
O Caminho da Resiliência
A epidemia dos acidentes de moto: uma visão de desastre
Podemos dizer que a defesa civil tem a função precípua de proteger a população, conforme foi na Segunda Guerra Mundial, nos ataques aéreos na Europa, assim como no Brasil, pós década de 1960, para eventos de desastres naturais, que hoje em dia já corrigimos essa nomenclatura para desastres socioambientais.
Porém, assim como na Pandemia de COVID-19 ocorrida no país e no mundo, a defesa civil teve um grande papel articulador, de forma a integrar as demais agências para atuar em prol do atendimento da população naquela crise.
Desta forma, é possível olhar também os acidentes de trânsito, envolvendo motos como uma grande epidemia que assola o país, superlotando hospitais, aumentando gastos públicos, perfazendo danos e prejuízos para os gestores públicos, porém, com mortes e danos permanentes a centenas de vítimas no país.
Portanto, é possível sim, enxergar os acidentes envolvendo motos como uma grande epidemia que necessita de um olhar especial do poder público. Os acidentes de trânsito no Brasil, são estimados pelo Ministério da Saúde, um gasto de mais de 20 bilhões por ano, em que grande parte destes gastos está relacionado aos acidentes com motos.
Porém, os custos vão muito além da internação hospitalar. Se entendermos o processo todo que envolve o acidente, podemos considerar que se inicia com o atendimento dos bombeiros, equipes de resgate, polícia militar e polícia civil, com os respectivos registros. Normalmente esses gastos não são contabilizados.
Pois bem, após esse primeiro atendimento, a vítima é conduzida para um hospital onde permanece internada por uma média de 2 meses, com custos muito altos. Se a vítima se recuperar totalmente para o serviço, ela volta para a sociedade de forma a retornar à condição de economicamente ativa. Porém, nos casos mais graves, em que a vítima teve um dano permanente, como é o caso de uma amputação, essa vítima deixa de ser produtiva para a sociedade e vai passar a depender da previdência social, onde será aposentada, passando a depender economicamente do estado. Inclui-se os gastos com próteses, cirurgias e outras extensões de tratamento bem custoso.
Além desses gastos previstos com a questão da recuperação da vítima, tem a questão legal, onde o acidente é registrado, podendo ter uma investigação, chegando ao judiciário, para um julgamento e uma possível condenação. Porém, independente do desfecho, já existe um custo estimado para esse trâmite.
Porém, esse procedimento ocorre para cada acidente. A PRF estima 77 ocorrências envolvendo motos no país por dia. O Ministério da Saúde estima uma média de 33 óbitos por dia no país envolvendo acidentes de moto. Outro número também é bem relevante, pois ainda pode-se apontar que em 2023, 141.890 pessoas foram hospitalizadas no país por acidentes envolvendo motos.
Podemos perceber a grandeza desses números e como as ações preventivas podem ser importantes? As pessoas de meia idade como eu, vimos na década de 1980, quando não era obrigado o uso do cinto de segurança, com a mudança na legislação, e a importância do tema, passou-se a ser exigido e com diversas campanhas de conscientização e fiscalização, hoje faz parte da cultura da nossa sociedade o uso do cinto, ao ponto de alguns carros nem ligarem se o motorista não estiverem com os cintos.
Por que não investir em prevenção? Porque não exigir o uso de EPIs mais robustos para motos, além do capacete, jaquetas airbag, caneleiras, cotoveleiras e outros elementos que podem ser fundamentais para salvar vidas.
Infelizmente, grande parte dos acidentes ocorrem com jovens, até 25 anos, em motos de baixa cilindradas. Esse é o perfil dos motoboys e mototaxis, onde podemos buscar uma forma de prover os meios de minimizar os danos. Os sindicatos destas classes poderiam auxiliar o poder público a cobrar o uso do EPI de forma a evitar danos e prejuízos.
A defesa civil tem um papel muito importante em prol de salvar vidas, evitar prejuízos e danos para a sociedade. Desta forma essa articulação entre os diversos entes envolvidos nesta epidemia passa pela organização da defesa civil tais como os órgãos de trânsito, setores de saúde, órgãos de resgate, órgãos de policiamento e fiscalização dentre muitos outros que são impactados diretamente como a própria sociedade civil.
Seguimos firmes!