• O Caminho da Resiliência

  • 04/dez 08:00
    Por Gil Kempers

    Verão 2024/2025: início de mais uma estação chuvosa, o que esperar?

    Aproxima-se o início do verão, e as cidades que são mais impactadas diretamente pelas chuvas intensas iniciam um período de extrema preocupação, principalmente pela intensificação dos fenômenos extremos e, como consequência, desastres complexos. Cidades como Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo (Região Serrana do Rio de Janeiro), São Sebastião (litoral de SP) e todo o Estado do Rio Grande do Sul começam a se preocupar com a possibilidade de novos desastres, em função das chuvas intensas que provocam fenômenos hidrológicos extremos e movimentos de massa.

    Segundo os meteorologistas, o verão 2024/2025 deve ser mais chuvoso que o de 2023/2024, quando o El Niño provocou uma redução da precipitação em várias partes do Brasil. O El Niño é um fenômeno que provoca o aquecimento das águas do Pacífico, influenciando o regime de chuvas no Norte e Noroeste do país, impactando posteriormente outras regiões, aumentando assim a precipitação e as temperaturas no Sul do país. Porém, o verão de 2025 deve ser menos quente e mais instável que o do ano anterior.

    Essa informação coloca as cidades que foram impactadas recentemente por desastres em uma condição de apreensão, principalmente pelos recentes episódios que ainda impactam psicologicamente a população local. Desta maneira, é necessário que os governos locais trabalhem de forma incisiva na capacitação comunitária e na implementação de uma cultura de resiliência, buscando diretamente aumentar a preparação das comunidades e, consequentemente, reduzir a vulnerabilidade de forma a diminuir os riscos nos territórios.

    Sim, as medidas estruturais são vitais para a redução da vulnerabilidade local, mas, sozinhas, as obras não são suficientes para a redução do risco, pois as medidas não estruturais têm o mesmo peso que as medidas estruturais na redução de riscos e na mudança do cenário da vulnerabilidade. Assim, muitas vezes a alegação da falta de recursos e investimentos cai por terra, uma vez que as medidas não estruturais, como treinamentos, capacitações, simulados, núcleos comunitários de proteção e defesa civil, são de baixo custo, necessitando especialmente de uma mobilização do poder público local para sua implementação, sendo o aporte de recursos um valor considerado baixo.

    Portanto, as capacitações, os treinamentos comunitários e outras medidas não estruturais realizadas no período de não chuvas intensas surtirão efeito agora no período de chuvas mais intensas. Sim, essa preparação deve fazer parte das ações que antecedem ao desastre, e a preparação comunitária é uma prioridade e já é entendida como um dos pilares para tornar uma cidade resiliente.

    Outra preocupação se dá pelo fato de muitas cidades mudarem seu executivo no meio do verão. Sim, o mandato do atual prefeito se encerra no dia 31 de dezembro e a próxima gestão inicia no dia 1º de janeiro, efetivamente no meio da estação chuvosa. Ou seja, os novos prefeitos já têm o desafio de assumir as prefeituras neste contexto de mudanças climáticas e intensificação dos fenômenos extremos e desastres. Assim, neste momento de montagem de governos municipais, o tema defesa civil deve estar na pauta e no radar dos novos prefeitos, uma vez que deveria estar no programa de governo. Esse tema é tão relevante que todas as demais políticas públicas sucumbem, uma vez que um município é afetado diretamente por um desastre, acarretando danos e prejuízos. O tempo de retorno à normalidade e a reconstrução de um território, além de caros, são traumáticos para a população local. É necessário já pensar nas ações de resposta, na ajuda humanitária e em todos os elementos que cercam um desastre na fase mais aguda, que é a de atendimento à população afetada.

    De fato, os próximos quatro anos serão desafiadores para os gestores municipais, uma vez que a gestão de risco e a prevenção, seja por intervenções estruturais ou não estruturais, se faz no território, ou seja, na ponta, no município. O estado e o ente federal podem sim apoiar e dar o suporte, mas grande parte da construção da resiliência e da redução de risco começa pela gestão local. Diante de um cenário de mudanças climáticas e intensificação dos desastres, é imperioso que se trate a agenda com a relevância que merece. O desenvolvimento de uma governança em proteção e defesa civil é um caminho necessário para salvaguardar a vida da população e diminuir, quiçá evitar, danos e prejuízos.

    A participação comunitária não pode estar fora desse processo, devendo os núcleos de proteção e defesa civil estar no meio do planejamento de defesa civil, redução de risco e construção de uma cultura de resiliência. Só com uma população capacitada e treinada, consciente de seu papel e de suas responsabilidades, é possível mudar os rumos dos desastres no Brasil. Apenas com a redução desta vulnerabilidade social é possível diminuir os impactos de desastres.

    Diante de tantos desafios e da certeza de que novos eventos extremos atingirão cidades pelo nosso país, fica a esperança de que os governantes tenham a consciência de que essa política pública tão importante, que é a proteção e defesa civil, ganhe mais espaço nos governos e na busca pela redução de riscos e mitigação de danos e prejuízos, principalmente evitando mortes!

    Seguimos firmes!

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