Novo centro tecnológico no Quitandinha deve gerar 300 novos empregos diretos
A semana que passou foi um teste para os nervos dos investidores. Bolsas de valores do mundo caíram a níveis comparados à crise do subprime em 2008, originada nos Estados Unidos, e países começaram a diminuir sua produção por conta do coronavírus, causando um impacto direto nos negócios. Contudo, ao trazer essa realidade para Petrópolis, até o momento os planos para empregar recursos no bairro Quitandinha não foram modificados.
Mas afinal, por que o Quitandinha se torna o queridinho dos investidores? Um dos cartões-postais da Cidade Imperial vislumbra a possibilidade de virar um polo de negócios da Região Serrana. Só um empreendimento pode consumir R$ 40 milhões de reais em três anos, com uma boa previsão de geração de empregos diretos e indiretos, uma boa notícia para um país que já enfrentava problemas econômicos e ainda mais agora com o surto do coronavírus.
Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na última quarta-feira a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Segundo relatório do banco UBS setores como saúde e consumo prometem ser os mais impactados pela disseminação da coronavírus ao redor do mundo e o primeiro registro da doença no Brasil. Só que o otimismo em meio a essa maré permanece.
É claro que a maior ênfase está e deve ser em conter e mitigar a doença propriamente dita. No entanto, os impactos econômicos também são relevantes, e muitas empresas estão tentando entender, reagir e aprender as lições com o desenrolar dos fatos. Acontecimentos inesperados serão revelados a cada ciclo de notícias, e somente teremos uma visão total em retrospecto. Será um teste para empresários e comerciantes diante desse novo quadro.
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, existem hoje 269 negócios legais em Quitandinha, sendo uma das regiões petropolitanas mais importantes no contexto econômico do município. E é possível constatar a força das confecções de peças do vestuário e restaurantes, sendo que cada um aparecem no ranking divulgado pelo Poder Público, com 18 cada. Logo atrás aparecem as lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares, com 13 estabelecimentos registrados na Prefeitura.
Nos últimos anos, porém, Quitandinha testemunha uma virada na direção dos negócios. A região começou a olhar a diversificação de empreendimentos que já muda a cara do bucólico bairro. O bairro recebeu em 1998 o Laboratório Nacional de Computação Científica, um dos maiores do mundo e construído pela Atos em parceria com outras empresas. A Atos é uma das maiores multinacionais do mundo na área da informática do mundo, sendo de origem francesa.
No dia 12 de junho de 2019, um pontapé inicial foi dado para incrementar a área da tecnologia em Quitandinha, com a criação do Serratec, entidade que reúne empresários petropolitanos mais de Teresópolis e Nova Friburgo, onde planejam a criação de uma espécie de Vale do Silício nacional para desenvolver inovação, produtos e gerar empregos. Dados do Serratec apontam que, na região serrana, são mais de 170 empresas diretamente ligadas ao serviço de tecnologia, que empregam mais de três mil pessoas.
Só na Cidade Imperial constam 100 empresas, que empregam cerca de duas mil pessoas. Segundo dados da Prefeitura, o setor também fatura na cidade R$ 355 milhões anuais. O poder Público ainda estima que haverá um aumento para os próximos anos: crescimento de 6% no número de empresas até 2021 e 12% na contratação de mão de obra, mais 3.360 empregos na área. Para isso, um enorme empreendimento foi lançado neste ano e, em breve, as obras devem começar em um local muito próximo ao LNCC.
Para aproveitar esse crescimento, existe a previsão de abertura de novos negócios e o incremento dos que lá estão. Portanto, a diversificação de iniciativas que podem transformar Quitandinha em um novo polo de desenvolvimento e prosperidade. Para o economista Marcelo Scistowicz, essa realidade traz a diversificação da economia local e cria um impacto direto para Petrópolis, o que considera positivo como um todo. Além disso, ele ressalta a melhora da qualidade de vida daqueles moradores próximos onde acontecem o desenvolvimento econômico.
“O tema é interessantíssimo. A descentralização das cidades, não só de Petrópolis, é importante para a economia. Quando descentraliza, você ajuda diretamente a mobilidade urbana, e Petrópolis sofre com isso. As pessoas acabam tendo mais qualidade de vida e ajuda o trânsito. Ao mesmo tempo, você faz crescer áreas da cidade mais distantes do Centro Histórico, que isso gera mais comercio e serviços. Ou seja, cria uma economia própria. Portanto, essa descentralização tem muitos benefícios, criando uma economia própria”, explica o economista.
Empreendimentos prometem injetar milhões nos próximos anos
A despeito dos problemas econômicos e do coronavírus, o otimismo com o futuro do bairro que na década de 40 era um dos prediletos dos ricaços cariocas é enorme. A previsão de investimentos maior fica por conta da construção civil. A Engeprat será a líder na construção de um conjunto de prédios que servirão para receber novas empresas de tecnologia daqui a quatro anos. Isso tudo será erguido ao lado do LNCC, justamente para incrementar ainda mais o plano de transformar Petrópolis em uma região tecnologicamente inteligente.
