• Novo livro de C. Ronald

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  • 31/01/2020 12:48

    O novo livro de poesia do catarinense C. Ronald, Então esquece (Florianópolis: Bernúncia Editora, 2019), chama a atenção por dois motivos: um discurso em versos sem métrica obrigatória e o acúmulo de expressões que não raro podem tangenciar uma prosa bastante chã.

    Entretanto, o poeta soube evitar o prosaico sem problemas, e chega ao ponto de escrever um soneto rimado e metrificado: ‘Nascimento’, p. 102. Além disso, não abandona seu pessimismo já conhecido nas coletâneas anteriores, principalmente a partir de Nessa agonia (2014). Porém, o que o leitor pode ver aqui é, acima de tudo, o mesmo desconforto da vida, a expressão desanuviada de uma “vida ínfima para ser julgada.” (poema ‘Vista por ela mesma’, p. 32).

    Assim, embora o julgamento das misérias quotidianas não esteja exposto, o poeta sabe que a vida nos engana, que tudo o que vemos de certo modo é como nuvem que muda de aspecto a todo instante. Seja como for, num excepcional arroubo erótico, o poeta vê que a mulher (a sua, mas também qualquer uma), “estava nua. Eu a vi nua. mas a vestia / por ser minha. A mulher não sente o quanto / dá de si mesma para saber o que é ser uma. […] // Sentiu bem antes o dever de ser ainda / e descobriu-se sem forma ao conciliar a vida / com a razão  de muitas coisas perdidas.” (poema ‘Quanto da mulher’, p. 39).

    O resultado é que, desse modo, até mesmo no remanso de uma mulher brota o já comentado desconforto da vida, que o poeta sente envolvê-lo e a toda a humanidade. Não admira, pois “Tudo é resposta que se estende do fundo” (poema ‘Nada é o mesmo’, p. 71). E o poeta acrescenta: “Sinto-me mal ao ver o País como está” , afirma no início do poema  ‘Malditos’ (p. 113). Portanto, C. Ronald não tem ilusões quanto ao Brasil em que vive. E nem ignora que ainda estamos longe de uma redenção.

    Não obstante, no laço estritamente pessoal, familiar, não há dúvida de que existem compensações – veja-se o poema ‘Mariana’ (p. 119), onde o avô e a avó da criança se mostram “maravilhados pela tua graça’. Ainda bem: se aquele Então esquece  do título do livro, pode ser ilusório e enganador como a própria vida, contudo é certo que os leitores jamais esquecerão este notável e perturbador volume de C. Ronald. Recebemos e agradecemos: O trem itabirano, Itabira (MG), 169, novembro 2019 e 170, dezembro 2019.

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