• 26/jan 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Para que se tenha o pleno conceito de “amor esponsal”, é preciso assimilar o sentido da palavra “aliança”, originária do latim “alligare” que significa “ligar-se a”, “unir”. “Aliar” consiste em estabelecer uma união, na qual esteja presente o comprometimento recíproco. O que difere de “alear”. O “aleatório” é desatado do comprometimento, mergulha no acaso, no imprevisível, vaga na incerteza, navega nas probabilidades, no “deixa a vida levar”. Por isso, a aliança necessita da fidelidade, da responsabilidade que emana segurança.

    Quando a vida é colocada no plano da aleatoriedade, é fácil compará-la a um jogo em que a sorte e o azar flutuam nas inconstâncias dos ventos que movem as birutas, pois estas são usadas para indicar a direção deles, mas sem eles, elas se mantêm estáticas.

    O viver precisa de alicerce para não ficar a sabor dos ventos, que ora sopram em leves brisas, ora agem como furações devastadores. O alicerçar consiste também em aliar. É preciso criar elos, unir forças para suportar as adversidades.

    O amor esponsal se consolida na aliança proveniente do sim matrimoniado espontaneamente. Nele, há a entrega do pertencimento mútuo, que une em uma só carne, em um só ser, na essência das palavras do profeta Oseias: “Eu te desposarei para sempre; eu te desposarei na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei na fidelidade e conhecerás o Senhor” (Os 2, 2-22).  

    O direito, a justiça, o amor, a ternura são faces do matrimoniamento na comunhão do Bem e não de bens, uma vez que esposo e esposa não podem ser concebidos como objetos, patrimônios.  Quando isso ocorre, o casamento torna-se apenas um contrato social, um acordo patrimonial.

    A concepção da unidade presente no amor esponsal fica explícita também na Epístola aos Efésios escrita por Paulo na prisão: “Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados por vossa vocação para uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e em todos.” (Ef 4, 4-6)

    A motivação para abordar hoje essa forma de amor, veio depois que participei da missa celebrada na Capela Nossa do Amparo, na quarta-feira passada (22/01), em uma ação de graça pela existência da Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo, fundada em 1871, que, nesse citado dia, completara 154 anos.

    Durante a missa, saltou uma silenciosa pergunta:

    “Como essa escola conseguiu se manter por mais de um século e meio?”

    A resposta veio, após um momento reflexivo, ao final da celebração:

    “É o amor esponsal que a mantém viva, carregando o Carisma do Amparo instituído pelo seu fundador, o Padre João Francisco de Siqueira Andrade, que, pela sua obra, é considerado Servo de Deus.”

    A escola é administrada pela Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo, fundada em Petrópolis, mas se ramifica por diversos estados do Brasil e já se encontra em outros países.

    O Padre Siqueira, pensando na continuidade da sua obra, escreveu em seu testamento: “que este pessoal docente uma vez organizado, tome o título de Congregação de Nossa Senhora do Amparo e que, para a sua boa ordem e direção, tome a Regra da Terceira Ordem de São Francisco da Penitência, regra esta aprovada pela Igreja e adotada já no Brasil por inúmeras Irmandades…” (Testamento, §3º, 1880).

    Há um sim que franciscaniza em Paz e Bem. Mas, para isso, é necessário manter acesa a chama da fé no contínuo aprofundamento para aprimorar o ser, tendo como referência Cristo.

    Assim como o templo não é a Igreja, assim com o prédio não é a Escola, tanto a Fé, quanto a Educação são precisamente fundamentadas na essência humana. Foi Cristo quem disse a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. (Mt 16,18). O Padre Siqueira, além da construção do prédio, onde funciona a escola, idealizou uma congregação religiosa para manter vivo o Carisma do Amparo, principalmente em relação ao acolhimento das crianças carenciadas. E, no apelo que fez ao País, em 1877, afirmou:

    “Educar o povo e dar-lhe trabalho, é dar-lhe riqueza, costumes e moralidade, é assegurar a propriedade e o respeito à família; é manter a ordem e a paz; é, finalmente, da parte dos governos, o procedimento mais altamente político, e de suma economia social, porquanto, é certo que a boa educação de um povo, além de outros benefícios, dispensa exércitos!…” 

    Concluindo: o Amor vence o tempo. A Educação edifica o ser humano.

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