• Novos jazzistas vão além de seus territórios

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  • 07/02/2021 07:35
    Por Julio Maria / Estadão

    O pianista cubano Alfredo Rodriguez é uma unanimidade entre os críticos de jazz dos Estados Unidos. “Em uma simples melodia, suas linhas nítidas de bebop lembram as primeiras apresentações de Bill Evans no álbum Jazz Workshop, de George Russell, de meados dos anos 50”, escreveu cheio de comparações Don Heckman para a International Review of Music, do Oregon, nos EUA.

    Sua performance explosiva realmente impressiona. “Prefiro dizer que sou apenas um músico”, ele fala ao Estadão, entendendo o jazz como um rótulo redutor de suas raízes afro-cubanas absorvidas da música que lhe chegava de Camarões, Benin e Nigéria, três fortes correntes que ressoam historicamente em Havana. De fato, seu último álbum, Duologue, gravado com o cantor Pedrito Martinez, tem uma forte presença africana até em uma versão feita para Thriller, de Michael Jackson. Ainda que sem saber para onde suas próximas notas devem seguir, ele diz: “Vivemos uma época diferente de anos como os de 1950, 1960, 1970 e os próprios 2000. Vamos mudando como a vida que nos rodeia. Por tudo o que estamos vivendo, a música também vai soar diferente”.

    Polivalências. A lógica do jazz da especialização também estaria mais aberta a admitir talentos polivalentes sem entender um deles como mera função secundária?

    A guitarrista e cantora chilena Camila Meza diz que George Benson norteou sua ideia de cantar e tocar guitarra com excelência sem sucatear nenhuma das áreas. Sua xará nos Estados Unidos, a saxofonista e cantora Camille Thurman, de 34 anos, uma aposta não só da crítica, mas também de Wynton Marsalis, que a contratou para a sua orquestra guardiã dos fundamentos, a Jazz at Lincoln Center Orchestra, respondeu assim quando questionada de sua decisão sobre cantar mesmo depois de já ter se firmado como saxofonista. “Você só precisa fazer os dois da melhor maneira que puder.”

    A geração de jazzistas da hiperinformação parece se recusar a ser reduzida a apenas uma função. Miles Davis, Dizzy Gillespie e Louis Armstrong precisaram de apenas um trompete para mudar o mundo ou, ao menos, o mundo do jazz. Mas isso parece cada vez mais característica dos tempos em que a devoção às escolhas de um jazzista era algo de dimensão religiosa. Saxofonistas, trompetistas e pianistas entendiam que vinham ao mundo com uma missão e que deveriam saber de seus lugares para se restringir a eles. Uma vida apenas seria muito pouco para duas paixões vividas com genialidade.

    Visão holística. Nduduzo Makhathini (pronuncia-se ignorando a primeira letra N) é um filósofo, professor e pianista sul-africano de 38 anos nascido na mística região de Umgungundlovu. Seus mestres são nomes do jazz sul-africano, como Bheki Mseleku, Moses Molelekwa e Abdullah Ibrahim, e, além de sua carreira em quarteto, sua atuação ocorre também no grupo do saxofonista Shabaka Hutchings, The Ancestors. Makhatini fez sua chegada ao Blue Note de Nova York em 2019 e logo foi convidado por Wynton Marsalis para se apresentar como convidado de sua orquestra.

    Como prova de seu momento excepcional, a revista Downbeat deu cinco estrelas para seu álbum novo, Modes Of Communication: Letters From The Underworlds (Modos de Comunicação: Cartas do Submundo) e escreveu: “Estrela em ascensão do jazz sul-africano, Nduduzo Makhathini é um nome a ser observado”. Para Makhathini, não há pontos isolados no universo, o que explica que nenhuma formação humana se dá de forma independente e solta das outras. Em entrevista à emissora BBC, de Londres, ele disse: “Absorvemos a música como faríamos com uma história que está sendo contada”. O professor de física, o filósofo, o pianista e tudo o mais que quiser ser na vida formarão, assim, um professor de física, um filósofo e um pianista muito melhores. E, ao que parece, ser uma pessoa melhor em vez de ser o melhor músico de todos os tempos é uma das mais fortes característica da nova geração do jazz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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