• O Bom Pastor e a Oração Pelas Vocações!

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  • 11/maio 08:00
    Por Dom José Maria Pereira

    Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado: às mulheres, aos apóstolos, aos discípulos, hoje, Jesus apresenta-se como o BOM PASTOR! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.

    A liturgia deste domingo convida-nos a meditar na misericordiosa ternura de nosso Salvador, para que reconheçamos os direitos que Ele adquiriu sobre cada um de nós com a sua morte.

    No Evangelho (Jo 10, 27-30), encontramos Jesus, o Bom Pastor, que diz: “ minhas ovelhas ouvem a minha voz. Eu as conheço e elas me seguem. Eu dou a elas a vida eterna. Elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão” (Jo 10,27-28). Unicamente o Bom Pastor protege com imensa ternura o seu rebanho e defende-o do mal, e só nele os fiéis podem ter confiança absoluta.

    Jesus é o Bom Pastor que guarda, cuida, protege, orienta, cura seu amado rebanho. Ele é o pastor perfeito, que não é superado por nenhum obstáculo na sua obra de salvação, que não conhece erros no caminho, faz superar os caminhos íngremes e difíceis. E nunca trai as suas ovelhas. Cristo conduz para as águas da vida, isto é, aos bens definitivos. Essa é a nossa grande esperança. Na fé católica, a meta não é obscura e incerta senão que está ancorada na promessa de Cristo: Eu dou-lhes a Vida Eterna! A Vida de Deus! Para sempre!

    De todas as imagens atribuídas a Jesus, esta, sem dúvida alguma, é a mais querida. É uma imagem que transborda em ternura, cuidado, vida, salvação, confiança, amizade e intimidade.  Essas e muitas outras características permitem à ovelha reconhecer a voz do Pastor em meio a tantas outras vozes; mas permitem, também, que o Pastor reconheça e conheça as ovelhas por seu próprio nome. Tudo isso nos faz ter uma certeza: todos temos um valor particular aos olhos do Senhor.

    A porta do aprisco está aberta a todos, e, para passar por ela, existe apenas uma única condição: ter a disposição para ouvir e reconhecer a voz do Pastor. E quem aceita as condições, para passar pela porta do aprisco, será sempre muito bem acolhido e encontrará o dom da Ressurreição: “Eu dou-lhes (às minhas ovelhas) a vida eterna. Elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão” (Jo 10,28). Assim afirma Jesus, que, pouco antes, tinha dito: “O Bom Pastor dá sua vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 11). João utiliza o verbo oferecer, que repete nos versículos seguintes (15.17.18); encontramos o mesmo verbo, na narração da Última Ceia, quando Jesus “depôs” as suas vestes para depois “as retomar” (Jo 13, 4.12). Claro que,  desse modo,  deseja-se afirmar que o Redentor dispõe com absoluta liberdade da própria vida, de modo a poder oferecê-la e, depois, retomá-la livremente. Cristo é o verdadeiro Bom Pastor que deu a vida pelas suas ovelhas, por nós, imolando-se na Cruz. Ele conhece as suas ovelhas, e as suas ovelhas O conhecem, como o Pai O conhece a Ele, e Ele ao Pai (Jo 10, 14-15). Não se trata de mero conhecimento intelectual, mas de uma relação pessoal profunda; um conhecimento do coração, próprio de quem ama e de quem é amado; de quem é fiel e de quem sabe que, por sua vez, pode-se confiar; um conhecimento de amor em virtude do qual o Pastor convida os seus a segui-Lo, e que se manifesta plenamente no dom que lhes faz da vida eterna (Jo 10, 27-28). 

    Ensina o Concílio Vaticano II: “A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (LG,6). No redil, entram os pastores e as ovelhas. Tanto uns como outras hão de entrar pela porta que é Cristo. “ Eu, pregava Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos vossos corações. Por Cristo entro, gozosamente, e escutais-me ao falar dEle. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”.

