorrer em todo o mundo, com intensidades distintas. No entanto, o que será determinante para que um terremoto ou tsunami tenha um maior ou menor impacto na sociedade depende, especialmente, da vulnerabilidade local e do quão preparado um território está para receber o impacto de um desastre. Portanto, quanto maiores e mais eficientes as ações que antecedem o desastre, menores serão os seus impactos. Assim, investir em prevenção, preparação e mitigação acaba sendo mais eficiente e mais barato do que as ações de resposta e reconstrução.
Portanto, a prevenção é sempre o melhor caminho!
Contato com o autor: gkempers@id.uff.br