• O Cachorro e o Lobo

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  • 04/04/2017 12:00

    Alguém e não sei quem, elegeu as sete maravilhas do mundo e esqueceu de incluir o que considero ser uma das mais importantes maravilhas: o livro.

    Dona Maria de Lourdes foi a professora que me alfabetizou.  Era minha vizinha. Morava algumas casas depois da minha, na mesma rua. Aos três anos eu já sabia juntar as letras e, aos quatro já fui matriculado numa escola pública para já cursar o terceiro ano do antigo primário. Percebendo o quanto eu me interessava por leitura, papai passou a comprar, mensalmente, a revista Tico-Tico, dirigida às crianças. Tio Zé, o caçula dos irmãos de meu pai, e Milinha, minha madrinha, me apresentaram ao livro. Ele, com a coleção de Walt Disney e ela com “Cazuza”, de Viriato Correa. Pronto. Não nascia aí apenas o leitor. Nascia o futuro escritor, entusiasmado que ficou, principalmente, com o livro Cazuza. E foi nas redações, em provas de português, que percebi minha facilidade para criar e desenvolver histórias. Durante o período escolar, escrevi vários contos infantis, já pensando em publicar um livro. O livro ficou no sonho e os contos, no papel. 

    Não creio que alguém posso se tornar escritor, sem ter sido um bom leitor, principalmente dos livros considerados clássicos, como, por exemplo, “Vidas Secas”, de Graciliano Gomes, “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa e toda a obra de Jorge Amado.  Nessa altura do campeonato eu, já amadurecido, comecei a pensar em escrever contos para adultos e passei a escrevê-los. Como sou de temperamento imediatista, não acreditava ser capaz de escrever um romance. Porém, certo dia ao me ocorrer uma bela história, com final delineado, pensei em completar meu livro de contos para tentar publicá-lo. Minha máquina de escrever, que havia pertencido ao jornalista e poeta Abelardo Romero, meu saudoso pai, ficava sobre a escrivaninha que fora dele também. A escrivaninha ficava no meu gabinete de trabalho, em minha casa, de frente para uma das paredes, onde se podia ver, pendurado, um retrato de meu pai, na moldura. De três a cinco páginas, imagina-se que se pode escrever um bom conto, e eu já estava na vigésima página sem o concluir. Olhei para o retrato do velho, como a perguntar: o que faço? Ele não me respondeu, naturalmente, mas, mesmo assim eu escutei uma voz que me veio do além: Deixe de ser bobo. Não está vendo que isso aí é um romance? Desenvolva-o. Continue. Depois de mil e trezentas páginas datilografadas, das quais setecentas foram aproveitadas, e de três anos de prazeroso trabalho numa máquina de escrever, nasceu “Da cama, à fama”, meu primeiro dos oito romances já escritos. Publiquei, por conta própria, uns dez exemplares para distribuir entre parentes e amigos. 

    Enquanto sonho em ser descoberto por uma editora e sei que isso é o mesmo que ser premiado com a Mega-Sena, continuo a ler e a escrever furiosamente. Ao ler uma matéria num jornal, comentando o sucesso no Brasil e no exterior do romance “Minha Terra”, do notável escritor e acadêmico Antônio Torres, corri à primeira livraria para comprar, ler e conferir. Entusiasmado, procurei conhecer o autor, chegando mesmo a entrevistá-lo no meu programa de televisão.  Creio que ficamos amigos, pois dia destes fui surpreendido pelo Correio que me trouxe um régio presente: o romance “O Cachorro e o Lobo”, (Totonhim) do então  já amigo Antônio Torres. Não, não é um simples romance. É uma aula de literatura. Não sei quantos romances ainda terei que escrever para tentar me aproximar da qualidade do mestre Torres, mas, esteja certo, amigo leitor, continuarei tentando.

     


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