    “… Ele caminha à frente e as ovelhas O seguem, porque conhecem sua voz” (Jo 10,4). Ora, a Igreja é Cristo continuado! Diz São Josemaria Escrivá: “Cristo deu à Sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente de graça dos Sacramentos; e providenciou, para que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem, constantemente, o caminho. Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus, guardada pela Igreja; a graça de Cristo, que se administra nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus” (Cristo que passa, nº 34). Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão vida.

    Para os cristãos, o Pastor, por excelência, é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

    Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

    Cristo é o nosso Pastor! Ele conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal.

    A existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 23(22), 4: “ Mesmo se eu tiver de andar por um vale de sombra mortal, não temerei os males, porque estás comigo”.

    O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

    Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos Sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.

    Vale a pena ressaltar as palavras do trecho da leitura de hoje (At 13, 52):  “Os discípulos, porém, continuavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Apesar das incompreensões e dos contrastes, de que ouvimos falar, o apóstolo de Cristo não perde a alegria, aliás é a testemunha daquela alegria que brota do ser com o Senhor, do amor por Ele e pelos irmãos.

    Fujamos do pessimismo e o desânimo que nos agarram e nos limitam, tentam nos esvaziar e impedir a alegria e a coragem de viver. A tristeza é aliada do inimigo.

    No texto do Ap 7,9.14-17, encontramos uma mensagem de esperança: não estamos condenados ao fracasso; somos chamados à vida plena, à felicidade total e definitiva. O texto de Ap 7 descreve uma multidão imensa. Estão em pé, sinal da vitória da ressurreição; vestem túnicas brancas, pois pertencem à esfera de Deus, da santidade; aclamam com palmas, alusão à alegria e à festa. Não haverá mais a morte, o sofrimento, as lágrimas… Tudo é alegria perfeita.

    Neste domingo, celebramos LXll (62) Dia Mundial de Oração pelas Vocações, com o tema: Peregrinos de Esperança: O dom da vida. 

    O Santo Padre, o Papa Francisco, ainda hospitalizado, no dia 19 de março, preparou e enviou a Mensagem que segue abaixo.

    MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O LXII DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

    (11 de maio de 2025 – IV Domingo da Páscoa)

    Peregrinos de esperança: o dom da vida

    Queridos irmãos e irmãs!

    Neste LXII Dia Mundial de Oração pelas Vocações, desejo dirigir-vos um alegre e encorajador convite a serdes peregrinos de esperança, doando generosamente a vida.

    A vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, uma chamada a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço. E cada vocação na Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos.

    Neste nosso tempo, muitos jovens sentem-se perdidos face ao futuro. Frequentemente vivem na incerteza quanto às perspectivas de emprego e, lá no fundo, experimentam uma crise de identidade que é uma crise de sentido e de valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar. A injustiça para com os fracos e os pobres, a indiferença do bem-estar egoísta e a violência da guerra ameaçam os projetos de vida boa que cultivam no seu íntimo. Contudo, o Senhor, que conhece o coração do homem, não nos abandona na insegurança; pelo contrário, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança.

    Por isso, nós, membros adultos da Igreja, especialmente os pastores, somos convidados a acolher, discernir e acompanhar o caminho vocacional das novas gerações. E vós, jovens, sois chamados a ser nele protagonistas, ou melhor, coprotagonistas com o Espírito Santo, que suscita em vós o desejo de fazer da vida um dom de amor.

    Acolher o próprio caminho vocacional

    Queridos jovens, «a vossa vida não é “entretanto”; vós sois o agora de Deus» (Exort. Ap. pós-sinodal Christus vivit, 178). É necessário tomar consciência de que o dom da vida exige uma resposta generosa e fiel. Olhai para os jovens santos e beatos que responderam com alegria à chamada do Senhor: Santa Rosa de Lima, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, os Beatos – que em breve serão Santos – Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, e muitos outros. Cada um deles viveu a vocação como um caminho para a felicidade plena, na relação com Jesus vivo. Quando escutamos a sua palavra, o nosso coração arde (Lc 24, 32) e sentimos o desejo de consagrar a vida a Deus! Desejamos, por isso, descobrir de que modo, em que forma de vida é possível retribuir o amor que Ele primeiro nos dá.

