Número de crianças obesas no Brasil pode chegar aos 75 milhões
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, se nenhuma providência for tomada pelos governos, nos próximos anos existirão cerca de 75 milhões de crianças obesas no mundo. No Brasil, observa-se que 15% desse público está acima do peso, sendo que, na região Sudeste, esse número é ainda maior e sobe para quase 40%, ou seja, praticamente a metade das crianças apresenta o problema, que é considerado uma doença crônica e inflamatória, que está envolvida diretamente com o surgimento de outras doenças como, diabetes mellitus, hipertensão arterial, artrose, colesterol alto, insuficiência cardíaca, esteatose hepática (gordura no fígado), insuficiência respiratória e até câncer. Por isso, todo cuidado é bem-vindo e normalmente está aliado à rotina, fato que pode ser prejudicado pela volta às aulas.
De acordo com a nutricionista e professora do curso de Nutrição da Fase, Brigitte Olichon, os pais não devem “controlar” a alimentação dos filhos e sim educá-los através do exemplo do que é praticado no dia a dia da família. Oferecer refeições em horários certos, sobretudo de manhã, antes da ida ao colégio, e no horário do almoço, compostas por alimentos saudáveis, é muito importante. Assim como oferecer esses alimentos também fora de casa. Outro ponto que contribui para estimular a boa alimentação dos pequenos é preparar o lanche que será consumido na escola com alimentos não industrializados, como pão, bolo, frutas e etc, evitando, portanto, biscoitos, iogurte e chocolates.
Além de todos os problemas de saúde, a especialista aponta ainda que a obesidade infantil pode causar discriminação social e afetar a parte psicológica dos pequenos, através de episódios de bullying, ansiedade e até depressão. “Como responsáveis, temos o dever de garantir que nossas crianças cresçam com saúde física e mental, tornem-se adultos saudáveis e produtivos. Quando deixamos essa nossa responsabilidade de lado e achamos que alimentar a criança com o que ela quer é mais fácil e mais 'amoroso', como se quiséssemos comprar o amor delas com nossa leniência, o que acontece é justamente o oposto. As crianças precisam de quem tome conta delas, faça as escolhas por elas e aponte o melhor caminho. Não é possível continuar vendo famílias onde crianças de um a três anos de idade ditam as regras, escolhendo o que vão comer ou a que horas vão dormir”, explicou.
A dica não é brigar com os filhos e fazer papel de carrasco, mas sim dar o exemplo de quais refeições devem ser feitas, dentro de casa e também na rua. Isso porque estudos mostram que pais obesos têm 80% de chance de terem filhos obesos; já quando apenas um dos pais é obeso, esse risco é de 50%; e, se nenhum dos dois é obeso, o risco cai para 10%. “Isso ocorre porque mesmo que a criança nasça com uma predisposição genética à obesidade, o que vai de fato determinar a ocorrência ou não do problema é o ambiente em que ela vive, e, sobretudo, seus hábitos alimentares que foram construídos dentro de casa, a partir das escolhas feitas pelos responsáveis. Por isso, quando tratamos de crianças obesas, é necessário tratar toda a família”, salientou.
Uma dica para quem pretende iniciar a reeducação alimentar dos filhos é aprender receitas que “mascaram” o sabor de alguns legumes e verduras. “A intenção é fazer com que a criança experimente e redescubra o sabor de determinado alimento. Mas é importante ressaltar que elas não devem ser feitas rotineiramente, porque o processo de reeducação alimentar inclui também a consciência do que se está comendo. É preciso que a criança saiba o que está ingerindo e perceba que é gostoso e ainda faz bem. Levar a criança para a cozinha e fazê-la participar do processo de preparo também estimula a curiosidade e facilita a aceitação”, afirmou.
Outro método que precisa ser adotado na rotina são os exercícios físicos. “Não fomos feitos para ficar sentados diante de uma televisão ou computador. Nosso organismo necessita de exercícios sempre. A atividade física, além de manter o organismo funcionando bem, ajuda a eliminar os pequenos excessos alimentares que eventualmente podemos cometer. Claro que isso é um processo longo, que depende tanto da parceria dos pais, ou responsáveis, quanto do entendimento e aceitação da própria criança. Lutamos contra a mídia, que está sempre incentivando o consumo de alimentos não saudáveis, até mesmo da escola, que muitas vezes não oferece opções saudáveis na cantina e também os amiguinhos que praticam bullying. Mas é muito gratificante perceber as mudanças que surgem rapidamente quando todos estão lutando pela mesma causa”, concluiu.