• O amor em tempo de ódio

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  • 21/03/2021 08:00
    Por Ataualpa Filho

    Hoje falar de amor é um ato revolucionário. Ame, mesmo sem dar vexame. Parodiando Hélio Oiticica, é possível dizer: “seja honesto, seja herói”.

    Há muito tempo que estou tremulando a bandeira branca da paz, radicalizei na ternura, no bom senso, no bem comum. Tenho alguns amigos que também estão jogando no time dos fanáticos por moderação.

    O xiitismo de direita ou de esquerda já não têm mais espaço. A teoria do “quanto pior melhor” dos que apagam incêndio com gasolina, dos que só botam lenha da fogueira não ajuda em nada, apenas revela uma insensibilidade social, pois quem mais sofre neste caos é a população mesmo favorecida, mais dependente das ações solidárias.

    O sentir-se feliz com a desgraça dos outros é uma perversidade. Por isso,é preciso distanciar a partidarismo político neste combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus. O momento é de união de forças, de trabalho conjunto. Muitos políticos perderam a oportunidade de sair dessa pandemia como herói nacional, optaram pela falcatrua, deixaram-se levar pela sede do poder, visando apenas os interesses pessoais. A gestão da saúde pública está marcada pela incompetência no seu período mais crítico. Reafirmo: o momento é de união de forças. As divergências ideológicas precisam ficar de lado. A prioridade é a vida. É preciso remover a intolerância para dar chance ao diálogo.

    É velha a fórmula de criar polarização ideológica para alimentar o ódio. Está provado historicamente que isso não funciona. Só aumenta a violência, criando dissidências.

    Quando começam a mostrar as armas para intimidar o povo, são visíveis as ações contra a democracia. Nessas horas, o discurso das flores, da ternura, da resistência pacífica deve ser mantido para não aceitar provocações.

    A manhã vem após a travessia da noite. A fé sabe temperar a paciência. Para ruminar, basta uma sombra. O pensamento que se constrói no silêncio ajuda a manter os pés no chão. Atravessa-se um deserto para se respirar o ar da liberdade na outra margem.  A Terra prometida é a Pátria Livre.

    O povo deve andar de mãos dadas pela paz e contra o ódio. É o momento em que a poesia surge para alimentar a esperança e a arte ecoa os gritos de liberdade. Ainda vale o que disse o Profeta: “Gentileza gera gentileza”.

    Quando me deparo com essa onda negacionista que exalta a economia em detrimento da vida, lembro o que dissera Bertolt Brecht:

    “Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.”

    O país se encontra estagnado no meio desta pandemia, travado sem uma coordenação nacional que possa unificar as ações para evitar tantos óbitos.

    A palavra fome pode ser classificada como um substantivo abstrato, mas a sua concretude está na população que vive abaixo da linha da pobreza, naqueles que sentem o calo apertar. E calados, calejados caminham, apertam o cinto, não por questão estética, mas como consequência de um estado recessivo. Há os que desistiram de procurar emprego, há os que “se viram” e se veem na informalidade, sem carteira assinada, mas se sacrificam para ganhar o pão de cada dia honestamente.

    A população merece mais respeito. É triste ver parcela da sociedade sem perspectiva de melhoria de vida. Não é o comércio de armas que vai oferecer saúde, educação e trabalho ao povo.

    Chamam de concorrência o “salve-se quem puder”. A farinha está pouca, por isso que a briga é para ter o pirão primeiro.  Nessa competição, é dente por dente, olho por olho. Ninguém enxerga as mãos estendidas. A solidariedade é o ponto fora da curva. No mundo dos negócios, as regras são maquiavelizadas politicamente para que os fins justifiquem os meios sem deixar peso na consciência. Mas o Sol há de brilhar. Vamos amar e mudar as coisas para realizar os nossos sonhos e ter “Paz na Terra”.

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