    Toda a vocação, sentida na profundidade do coração, faz germinar uma resposta como impulso interior ao amor e ao serviço, como fonte de esperança e caridade e não como busca de autoafirmação. Vocação e esperança entrelaçam-se, portanto, no projeto divino pela alegria de cada homem e mulher, todos eles chamados, em primeira pessoa, a oferecer a sua vida pelos outros (Exort. Ap. Evangelii gaudium, 268). São muitos os jovens que procuram conhecer o caminho que Deus os chama a percorrer: alguns constatam – muitas vezes com surpresa – a vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada; outros descobrem a beleza da chamada ao matrimônio e à vida familiar, bem como ao empenho pelo bem comum e ao testemunho da fé entre colegas e amigos.

    Toda a vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa. E, desse modo, a vocação amadurece através do compromisso quotidiano de fidelidade ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço.

    Queridos jovens, a esperança em Deus não engana, porque Ele guia os passos de quem a Ele se entrega. O mundo precisa de jovens peregrinos de esperança, corajosos em dedicar a sua vida a Cristo, cheios de alegria por serem seus discípulos-missionários.

    Discernir o próprio caminho vocacional

    A descoberta da própria vocação passa por um caminho de discernimento. Este percurso nunca é solitário, mas desenvolve-se no seio da comunidade cristã e com ela.

    O mundo, queridos jovens, induz-vos a fazer escolhas precipitadas e a encher os dias de barulho, impedindo a experiência de um silêncio aberto a Deus, que fala ao coração. Tende a coragem de parar, de escutar dentro de vós e de perguntar a Deus o que Ele sonha para vós. O silêncio da oração é indispensável para “interpretar” a chamada de Deus na própria história e para dar uma resposta livre e consciente.

    O recolhimento permite compreender que todos podemos ser peregrinos de esperança se fizermos da nossa vida um dom, especialmente ao serviço daqueles que habitam as periferias materiais e existenciais do mundo. Quem se põe a escutar Deus, que chama, não pode ignorar o grito de tantos irmãos e irmãs que se sentem excluídos, feridos e abandonados. Cada vocação abre para a missão de ser presença de Cristo onde mais se sente necessidade de luz e consolação. Em particular, os fiéis leigos são chamados a ser “sal, luz e fermento” do Reino de Deus, através do empenho social e profissional.

    Acompanhar o caminho vocacional

    Nesse horizonte, os agentes pastorais e vocacionais, especialmente os conselheiros espirituais, não tenham medo de acompanhar os jovens com a esperançosa e paciente confiança da pedagogia divina. Trata-se de ser para eles pessoas capazes de escuta e respeitoso acolhimento; pessoas em quem podem confiar, guias sábios, disponíveis para os ajudar e atentos a reconhecer os sinais de Deus no seu caminho.

    Exorto, portanto, a que se promova o cuidado da vocação cristã nos vários campos da vida e da atividade humana, favorecendo a abertura espiritual de cada pessoa à voz de Deus. Para este fim, é importante que os itinerários educativos e pastorais contemplem espaços adequados para o acompanhamento das vocações.

    A Igreja precisa de pastores, religiosos, missionários e esposos que, com confiança e esperança, saibam dizer “sim” ao Senhor. A vocação nunca é um tesouro que fica fechado no coração, mas cresce e fortalece-se na comunidade que crê, ama e espera. E, como ninguém pode responder sozinho à chamada de Deus, todos temos necessidade da oração e do apoio dos nossos irmãos e irmãs.

    Caríssimos, a Igreja é viva e fecunda quando gera novas vocações. E o mundo, muitas vezes, inconscientemente, procura testemunhas de esperança que anunciem, com a vida, que seguir Cristo é fonte de alegria. Por isso, não nos cansemos de pedir ao Senhor novos operários para a sua messe, certos de que Ele continua a chamar com amor. Queridos jovens, confio o vosso seguimento de Jesus à intercessão de Maria, Mãe da Igreja e das vocações. Caminhai sempre como peregrinos de esperança no caminho do Evangelho! Acompanho-vos com a minha bênção e peço-vos que rezeis por mim.

    Roma, Hospital Gemelli, 19 de março de 2025.

    FRANCISCO

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