A instalação do LNCC deu o pontapé inicial para o desenvolvimento do bairro. Foto: Bruno Avellar/Tribuna de Petrópolis
Em conversa ao telefone com a Tribuna, o empresário Luíz Fernando Gomes afirmou que o centro tecnológico pretendido vai ocupar 15 mil metros quadrados em um investimento que, segundo ele, terá a sua construção iniciada até o final do ano. Os valores envolvidos, de acordo com Luíz Fernando, será a ordem de R$ 40 milhões de reais em três a quatro anos, gerando 300 empregos diretos. O local vai abrigar as empresas é um espetáculo da arquitetura, que contará também com um hotel e centro de convenção. Ele explicou os motivos de injetar tanto capital no empreendimento num momento delicado.
“Quitandinha é uma área encantadora e tem todas as condições de acolher novos empreendimentos, principalmente na área da tecnologia. O objetivo é abrigar empresas de tecnologia, com direito a hotel e centro de convenções. A nossa expectativa é fazer um lançamento oficial do complexo em 60 dias e dar início às obras em dezembro, aproximadamente. Ali é próximo a entrada e saída de Petrópolis, tem bons negócios surgindo por ali, o LNCC e o Serratec, que está conosco nesse trabalho. Queremos trazer muitas empresas para cá. É a hora de nadar contra a maré e, principalmente, temos um governo hoje que está alinhado com o desenvolvimento da economia”, disse Luíz Fernando, que também é presidente do Mercoserra.
O presidente do Serratec, Marcelo Cariús, busca fortalecer relações entre governo e empresários para tornar o bairro referência em tecnologia. Foto: Divulgação
O presidente do Serratec, Marcelo Cariús, acredita na evolução do Quitandinha como um potencial centro tecnológico e vem trabalhando para que isto se fortaleça. Ele, que já teve um encontro com o Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para defender a inclusão de Petrópolis em um projeto de Inteligência Artificial proposto pelo Governo Federal, vê potencial de crescimento na região. E já dá um exemplo de sua crença: a sua empresa, Nekki, contratou 12 dos novos desenvolvedores que se formaram em um curso oferecido pela entidade que preside, e prevê até o final do ano outros 10 a serem adotados pela Nekki. Ao ser indagado sobre os efeitos negativos proporcionados pelo coronavírus na economia, até o momento não afeta o setor de tecnologia do município.
“Vejo como positiva as ações no Quitandinha. Estamos buscando fortalecer as relações com governos e empresários para que o bairro seja uma referência em tecnologia e negócios. Esse é um trabalho de ´oito mãos´, do setor produtivo e governo trabalhando juntos. O novo empreendimento ao lado do LNCC dará uma estrutura de primeiro mundo a quem deseja investir. Já a questão do coronavírus, até o momento não afeta os negócios”, comentou Cariús.
O bairro recebe a partir da próxima semana um novo supermercado, que vai gerar no total 200 novos empregos diretos. Imagem: Divulgação
Só que o charmoso bairro anteriormente popularmente apelidado de a “Copacabana da Serra” não se restringe aos negócios que envolvem a tecnologia. O setor produtivo da economia vai a reboque no sucesso da tecnologia. No mês que vem, um novo empreendimento será inaugurado: uma filial do Super Market vai ser mais uma opção para o bairro. O responsável pela iniciativa, Luciano Heringee, afirmou que serão contratadas 200 pessoas para trabalhar no local e, segundo ele, mais 400 indiretos. “Vamos preencher uma lacuna como prestador de serviços e atender aos clientes do bairro e de toda a cidade”, comemorou Luciano.
Ao ser indagado sobre a razão de se investir no Quitandinha, o empresário respondeu na ponta da língua. “É um bairro com muitas comunidades no entorno, a proximidade da BR-040 e com vários atrativos para nós. Não é um investimento barato, mas estou confiante que será um sucesso. Quitandinha merece isso”, disse Luciano. O Super Market existe há 16 anos e tem 110 estabelecimentos espalhados pelo país e a segunda em Petrópolis. Próxima dali, a academia Move está de olho no desenvolvimento da localidade e está de portas abertas para adquirir mais alunos.
O proprietário da academia Move, Luís Paulo Azevedo, acedita que a ligação Quitandinha-Bingen vai contribuir para o fomento de negócios no bairro. Foto: Bruno Avellar/Tribuna de Petrópolis
Um dos proprietários da academia, Luís Paulo Azevedo, montou seu negócio há quatro anos com a intenção de oferecer aos moradores de Quitandinha e arredores um trabalho de primeiro mundo em atividades físicas. Ele vê seu empreendimento crescer e vê com bons olhos o surgimento de novos alunos a partir dos investimentos feitos na localidade. “O Quitandinha é um bairro plano, ótimo para se construir empreendimentos. Eu acho que crescerá muito, aliás, já está crescendo e a gente vê isso aqui. Além disso, quando vier a ligação Quitandinha-Bingen vai aumentar o fluxo de pessoas circulando aqui e, consequentemente os negócios vão aumentar. Temos planos para ampliar a academia”, sentenciou Luís Paulo.