
O Caminho da Resiliência
Você conhece os riscos do bairro onde mora?
Os desastres, a cada dia, ganham mais espaço nas rodas de conversa e nas discussões do cotidiano. Além da incerteza sobre a ocorrência de desastres e da percepção de que locais que antes não eram impactados hoje estão no mapa de vulnerabilidade, outro elemento importante é que as mudanças climáticas vêm agravando o quadro de desastres, seja pela intensificação dos fenômenos ou pela redução do tempo de recorrência. O fato é que se faz necessário que todos estejam atentos, principalmente para saber como agir em um desastre.
Assim, você está preparado e sabe como agir em um desastre? Sua casa fica localizada em uma área de risco? O seu caminho até o trabalho tem alguma ameaça? Seus filhos sabem o que fazer? A escola deles fica em área de risco? Seus pais e parentes sabem o que fazer ou estão em risco?
Essas respostas devem ser dadas antes do desastre. É necessário conhecer essas ameaças e saber, efetivamente, o que fazer. Podemos dizer que o poder público tem, sim, a responsabilidade de realizar ações estruturais, como obras e outras intervenções relevantes. Contudo, as intervenções não estruturais também dependem da participação popular. Ou seja, participar das capacitações, dos treinamentos e dos simulados é uma ação muito importante, pois, muitas vezes, saber o que fazer em uma situação real é a diferença entre sobreviver e perder a vida.
Quando vemos a ocorrência de um desastre, algumas pessoas questionam que não tiveram nenhum tipo de treinamento ou não receberam orientação. Mas será que elas já procuraram a defesa civil? Participaram dos treinamentos? Infelizmente, muitas vezes a resposta é não. No Brasil, vivemos o que chamamos de “síndrome do céu azul”. O que é isso? Simples: as pessoas só se lembram da importância dos treinamentos e ações da defesa civil quando o desastre já está acontecendo, ou quando começa a chuva forte. Muitos esquecem que os treinamentos e capacitações ocorrem no período de normalidade, justamente para que se possam testar as opções e conhecer os riscos existentes.
Neste ponto, uma ação muito importante que deve ser desenvolvida pelas defesas civis é a realização do mapeamento participativo para demarcar as rotas de fuga e conhecer as ameaças existentes na comunidade e no bairro. É fundamental que a população participe desse processo.
O mapeamento participativo é uma das grandes intervenções não estruturais que pode ser desenvolvida em parceria entre o poder público e a população. Seu alcance na redução de risco de desastres é extremamente relevante. Podemos até considerar que as intervenções estruturais têm o mesmo peso das intervenções não estruturais quanto à relevância na redução de riscos.
Em países onde a cultura de prevenção de desastres é mais desenvolvida, é possível perceber que a população está bem capacitada e treinada para atuar em condições extremas.
Dessa forma, para evitar mortes, é fundamental que as pessoas conheçam bem as ameaças, saibam os procedimentos em situações de desastres, bem como as rotas de fuga e um planejamento adequado para si e para sua família. O planejamento familiar, assim, é um complemento ideal para os procedimentos emergenciais, como o escape em situações reais de desastres.
Estar preparado para agir em desastres é uma necessidade diante dos desafios que estão por vir. Não é mais possível não pensar nesse processo. É uma realidade para o poder público e para a sociedade como um todo, que devem repensar seus papéis, suas atuações e, especialmente, começar a pensar de fato na prevenção, que é uma ação mais eficiente e barata do que as ações de resposta e reconstrução que ocorrem após o desastre.
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