• O apagamento histórico da Amazônia

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  • 04/maio 08:00
    Por Aldo Rebelo

    A operação para converter a Amazônia em um gigantesco ativo financeiro voltado para o bilionário mercado de crédito de carbono, bloqueada em sua infraestrutura e economia, exige o apagamento histórico da verdadeira Amazônia, substituída por uma versão orquestrada pela pseudociência, falsamente ambientalista, e pelo jornalismo colonizado a serviço de interesses internacionais e do projeto de congelamento do poder mundial, como denunciou há mais de 50 anos o diplomata – estadista Araújo Castro.

    O apagamento histórico é traduzido pelo “esquecimento” do passado da Amazônia, de sua ocupação demográfica de 13 mil anos, da intensa atividade econômica ainda no período colonial, da exuberante cultura de seus escritores, cronistas e poetas; do heroísmo de seus antepassados. Tanto maior é o esforço do apagamento, quanto mais se aproxima a COP-30, Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, marcada para acontecer em Belém do Pará no final deste 2025.

    A ideia da Amazônia como um “santuário” ou “paraíso” vem acompanhada de medidas de remoção das populações locais, ribeirinhos e fazendeiros, permanecendo os indígenas, desde que aceitem a vida de caçadores e coletores de seus ancestrais, compatível com o padrão de baixo carbono preconizado pelas ONGs financiadas do exterior e seus asseclas.

    O Centro das Indústrias do Pará (CIP), por seu presidente José Maria da Costa Mendonça, denunciou em nota recente a intenção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de criar uma reserva extrativista nos municípios de Oiapoque e Calçoene, no Amapá, exatamente na área onde a Petrobrás pretende iniciar a extração do petróleo da chamada Margem Equatorial. Mais um capítulo da guerra das corporações do próprio Estado brasileiro contra o desenvolvimento da Amazônia. Ora o ICMBio, ora o Ibama, ora a Funai, ora o Ministério Público, ora todos juntos em parceria com as ONGs financiadas do exterior, a sabotar o presente e o futuro da Amazônia do Brasil. Pouco importa para essa gente que a Amazônia permaneça sem infraestrutura, empregos, sem saúde, sem educação de qualidade ou saneamento básico.

    Como se não bastasse, vozes desorientadas do empresariado de São Paulo têm defendido que o Brasil dispense o petróleo da Margem Equatorial, em uma evidência de que o cosmopolitismo deslumbrado abraça o provincianismo mais tacanho, como se fosse possível entregar-se ao mundo e virar as costas ao seu próprio País.

    A resistência amazônida deve evocar a memória de seus protagonistas no esforço de consolidação deste território como espaço luso-brasileiro. O espírito cabano não pode ser apenas um nome a batizar o Palácio da Assembleia Legislativa do estado do Pará, mas deve resplendecer em todos os quadrantes desta Amazônia ameaçada na sua posse material e na sua identidade mestiça, cabocla, tapuia.

    Que o poderoso vale dos grandes rios proteja o espírito de Ajuricaba, Pedro Teixeira, Lobo D’Almada, Angelim, Cabralzinho, Lauro Sodré, Serzedelo Correia, Arthur Cesar Ferreira Reis, Leandro Tocantins, José Veríssimo, Raimundo Morais e Rui Barata, construtores, entre tantos outros notáveis desta Amazônia brasileira.

    *Aldo Rebelo é jornalista e escritor, presidiu a Câmara dos Deputados, foi relator do Código Florestal Brasileiro e ministro nas pastas de Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa, secretário da Casa Civil do Governo de São Paulo e secretário de Relações Internacionais do município de São Paulo.

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