• Número de detenções na fronteira EUA/México dobra e até aliados criticam Biden

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 17/03/2021 12:27
    Por Redação / Estadão

    O número de detenções na fronteira dos Estados Unidos com o México praticamente dobrou nos últimos cinco meses, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês). Entre outubro de 2020 (quando começa o ano fiscal americano) e fevereiro de 2021, foram 396 mil imigrantes apreendidos, contra 201.600 de outubro de 2019 a fevereiro de 2020.

    O número de crianças desacompanhadas que fazem parte desse grupo passou de 17.100 para 29.700 – cerca de 400 por dia – nos mesmos períodos. No total, a Patrulha de Fronteira dos EUA deteve 100.441 mil migrantes na fronteira do México só em fevereiro, o décimo mês consecutivo de aumento. Pessoas que viajam em família passaram de 7.064 para 18.945, um aumento de 168%, entre janeiro e fevereiro, enquanto as apreensões de menores desacompanhados aumentaram de 5.694 para 9.297, 63% a mais.

    O aumento é causado em parte pelas expectativas causadas entre os potenciais imigrantes pela reversão das políticas antimigratórias do ex-presidente Donald Trump, incluindo a que obrigava os solicitantes de asilo a esperarem o exame dos seus casos no México. Essa reversão contribui para uma corrida sem precedentes à fronteira. Além disso, especialistas do Centro de Pesquisas Pew apontaram outros fatores, como os danos econômicos causados pela pandemia do coronavírus e desastres naturais na América Central, região de origem de muitos emigrantes com destino aos EUA.

    O deputado Henry Cuellar, um democrata moderado do Texas cujo distrito faz fronteira com o México, não está feliz com a forma como a equipe do presidente Joe Biden respondeu à onda de imigrantes que tentam entrar nos Estados Unidos. “Seu pessoal precisa fazer um trabalho melhor de ouvir aqueles de nós que já fizeram isso antes”, disse ele na segunda-feira, dia 15.

    O deputado Kevin McCarthy, o principal republicano da Câmara, que fez uma viagem à fronteira na segunda-feira para criticar a abordagem de Biden, foi ainda mais ácido.”Não há outra maneira de chamar isso além de uma crise na fronteira de Biden”, disse McCarthy (Califórnia) durante uma visita a um centro de processamento de migrantes em El Paso. E Neha Desai, uma advogada de imigração que recentemente visitou um local de detenção, disse que embora as condições lá tenham melhorado muito desde a era Trump, “é inaceitável que as crianças passem dias a fio em instalações dramaticamente superlotadas”.

    Quase dois meses após o início de seu primeiro mandato, Biden enfrenta uma crescente turbulência política provocada pela crise na fronteira e está atraindo críticas de todo o espectro político. Os democratas de centro estão nervosos com os ataques daqueles que os consideram “brandos com a segurança das fronteiras”. Liberais e ativistas da imigração estão alertando sobre como os migrantes são tratados. E os republicanos estão cada vez mais preparando as bases para ataques centrados na imigração nas eleições de meio de mandato.

    “Os republicanos vão se virar e usar isso como uma arma política contra os democratas – que somos fracos na fronteira, não estamos fazendo o suficiente, estamos deixando todo mundo entrar”, disse Cuellar em uma entrevista. “Tenho alertado o partido e o governo: não deixe isso sair do controle, porque tudo o que você vai fazer é dar um problema para os republicanos explorarem”.

    As prisões e detenções na fronteira durante os últimos meses da presidência de Trump atingiram os níveis mais altos em uma década, mas as travessias ilegais dispararam desde que Biden assumiu o cargo.

    Nesta terça-feira, 16, o governo americano disse esperar que as chegadas de imigrantes alcancem em breve o pico dos últimos 20 anos, em meio às dificuldades para acolher os menores que viajam sozinhos. Alejandro Mayorkas, chefe do Departamento de Segurança Interna (DHS), primeiro latino e imigrante a ocupar o cargo, atribuiu o aumento “à pobreza, aos elevados níveis de violência e à corrupção” em México, Guatemala, El Salvador e Honduras.

    “Estamos no processo de registrar mais pessoas na fronteira Sul do que nos últimos 20 anos”, disse, em comunicado. “Isso não é novo. Vivenciamos aumentos da migração antes: em 2019, em 2014 e antes disso também. Desde abril de 2020, a quantidade registrada na fronteira Sul não para de aumentar.”

    “Nós reconhecemos isso como um problema. Estamos focados em abordar isso”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, a repórteres na segunda-feira. O governo Trump, disse ela, “nos deixou um sistema desmontado e impraticável”.

    Não está claro se os eleitores verão as coisas dessa forma. Trump demonstrou que a imigração pode ser uma questão explosiva que desequilibra o cenário político, sugerindo que pode ser uma ameaça real para um presidente com altos índices de aprovação. E o dilema é maior porque muitos que cruzam a fronteira são menores.

    Biden se comprometeu a reverter as políticas anti-imigrantes de Trump, e os traficantes de pessoas capitalizaram isso em seus esforços de marketing. O governo Biden se esforçou para desmentir que as fronteiras estão abertas e declarou que a fronteira está fechada e que qualquer pessoa que a atravesse não será permitida – mas essas declarações não refletem inteiramente a realidade.

    A aprovação de Biden está alta por causa de seus esforços para frear a pandemia, e por causa do pacote de socorro econômico de US$ 1,9 trilhão. Isso deixou os republicanos lutando para encontrar uma questão potente para tentar retomar a Câmara e o Senado em 2022. Muitos republicanos acreditam que a imigração pode ser esse tópico. (Com agências internacionais).

    Últimas