
O Caminho da Resiliência
Estiagem, Crise Hídrica e Incêndios Florestais: A Tríade de Desafios para o Brasil
Em 2025, o Brasil se vê novamente encurralado por uma tríade de desafios ambientais interligados: a crise hídrica, o prolongado período de estiagem e a consequente proliferação de incêndios florestais. A memória de anos anteriores, marcados por reservatórios em níveis críticos e céus acinzentados pela fumaça, ressurge como um alerta sombrio para o futuro imediato do país.
A dependência brasileira de fontes hídricas para a geração de energia elétrica e para o abastecimento público torna a escassez de chuvas um problema de proporções catastróficas. A falta d’água compromete não apenas o agronegócio, vital para a economia nacional, mas também o cotidiano de milhões de cidadãos que enfrentam racionamentos e incertezas quanto à disponibilidade de um recurso tão essencial. Os rios, antes caudalosos, transformam-se em leitos secos ou em meros filetes d’água, expondo a vulnerabilidade de um sistema que se esqueceu da importância da conservação.
Paralelamente à crise hídrica, a estiagem prolongada cria um cenário propício para a deflagração e propagação de incêndios florestais. A vegetação ressecada atua como combustível natural, tornando-se a condição ideal para o desastre previsto, inclusive, no Código Brasileiro de Desastres (COBRADE), caminhando para uma grande tragédia ambiental. Biomas como o Pantanal e a Amazônia sofrem anualmente com esse desastre, afetando a fauna e a flora de forma devastadora, muitas vezes irreversível, com perdas inestimáveis à biodiversidade e impactos na qualidade do ar.
No Rio de Janeiro, mais de 80% dos incêndios florestais têm origem em ações humanas. Esse é um dado alarmante que requer atenção especial. A origem dos incêndios atrelados à ação humana está relacionada à queima de lixo, à queima para limpeza de terrenos e à queima para troca de cultura ou para promover pastagens. Infelizmente, por mais que se tenha a intenção de não causar um incêndio florestal, ao perder o controle dessa queima — muitas vezes feita nos fundos do terreno ou em parte de uma propriedade — essas chamas atingem extensas áreas de reserva e vegetação nativa, impactando diretamente o meio ambiente e a biodiversidade. Portanto, neste período, é imperioso que a população entenda que não se deve queimar lixo ou realizar outras ações imprudentes que possam causar incêndios. Nesse sentido, é importante relembrar a relevância de não soltar balões, o que, inclusive, é classificado como crime, sendo uma questão inquestionável.
Quando observamos as consequências e as características da estiagem, percebemos a importância desse fenômeno no país, na economia e na sociedade. Os danos e prejuízos podem ultrapassar bilhões quando envolvem o agronegócio e a indústria, uma vez que a redução da vazão dos rios pode impactar a produção. Claro que os danos à saúde são extremamente relevantes, tanto pela falta de recursos hídricos quanto pela fumaça oriunda dos incêndios. A fumaça acarreta problemas respiratórios e agrava alguns quadros que, de maneira relevante, impactam os hospitais, aumentando o fluxo de pacientes e os custos da saúde pública.
Especialmente no ano de 2025, os reservatórios apresentam níveis estáveis, sendo que algumas regiões como o Sul apresentam níveis abaixo do esperado, porém Norte e Nordeste apresentam níveis acima de 65%. No entanto, não é possível mensurar no momento a severidade da estiagem e, em função das mudanças climáticas, faz-se necessária uma atenção especial para os próximos meses a fim de avaliar qual a melhor estratégia para o enfrentamento desta crise.
Neste cenário, temos um desafio importante nos próximos meses que necessitará de muitos esforços dos gestores públicos, da sociedade civil e das instituições como um todo, buscando mitigar os desastres dessa natureza. O consumo racional da água e a diminuição dos incêndios por ação humana são algumas das ações que podemos buscar realizar para diminuir os impactos da crise hídrica e dos incêndios florestais. É evidente que, neste momento, não existe uma solução científica para diminuir a incidência das estiagens, o que aponta para a importância deste período que se aproxima. Mas é certo que estamos diante de um grande desafio e de uma luta pela sobrevivência do planeta.
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